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Hortofrutícolas

Romanesco é sucesso na distribuição moderna

couve romanesca

Há quem goste fazer sempre o mesmo, contando com certezas, enquanto outros arriscam em novos produtos, donde podem tirar vantagens de preço e de escoamento. João Veloso largou as vinhas, há 18 anos, para se dedicar ao negócio das abóboras, substituindo o sogro na NLS (Nuno Leal e Silva). Este agricultor da Lourinhã especializou-se em brássicas e trouxe a couve-romanesca, uma hortícola que está a ter grande aceitação na distribuição moderna e da qual é dos raros produtores nacionais. Por enquanto.

A couve-romanesca – ou romanesco – é um híbrido de brócolos e de couve-flor. As inflorescências espiraladas, de verde-claro, divergem dos progenitores quanto ao formato. O sabor também não se lhes aparenta. A novidade no mercado português dá-lhe estatuto de iguaria e o negócio tem tido boa aceitação na distribuição moderna.

Na empresa Nuno Leal e Silva são cultivadas cerca de 20 hortícolas diferentes, mas porque vende produtos embalados também compra alho e feijão-verde a agricultores cujas explorações estejam certificadas com o padrão Globalgap.

João Veloso gere cerca de 100 hectares, onde cultiva principalmente várias brássicas e abóboras. O centro produtivo fica na Lourinhã, onde explora 90 hectares, dos quais 60 hectares são próprios. Em Rio Maior tem arrendados 10 hectares.

João Veloso fatura perto de 3,5 milhões de euros em brássicas

João Veloso fatura perto de 3,5 milhões de euros em brássicas

Os solos que explora na Lourinhã são essencialmente francoargilosos. Em Rio Maior há maior fatia de chão arenoso. O problema da terra no Oeste é ser fraca em matéria orgânica, pelo que as culturas são adubadas durante todo o ciclo; inicialmente com “7-21-21” (7% de azoto, 21% de fósforo e 21% de potássio) e depois com “20-20-20” (azoto, fósforo e potássio).

As brássicas são exigentes em consumo de água, um problema que não preocupa João Veloso. A empresa dispõe de furos artesianos e de uma charca onde recolhe a água de veios naturais. Este agricultor salienta que essa água recolhida acaba por voltar ao curso natural.

Quanto a dados concretos de consumo de água, João Veloso não tem, até porque depende “de São Pedro”. Utiliza dois sistemas: gota a gota e, principalmente, rega por microaspersão, mais parcimoniosa na distribuição da água.

Romanesco gosta de calor

Este agricultor tenta ter trabalhos permanentes no campo, gerindo com atenção os inícios dos trabalhos e os das colheitas. Ponto crítico: as brássicas não apreciam os dias frios e as que conseguem medrar apresentam normalmente sinais desagradáveis aos olhos dos consumidores.

A rede de hipermercados Continente é responsável pela maior fatia de negócio, comprando-lhe mais de 3 000 000 euros em 2014. A exportação representou cerca de 414 500 euros. Até agora, as plantas “feias” ficam na terra ou servem a alimentação animal. Todavia, João Veloso pondera a venda desses vegetais, sem valor na distribuição moderna, em locais de nicho – todas as características estão presentes, existe apenas um problema estético.

O frio tinge as brássicas com tons arroxeados, sendo que a couve-romanesca é muito sensível, alterando também um pouco o formato e as espirais das inflorescências. Apesar de querer ter trabalhos todo o ano, é quando o calor surge que se conseguem melhores resultados. “A couve-romanesca é melhor de verão, não suporta muito o frio. As outras são todo o ano”.

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A ideia de cultivar couve-romanesca foi um desafio que João Veloso colocou aos responsáveis do Clube de Produtores do Continente, de que é membro desde a sua fundação, em 1998. A ligação é muito mais antiga, desde a formação da NLS, em 1974. O sogro abastecia a única loja da Sonae na época, o supermercado Modelo em Entrecampos, Lisboa. Atualmente a NLS emprega 47 pessoas, desde o campo até à central de embalamento e expedição.

João Veloso salienta que ambas as vertentes trazem desafios. Foi o caso dos produtos preparados, que veio em sentido inverso. Afirma que o convencimento, quanto às couves-romanescas, não foi imediato, mas que a aposta correu bem.

O primeiro produto com valor acrescentado foi o de abóbora fatiada, em 2011. Em novembro de 2013, a pedido da Sonae, João Veloso começou a embalar sopas ‘prontas’, bastando juntar um litro de água e azeite e sal, a gosto, e levar ao lume durante 20 minutos. Cada produto foi experimentado, através do trabalho de um chefe de cozinha ‘conhecido’, e dado a provar, em testes de consumidores.

Certos das receitas, avançaram primeiro cinco sopas: espinafres, agrião, lombardo, creme rico de legumes e creme ligeiro de legumes. Este ano começou a produção de creme de abóbora, creme de couve-flor e creme de coentros. Apesar destas designações, cada embalagem destes produtos é composta por vários hortícolas.

Estes produtos transformados servem para aproveitar hortícolas que não respeitam o calibre dos 600 gramas. Se no caso das abóboras é fácil, bastando cortar, nas brássicas é diferente. Assim, foram criados conjuntos embalados de legumes de brócolos e couve-flor. Nos brócolos, as inflorescências maiores são vendidas em floretes, ou seja sem os talos.

Romanesco é um híbrido de brócolos e couve-flor e é muito sensível ao frio, ficando com as inflorescências arroxeadas

Romanesco é um híbrido de brócolos e couve-flor e é muito sensível ao frio, ficando com as inflorescências arroxeadas

O negócio destes produtos com valor acrescentado pesa nas contas. João Veloso calcula que representem cerca de 20% da faturação. Outro efeito desta atividade foi a contratação de 12 pessoas. Uma vez que as instalações estão em obras de ampliação, vão ser admitidos mais cinco funcionários.

O que vende no estrangeiro são produtos específicos, nomeadamente raiz de aipo, para a Holanda, ou abóbora Butternut, para o Reino Unido. O leque de destinos é mais vasto e a tendência é de crescimento, quanto a países e a valores. A NLS vende para a Holanda, França, Espanha, Alemanha e Reino Unido, estando a negociar com um distribuidor na Irlanda.

Para este ano, João Veloso vai ensaiar o cultivo de meloas. Este agricultor veio do mundo do vinho, tal como o sogro, que mudou de atividade antecipando as transformações no setor e prevenindo-se de estragos nas contas.

João Veloso produzia numa vinha em Olhalvo, no concelho de Alenquer. Quanto a voltar ao negócio: “Não digo desta água não beberei”. Até porque a adega do sogro ainda existe e está funcional.

Artigo publicado na edição de abril de 2015 da revista VIDA RURAL