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Floresta

CELPA pede ao Governo linhas de financiamento para fornecedores do sector florestal 

Governo define apoio máximo de 3 M€ para o Fundo Florestal Permanente

A CELPA – Associação da Indústria Papeleira alertou o Governo para o impacto da pandemia da covid-19 no sector florestal, colocando em risco os fornecedores de prestação de serviços. A associação pediu, por isso, ao Governo para criar linhas de financiamento por forma a promover a atividade e requalificação destas empresas, incluindo na área da formação profissional, para que continuem a criar valor e emprego no sector florestal.

“O Governo deve desenvolver um mecanismo de apoio à recolha de sobrantes e florestais e de outra biomassa sem aproveitamento industrial. Já existem projetos, incluindo das empresas, mas será importante o Estado dar um sinal significativo nesta questão, também tendo em conta o potencial de uma medida destas na promoção da economia circular”, referiu Luís Veiga Martins, secretário-geral da CELPA, durante um seminário organizado pela associação no âmbito da Agroglobal.

 

Mostrando-se disponível para dialogar com o Executivo na busca de soluções de equilíbrio, e tendo em conta a grande fragmentação da propriedade florestal que existe em Portugal, o secretário-geral da CELPA afirmou também que considera importante “encontrar um incentivo para o registo de propriedades, utilizando as Organizações de Produtores Florestais, através do Balcão Único do Prédio”.

João Catarino, secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, lembrou que “Portugal é o país do mundo com mais área privada, há uma grande dificuldade em fazer floresta de conservação em terra privada. A floresta é importante para o mundo, mas não para o dono da terra”.

 

“Este é o princípio que está na base do programa de transformação da paisagem. Não conseguimos defender a floresta apenas olhando para a floresta, temos de olhar para o que a envolve. Ninguém coloca dinheiro hoje para lucrar daqui a 40 anos, mas é isso que se passa na floresta”, acrescentou.

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Outro dos intervenientes no seminário, Francisco Gomes da Silva, professor do Instituto Superior de Agronomia e antigo Ministro da Agricultura, considera que “nunca o setor florestal viveu um momento como este, de negociação. É um momento único em que a floresta está no ministério mais poderoso da República, o Ministério do Ambiente. Até aqui na segunda metade do ciclo a agricultura ‘roubava’ dinheiro à floresta, agora será o inverso”.

 

“O que é que faria? Pergunta de resposta difícil, pois já tive essa oportunidade política e, como se vê, falhei de forma mais ou menos flagrante. Mas apostava em instrumentos simples e muito específicos: um Programa específico para cada uma das principais fileiras florestais, com objetivos claros e com o envolvimento ativo das indústrias”, explica Gomes da Silva.

O antigo ministro da Agricultura quer também um “programa destinado ao Eucalipto, tal como para o Sobreiro e o Pinheiro Bravo, que desenvolveram propostas de Programas específicos, tal como para o Pinhal Manso. E desenhava um Programa específico para intervenção nos ‘territórios das espécies autóctones’. Mas realço, todos estes Programas, para terem sucesso, exigem a presença ativa dos agentes de ligação aos mercados – as indústrias e os prestadores de serviços –, porque sem eles a economia não chega ao território, e aos seus proprietários ou gestores. E sem economia não há solução”.

 

Miguel Freitas, professor da Universidade do Algarve e antigo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, destacou a importância “dos planos de paisagem olharem para floresta de proteção e para a floresta de produção. Só assim haverá rendimento para os produtores para que continuem a operar. É fundamental que seja garantida uma componente de 30% de floresta de produção nos projetos”.

Miguel Freitas defendeu ainda que “é preciso liderança colaborativa, mais do que modelos de gestão, são precisos modelos de governação territorial e tem de se passar de uma lógica de parceria a uma lógica de plataforma, com programas de longo alcance e liderança colaborativa da indústria. Nunca a floresta portuguesa teve uma oportunidade de ser financiada como agora, com um pacote de grande envergadura no programa de recuperação e resiliência e uma reforma da PAC mais verde. É preciso que as políticas públicas olhem para a integridade dos processos de desenvolvimento rural, percebam as dinâmicas demográficas e a sua relação com os sistemas ecológicos e produtivos, e incorporem as tendências de uma nova economia baseada no local”.