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Entrevista: Investir para deixar valor em Portugal

Entrevista: Investir para deixar valor em Portugal

A propósito da recente criação de uma SGPS para investir em empresas no setor primário e secundário, falámos com o líder do Edge Group, José Luís Pinto Basto, que se juntou ao empresário Pedro de Almeida na Edge Admar SGPS.

Acaba de criar uma SGPS para apoiar o setor primário. Qual é o objetivo?

Pensamos que onde a economia está a precisar de mais investimento é, de facto, na recuperação dos setores primário e secundário, que foram negligenciados durante muitos anos erradamente, devido a políticas económicas erradas do nosso país. Tivemos pouca visão no momento da entrada na União Europeia, fomos excessivamente, permissivos. Claro que isto de fazer prognósticos depois do jogo é muito fácil, mas vendemos barato questões que eram estruturais para a nossa economia. São setores onde é criado valor em qualquer economia, o setor extrativo e o setor da transformação. Porque os serviços para o mercado interno não criam valor, com exceção do turismo, que é um setor de serviços de exportação, as atividades que se desenvolveram não criaram valor. E queremos voltar a dar atenção a estes setores, e de preferência integrados, esse é o nosso posicionamento. O que faz sentido é ir às indústrias extrativas, desde a agricultura, a pesca, a economia do mar em geral, está tudo por desenvolver neste país e é talvez a nossa principal vocação.

Vivemos de costas para o mar e apesar de termos a maior ZEE da Europa isto reflete-se apenas em 2,5% do PIB, alguma coisa está mal. Está tudo por fazer e é por aqui que vão passar as oportunidades nos próximos anos.

Já tem projetos concretos e áreas prioritárias?

Estamos a falar de capital de risco, ou seja, não somos os empreendedores, mas procuramos projetos já existentes, de preferência projetos tenham sido bem-sucedidos e com capacidade. No fundo queremos ser um agente de aceleração e de capacitação da componente de gestão. Gostamos de participar nos nossos investimentos, não enviamos dinheiro e uma vez por mês vamos à reunião do Conselho de Administração, não, gostamos de acompanhar por perto. Temos de nos juntar a quem sabe do negócio…

Muitas vezes são áreas onde há um défice grande de capacidade de gestão…

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Sim, sim, com pouca organização, estratégia e controlo financeiro, e é essa componente que também queremos trazer. Não sendo especialistas no negócio em si, temos bastante experiência na área de gestão de projeto, de planeamento financeiro, de negociação de financiamento, etc…

Mas qual é a estratégia? Ir ter com as empresas, esperar que elas venham ter convosco? Há áreas core?

As duas coisas. A essência deste projeto é olhar para o país e tentar identificar aquelas que são as áreas de competitividade únicas no nosso país. Quais são as vantagens competitivas? Quando pensamos nisto obviamente que salta a economia do mar, que é uma economia muito informal, com pouca capacidade de gestão, aquilo que está a ser feito está a deixar pouco valor em Portugal. E veja, pesca-se e vende-se em bruto para o exterior sem deixar valor em Portugal, a preços ridículos, quando com algum trabalho em cima desse pescado seria o suficiente, e não era necessária uma grande sofisticação… Por exemplo o atum, basta fazer uns cortes e tirar o sangue para poder vender para sushi por oito vezes mais. Não estarmos a fazer isto é criminoso, estamos a vender recursos naturais baratos e alguém está a criar esse valor. Não vale a pena fazer coisas em que não somos competitivos, temos de ver onde estão os nossos recursos. Na aquacultura, por exemplo, conseguimos produzir ostras no Estuário do Sado em oito meses, ostras que os franceses demoram dois anos a produzir… não tirar partido disso é criminoso. Tem de existir investimento e estratégia.

E na agricultura?

Na agricultura temos de explorar os nichos, não sou especialista mas é quase evidente que não temos capacidade para investir na agricultura de grande escala, temos problemas de contexto, logísticos, periféricos, etc. Temos de nos especializar em nichos, porque temos capacidade para produzir alguns produtos antes de outros países, não nos podemos dar ao luxo de não aproveitar as oportunidades. O aspeto positivo desta crise é obrigar-nos a criar um tecido económico muito mais sustentável e realista. A nossa intenção não é fazer aquisições mas juntarmo-nos a quem já está no terreno.