A globalização e as alterações climáticas estão a deslocalizar a distribuição geográfica de pragas e doenças de plantas, levando ao seu aparecimento em áreas onde antes eram inexistentes. Esta mudança é uma ameaça para a agricultura, com graves consequências para a produção de alimentos para consumo animal e humano, para os ecossistemas naturais e para a biodiversidade. Os seus efeitos já se fazem sentir ao longo da última década na União Europeia (UE).
Alguns países da UE foram confrontados com vários surtos em larga escala de novas pragas e agentes patogénicos de plantas, entre as quais a bactéria Xylella fastidiosa. Conhecido desde o início do século passado, este agente patogénico esteve confinado durante muitos anos ao continente americano, onde se tem revelado um grande problema, sobretudo em citrinos (Citrus spp.) e em vinha (Vitis vinifera). No entanto, existem muitas outras espécies de plantas hospedeiras da Xylella, contando-se mais de 500 em todo o mundo (EFSA, 2019).
Na Europa, o primeiro caso de infeção por Xylella foi comprovado em 2013, com o aparecimento de sintomas de queima de folhas em oliveiras, oleandros e amendoeiras na região de Apúlia, no sul da Itália (Saponari et al., 2013). Desde então, a bactéria tem vindo a espalhar-se pela Europa (Bosso et al., 2016; Denancé et al., 2017; Olmo et al., 2017; Saponari et al., 2019), tendo chegado a Portugal em 2019. Data desse ano o primeiro caso oficialmente confirmado no País em plantas de alfazema (Lavandula spp.), em Vila Nova de Gaia. Em abril de 2020, a DGAV – Direção-Geral de Alimentação e Veterinária– divulgou (em ofício circular n.º 11/2020) que a Xylella já é encontrada em 14 novas espécies de plantas, em 33 freguesias de seis concelhos (Espinho, Matosinhos, Porto, Gondomar, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia). Face ao mapa da distribuição da Xylella, a UE reclassificou-a como um organismo de quarentena e praga prioritária, para o qual são esperados os mais graves impactos económicos, ambientais e sociais (Sánchez et al., 2019).
De acordo com o último relatório do Centro Comum de Pesquisa da Comissão Europeia (JRC), a disseminação total da Xylella poderá custar anualmente à UE cerca de 5,5 mil milhões de euros em perdas na produção e 0,7 mil milhões de euros em exportação.
Quanto ao emprego, as previsões apontam para uma redução de 300 mil postos de trabalho em atividades relacionadas com a produção de azeitonas, citrinos, amêndoas e uvas (Sánchez et al., 2019). Em Portugal, as perdas, no caso de a doença se estender aos olivais do País, poderão ascender aos 105 milhões de euros anuais, numa perspetiva conservadora.