O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou na edição de 2022 das “Estatísticas Agrícolas” que o rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano (UTA), registou um decréscimo de 11,7%.
A queda é explicada pela diminuição do valor da produção, em termos nominais, que baixou 8,7%, e de um acréscimo dos subsídios à produção (+3,8%). O valor da produção resultou de um aumento do consumo intermédio (encargos com sementes, fertilizantes, eletricidade, combustíveis, água, entre outros) em 23,7%. Esse aumento foi superior ao aumento da produção, que cresceu 11,7%.
Em termos reais (ajustada à inflação), observou-se um decréscimo menos acentuado do valor da produção (-5,8%), refletindo as reduções em volume da produção (-5,6%) e do consumo intermédio (-5,5%).
O relatório do INE destaca ainda que o índice de preços de produção dos bens agrícolas aumentou 20,5%. Este crescimento deveu-se às evoluções de 14,9% no índice de preços da produção vegetal e de 29,6% no índice de preços da produção animal. O índice de preços dos bens e serviços de consumo corrente na agricultura registou uma variação de 30% e o índice de preços dos bens e serviços de investimento da atividade agrícola uma evolução de 10,7%.
2022 foi quente e teve as melhores e piores campanhas de sempre
O ano agrícola 2021/2022 em Portugal continental caraterizou-se em termos meteorológicos como extremamente quente (o mais quente desde 1931/32) e muito seco.
A campanha de cereais de inverno de 2022 foi a pior de sempre, tendo sido inclusivamente inferior à produção da campanha de 2012, coincidindo as piores campanhas cerealíferas com as secas mais graves.
A produção de maçã decresceu 20,9%, relativamente ao ano passado que, recorde-se, foi a segunda colheita mais produtiva dos últimos 35 anos. A colheita da pera concluiu-se com quebras de produção de 41,3%, relativamente à campanha anterior, devido às condições meteorológicas adversas e à estenfiliose.
Na Cova da Beira a queda de cerejas foi inferior ao esperado e a colheita decorreu em boas condições, o que contribuiu para uma produção ligeiramente superior à alcançada na campanha passada (+3,1%), sendo a mais produtiva de sempre.
Na laranja, o aumento de produção, quer nas variedades temporãs, quer nas tardias, contribuiu para a melhor campanha de sempre, 4,0% acima da produção registada em 2021.
O défice da balança comercial dos “Produtos agrícolas e agroalimentares” (exceto bebidas) atingiu 5 222,8 milhões de euros em 2022, um agravamento de 1 374,5 milhões de euros face ao ano anterior.
Comparações face às campanhas anteriores:
- Arroz – diminuição de 11,6%;
- Tomate – decresceu 19,7%;
- Amêndoa – aumentou 11,5%, sendo a mais produtiva dos últimos 30 anos;
- Castanha – diminuiu 39,9%, tendo sido mesmo a campanha com menor produtividade dos últimos 37 anos;
- Vinha – inferior em 7,3%;
- Azeite – diminuição de 39,8% face à campanha de 2021;
- Carne de reses (bovinos, suínos, ovinos, caprinos e equídeos) – teve uma descida de 1,6%;
- Carne de animais de capoeira (galináceos, perus e patos) – cresceu 2,9%;
- Leite – menos 3,3%;
Grau de aprovisionamento
Em 2022, o mercado interno contribuiu com 78,2% da quantidade de carne necessária para satisfazer as necessidades nacionais de consumo (81% em 2021). Já o grau de autoaprovisionamento para o conjunto dos produtos lácteos (leite e derivados) em 2022 foi 93%, que compara com 95,9% em 2021.
Na campanha 2021/2022, o grau de autoaprovisionamento dos cereais (exceto arroz) foi 20,1% (+0,9 pontos percentuais face à campanha anterior), tendo-se registado um acréscimo na produção de grão (+3,4%) e um decréscimo nas importações (-1,5%), relativamente a 2020/2021. Portugal manteve um grau de autoaprovisionamento excedentário em leite para consumo público, vinho, azeite e arroz.
Ambiente
Em 2021, foram vendidas 9,6 mil toneladas de produtos fitofarmacêuticos, o que reflete uma redução de 1,3% face a 2020. Para este decréscimo contribuiu a diminuição das vendas de enxofre (-11,2%), principal substância ativa comercializada em Portugal (35,7% do total).
Em 2022, o balanço bruto do azoto no solo foi 122 mil toneladas (143 mil toneladas de azoto em 2021), resultado de um decréscimo da incorporação de azoto no solo (-40 mil toneladas de azoto), mais acentuado do que a diminuição do azoto removido pelas culturas (-19,1 mil toneladas).
Em 2021, a atividade agrícola foi responsável por 52,5 Gg de emissões de amoníaco, equivalente a 13,2 kg de emissões de NH3 por hectare de superfície agrícola utilizada (13,3 kg de emissões de NH3 por hectare em 2020). Relativamente a 2020, as emissões de amoníaco por hectare de superfície agrícola diminuíram 0,7%.
A atividade agrícola, no ano de 2021, foi responsável por 7,3 milhões de toneladas de emissões de GEE (eq. CO2), o que corresponde a 1,8 toneladas de emissões de GEE (eq. CO2) por hectare de superfície agrícola utilizada (redução de 0,5% face a 2020). O consumo direto de energia da atividade agrícola atingiu 17,6 milhões de Gj em 2021, o que traduz um crescimento de 3,0% relativamente a 2020.