O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou nas Previsões Agrícolas – Julho de 2023 que a colheita de cereais de outono/inverno durante a campanha 2022/23 “foi a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas, resultado dos decréscimos de área e de produtividade”.
Segundo explicado, os cereais semeados tardiamente após as chuvas de dezembro e janeiro foram muito penalizados, com emergências e desenvolvimento vegetativos fracos.
“A ausência de precipitação na primavera e as elevadas temperaturas prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce”.
O INE alerta que os produtores de cereais de sequeiro que se candidatam no âmbito do PEPAC aos pagamentos associados poderão, na sua maioria, não ser elegíveis, em virtude de não cumprirem as produtividades mínimas exigidas no âmbito da medida.
Os cereais não são a única cultura que foi/está a ser afetada pelas condições atmosféricas, com a produção de matéria verde para o pastoreio, a produção de pera, maçã, cereja e batata de sequeiro a sofrerem perdas. Mas o panorama geral também é de boas campanhas na vindima, batata de regadio, entre outros.
As perdas nas outras culturas
A seca levou a uma produção forrageira (natural, melhorada ou semeada) muito escassa e inferior à do ano anterior, no sul do País. Tal resultou numa antecipação da suplementação dos efetivos pecuários em regime extensivo com alimentos conservados.
“Por consequência das escassas reservas destes alimentos nas explorações, resultado das baixas produções dos dois últimos anos, aumentaram a procura de fenos, fenossilagens, silagens e palhas num cenário de escassa oferta (interna e externa), levando ao consequente aumento dos preços (já inflacionados pela subida dos custos de produção), com registos frequentes de duplicação face a 2022”, informa o INE.
Já no tomate, a produtividade, embora superior à alcançada na campanha anterior (+5%), deverá ser inferior à da média do último quinquénio (-4%). Tal resultou da onda de calor de junho que provocou algum aborto na floração.
No caso da maçã e da pera, a produção desceu pelo segundo ano consecutivo. Globalmente prevê-se um decréscimo de maçã de 15% face a 2022 e 20% face à média do último quinquénio. As pereiras terão um decréscimo da produção de 10%, resultado principalmente da quebra esperada no Alto Oeste (-20%).
A produção de batata de sequeiro decresceu para níveis historicamente baixos, com uma quebra global de 15% face a 2022 e de 32% face à média do último quinquénio.

Finalmente, a produção de cereja muito afetada pelas condições meteorológicas adversas. Confirmam-se quebras de 55%, face a 2022.
As boas notícias
Os pomares de pessegueiros vão ter produtividades a rondar as dez toneladas por hectare. Apesar da seca e das elevadas temperaturas, a produtividade está próxima da normal (-6%, face à média do último quinquénio).
No caso da amêndoa, a produção vai aumentar 15%, marcando o crescimento pelo terceiro ano consecutivo.
A área de milho de regadio deverá ser semelhante à semeada em 2022, encontrando-se a cultura maioritariamente no estado de enchimento de grão. Não se têm registado dificuldades no abastecimento de água de rega, sendo a frequência das regas a norte do Tejo inferior à do ano anterior (em particular no Entre Douro e Minho).
Nos arrozais, a precipitação acumulada entre outubro e dezembro de 2022 permitiu a reposição das reservas hídricas dos aproveitamentos hidroagrícolas onde se cultiva arroz (exceto no Mira e Alto Sado), prevendo-se um aumento de 5% na produtividade, face a 2022.
Prevê-se ainda um ano normal para a batata de regadio. No Norte e Centro, as condições meteorológicas favoreceram o desenvolvimento da batata de regadio. Na Península de Setúbal, a produtividade da batata de consumo foi idêntica à da campanha anterior, sendo que na batata para a indústria foi superior, estimando-se um acréscimo global na ordem de 5%, o que corresponde a um ano normal (+1% face à média do último quinquénio).
Finalmente, na vindima preveem-se aumentos de produtividade em todas as regiões (exceto no Dão, que deverá manter a alcançada no ano anterior), devendo o rendimento unitário global atingir os 42 hectolitros/hectare (+8%, face à vindima de 2022). Na uva de mesa, prevê-se um aumento de 10% na produtividade, face a 2022.