Exportar produtos alimentares para os países árabes não é fácil, implica muito conhecimento e rigor no cumprimento de requisitos, mas também não é desmotivador. As declarações são de Maria José Marques Pinto, da Direção Geral de Veterinária e Alimentação, que esteve esta semana a falar num painel dedicado à cooperação no setor agro com os países árabes, no âmbito do 3º Fórum Económico Portugal Países Árabes.
Esta responsável explicou aos presentes as principais especificações para exportar para estas geografias e apontou algumas dificuldades práticas em alguns países, como o desconhecimento de requisitos mas também da existência de outros “demasiado onerosos ou difíceis de cumprir”. E deu como exemplo o caso do Egipto, país que impõe a obrigatoriedade de assistir in loco à expedição de cada remessa de animais para exportação, quarentena incluída: “O que implica que uma equipa de técnicos egípcios tenha de vir a Portugal neste período de quarentena, que pode ir de 30 a 90 dias, tudo a cargo do exportador”…
Maria José Marques Pinto adiantou no entanto que há países, como Marrocos, que já têm um processo de aproximação legal que é muito semelhante às regras da União Europeia, para além, de ser um país com o qual foram assinados vários acordos de comércio: “Têm revelado transparência e celeridade nos protocolos de exportação e é fácil trabalhar com eles”, referiu.
Por isso, as conclusões não podiam ser mais animadoras quanto ao potencial para oportunidades de negócio: “Existe um mercado de 400 milhões de consumidores, com uma relativa proximidade geográfica e com muitas parcerias comerciais estabelecidas. Há oportunidades que deveriam ser mais exploradas, até porque temos assistido a uma aproximação dos Emiratos Árabes Unidos às regras da União Europeia”, concluiu.
A participar neste painel esteve também Jorge Henriques, presidente da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), que revelou que este é um período desafiante para o setor e que as empresas têm de estar preparadas para objetivos mobilizadores no que diz respeito à presença nos países árabes. O presidente da FIPA elencou uma série de prioridades que passam por identificar o papel que as empresas devem ter em cada mercado, de forma a fazer a melhor seleção e definir o portefólio das marcas para esse objetivo. Jorge Henriques falou ainda da necessidade de potenciar novos canais digitais, que permitem abrir mercados em múltiplas localizações. O grande desafio, para Jorge Henriques, é criar condições locais para uma cultura de proximidade. E lembrou a forte influência da cultura árabe na gastronomia portuguesa, de que são exemplos “a açorda, as migas e os ensopados”. A finalizar a sua intervenção, citou o Banco Mundial para lembrar que “são necessários apenas 15 dias para estabelecer um novo negócio com os Emiratos Árabes Unidos”.
José Pedro Salema, presidente da EDIA, fez a apresentação das potencialidades da barragem de Alqueva e reforçou a ideia de que é possível irrigar 170.000 hectares sem qualquer restrição durante 4 anos. Partilhou também o interesse que está a receber de grupo de todo o mundo em investir nesta zona: “espanhóis, chilenos e norte-americanos estão à procura de terra, em especial para frutos secos, para produzir amêndoas e nozes em Alqueva”, referiu.