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Economia

Catástrofes causaram perdas agrícolas de 3,8 biliões de dólares nos últimos 30 anos

Catástrofes causaram perdas agrícolas de 3,8 biliões de dólares nos últimos 30 anos

A FAO lançou a primeira estimativa global dos impactos das catástrofes naturais na agricultura, sendo que o impacto estimado é de 3,8 biliões de dólares (3,6 biliões de euros), mais que o produto interno bruto (PIB) da Índia em 2022 (3,38 biliões de euros).

Entre 1991 e 2021, as perdas correspondem a uma média de 123 mil milhões de dólares (117 mil milhões de euros) por ano. Para efeitos de comparação, é quase metade do PIB português em 2022 (242,3 mil milhões de euros) e cerca de 34 vezes o valor do PIB agrícola português em 2022 (cerca de 3,37 mil milhões de euros – números provisórios).

 

O relatório só teve em conta o impacto nas colheitas e na pecuária, sendo que os valores poderiam ser mais altos se estivessem disponíveis dados sistemáticos sobre perdas nos subsetores das pescas, aquicultura e silvicultura.

A Europa foi a terceira região mundial, onde as perdas foram maiores (17% do total), num valor de 659 mil milhões de euros. Analisando por sub-região, o Sul da Europa (onde se inclui Portugal) foi a sétima com maiores perdas em percentagem de PIB agrícola (cerca de 8%).

 

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“A agricultura é um dos setores mais expostos e vulneráveis no contexto do risco de desastres, dada a sua profunda dependência dos recursos naturais e das condições climáticas. Desastres recorrentes têm o potencial de corroer os ganhos em segurança alimentar e minar a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares”, escreveu o diretor-geral da FAO, QU Dongyu, no prefácio do relatório.

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Os desastres afetaram desproporcionalmente os países, com as perdas a atingirem até 15% do PIB agrícola total dos países de rendimento médio inferior e de baixo rendimento. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento registaram uma perda de quase 7% do seu PIB agrícola.

Os produtos agrícolas que registaram maiores perdas foram:

  • Cereais – média de 69 milhões de toneladas por ano, o equivalente a toda a produção de cereais franceses em 2021;
  • Frutas, vegetais e açúcar – cada um com perdas médias de 40 milhões de toneladas por ano. Para as frutas e vegetais, as perdas equivalem a toda a produção destes produtos agrícolas no Japão e no Vietname em 2021;
  • Carne, lacticínios e ovos – perdas médias de 16 milhões de toneladas por ano, equivalente a toda a produção destes produtos no México e na Índia em 2021.
 

O número de catástrofes aumentou de cerca de 100 por ano na década de 1970 para cerca de 400 por ano. O relatório aponta que “não só os eventos de catástrofes estão a aumentar em frequência, intensidade e complexidade, como também se espera que o seu impacto se agrave, uma vez que as catástrofes induzidas pelo clima amplificam as vulnerabilidades sociais e ecológicas existentes”.

O estudo indica que a adoção de boas práticas para a redução de desastres naturais ao nível das explorações agrícolas pode levar a um desempenho em média 2,2 vezes melhor do que as práticas aplicadas anteriormente. Por cada dólar investido em práticas de prevenção, as explorações podem ganhar até 7 dólares em benefícios e evitar perdas agrícolas.

O relatório define três prioridades de ação fundamentais:

  • melhorar os dados e a informação sobre os impactos das catástrofes em todos os subsectores da agricultura – culturas, pecuária, pescas e aquicultura e silvicultura;
  • desenvolver e integrar abordagens multissectoriais e multirriscos de redução dos riscos de catástrofes nas políticas e na programação a todos os níveis;
  • e reforçar os investimentos em resiliência que proporcionem benefícios na redução do risco de catástrofes na agricultura e na melhoria da produção agrícola e dos meios de subsistência.