Alimentar uma população mundial que não pára de crescer “é o desafio” para a próxima década. Quem o diz é Steve Hoffman, que esta quinta-feira (8 de outubro) encetou as jornadas dedicadas à agricultura na Silicon Valley Web Conference, um dos maiores eventos online de inovação, tecnologia e transformação digital.
Numa sessão dedicada ao tema “O futuro da agricultura: como a tecnologia está a mudar a forma como cultivamos alimentos”, Steve Hoffman, presidente e CEO da Founders Space, uma aceleradora e incubadora de startups de Silicon Valley, nos EUA, e autor da obra Make Elephants Fly, apresentou um conjunto de tecnologias que estão a chegar ao mercado e que terão “um enorme impacto no setor da agricultura”, revelando que a agricultura de precisão será, em breve, uma das indústrias mais valiosas do mundo, esperando-se que atinja, em 2050, um valor de mercado de cerca de 240 mil milhões de dólares.
“Este será um mercado enorme e é muito importante porque atualmente a população mundial continua a aumentar e em 2050 deveremos ter uma população mundial de 10 mil milhões de pessoas e até algumas pessoas em Marte, se o Elon Musk for bem-sucedido [risos]. Para alimentarmos esses 10 mil milhões de pessoas no planeta Terra vamos ter de duplicar a produção alimentar. E é precisamente aí que a tecnologia terá o seu maior impacto. Uma das tecnologias que já vemos nos campos é a robótica, nomeadamente robôs que são usados nas explorações para monitorizar o gado e as condições climatéricas e que comunicam com outros dispositivos para ajudar os agricultores a tomar decisões”, começou por contar.
Vacas com capacetes de Realidade Virtual
De acordo com Steve Hoffman, na produção leiteira, em particular, “a utilização de robôs pode ajudar os produtores a reduzir os custos de produção em cerca de 50%” e com a evolução da tecnologia “em breve não serão precisas pessoas para o maneio dos animais”.
Exemplo disso são os bots de leite, pequenos robôs autónomos movidos a energia solar que identificam cada animal da exploração, individualmente, através de etiquetas eletrónicas, e que contam com um braço mecânico para ordenha, equipamento para limpar as tetas, um display computadorizado e sensores para localização das tetas e monitorização da saúde dos animais e de informações essenciais como a quantidade e a qualidade do leite produzido por cada animal, quantas vezes se alimentou, número de passos que deu por dia e o tempo de duração da ordenha.
Outra das tecnologias que já está a ser utilizada na agricultura e na pecuária é a Realidade Virtual (RV). Segundo Steve Hoffman, na Rússia há uma exploração de bovinos que criou capacetes com RV que mostram imagens aos animais com o objetivo de os ajudar a serem mais produtivos.
De acordo com os responsáveis pela experiência, a expectativa é de que estas imagens ajudem a reduzir a ansiedade e, em consequência, melhorar a produção de leite. Criada por arquitetos de Realidade Virtual, a simulação “baseia-se em numerosos estudos que mostram que as vacas são melhores a perceber tons de vermelho do que os verdes e azuis no espectro cromático” e já provou que “a disposição emocional geral da manada ficou mais positiva”, com uma redução mensurável de ansiedade.

A provar-se também a eficácia desta tecnologia num aumento da produção de leite, Steve Hoffman diz que veremos muito em breve vacas nos pastos com capacetes de Realidade Virtual e os produtores poderão contar com uma redução dos custos associados à saúde animal já que “vacas felizes produzem mais”.
O especialista em tecnologia sublinhou também a importância dos drones que ajudam a estimar a produtividade de determinada colheita, a detetar pragas ou doenças e que permitem ao produtor aplicar fitofármacos com maior precisão, e os avanços que se estão a fazer em matéria de modificação genética de algumas pragas que afetam as culturas agrícolas um pouco por todo o mundo.
Abelhas robóticas podem ser o futuro
Uma das grandes novidades que está já a caminho da indústria agrícola são os microrobots, robôs que podem ser tão pequenos como uma moeda de um cêntimo e que estão a ser desenhados para substituir as abelhas polinizadoras cujas colónias estão em queda drástica um pouco por todo o mundo, ameaçando os ecossistemas e a biodiversidade.
Mas a indústria tecnológica tem uma solução e espera que com cerca de 10 mil microrobots a voar sobre uma exploração seja possível continuar a polinizar as plantas mesmo que as abelhas desapareçam. Outra das utilizações que está a ser estudada para estes pequenos robôs é a capacidade de examinar a raiz das plantas para prevenir o ataque de pragas e antecipar o seu combate.
“O objetivo no futuro é automatizar por completo as explorações agrícolas para que não sejam precisos humanos até porque cada vez menos pessoas querem trabalhar na agricultura. A Harper Adams University já está a experimentar isto e criou uma exploração totalmente autónoma que faz tudo sem mão humana, desde a plantação à colheita. A automatização das explorações traz múltiplas vantagens, nomeadamente uma redução brutal de custos. É para aí que caminhamos”, concluiu Steve Hoffman.
A Silicon Valley Web Conference continuará a debater ao longo de todo o mês de outubro a inovação tecnológica em sectores de atividade como o Turismo, Saúde, Construção e Imobiliário, Cultura, Educação, Justiça, Finanças, Transportes e Mobilidade e a VIDA RURAL marcará presença para lhe dar conta de como o setor tecnológico está a ajudar a desenhar o futuro da agricultura.