O cultivo em estufa está a aumentar rapidamente, de acordo com um novo estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, que monitoriza a extensão global das estufas.
Segundo a análise, a maioria do crescimento deste tipo de produção está a acontecer fora da Europa, registando uma maior prevalência em países de baixo e médio rendimento no Sul do planeta.
Através de uma combinação de algoritmos e as mais recentes fontes de imagem de satélite, os investigadores monitorizaram a quantidade de terreno utilizado para a agricultura protegida a nível global. O mapeamento mostrou que o cultivo em estufa cobre cerca de 1,3 milhões de hectares da superfície da Terra. De acordo com a análise, este número é quase três vezes maior do que as estimativas anteriores.
O estudo também verificou que a produção em estufa está presente em 119 países, dos quais a China é responsável por 60,4% da área total. Espanha e Itália ocupam o segundo e terceiro lugar, com 5,6% e 4,1%, respetivamente.
Enquanto grandes aglomerados de estufas no Norte do planeta foram estabelecidos nas décadas de 70 e 80, duas décadas depois, começaram a surgir a Sul.
“Embora tenha havido alguma estagnação em território no Norte do planeta, a trajetória de crescimento continua na Ásia, África e Américas Central e do Sul. De facto, as estufas a Sul do globo representam 2,7 vezes mais área do que as do Norte”, frisam os investigadores.
De acordo com Xiaoye Tong, primeira autora do artigo científico publicado na Nature Food, “o cultivo em estufa tornou-se um fenómeno global e tudo indica que vai continuar a expandir-se. O crescimento deste tipo de cultivo está a aumentar rapidamente e detetámos grandes lacunas no que toca à dinâmica que está a impulsionar este fenómeno”.
Para os investigadores, o domínio da China em termos de agricultura protegida estará ligado ao desenvolvimento socioeconómico do país. O estudo concluiu que os grandes aglomerados de estufas estão localizados perto de áreas metropolitanas.
“O boom na China parece estar intimamente ligado ao seu forte desempenho económico na última década e ao aumento de uma população urbana com poder de compra que procura tomates, pepinos e outro tipo de frutas e vegetais frescos. Ao mesmo tempo, os agricultores que, de outra forma, seriam incapazes de financiar essa forma de cultivo recebem subsídios e apoio do governo para construir estufas e aprender técnicas de cultivo”, explica a primeira autora do estudo.
A análise da Universidade de Copenhague também concluiu que o apoio dos governos aos produtores agrícolas em estufa não existe apenas na China, tendo sido detetado em regiões áridas que tradicionalmente não foram cultivadas ou registaram uma agricultura intensiva anteriormente.
“De facto, metade de todas as áreas com produção em estufa está localizada em regiões com grandes limitações de recursos, como a escassez de água”, adiantam os investigadores, que apontam para este tipo de cultivo como oportunidades para garantir a segurança alimentar local e o alívio da pobreza no sul do planeta.
“Sabemos muito pouco sobre as consequências ambientais e sociais do cultivo em estufa no sul do planeta, mas sabemos que podem incluir a superexploração dos recursos hídricos, o alto consumo de energia, a contaminação das águas subterrâneas com pesticidas e fertilizantes, a degradação dos solos e a poluição a nível de plástico proveniente do material das próprias estufas. Além disso, as condições de trabalho agrícola têm sido frequentemente criticadas”, adianta Xiaoye Tong.
Neste sentido, os investigadores acreditam que a regulação política do setor precisa de ser considerada, assim como defende a necessidade de mais estudos sobre a importância da produção em estufa para os países no sul do planeta.
O estudo identificou os dez países responsáveis pelas maiores parcelas de agricultura protegida: China (60,4%), Espanha (5,6%), Itália (4,1%), México (3,3%), Turquia (2,4%), Marrocos (2,3%), Coreia do Sul (1,8%), Japão (1,7%), Países Baixos (1,4%) e França (1,3%).