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Uma aposta rentável

Ovinos e caprinos nacionais já podem ser exportados para a Arábia Saudita

Vai duplicar o efectivo e pretende alargar o negócio. Vitor Trindade Ricardo está à frente do Vale do Feijoal, uma empresa agro-pecuária que aposta tudo nos caprinos de leite, em Portalegre. A ideia é vender o leite e produzir queijos quando a produção estabilizar no milhão de litros anuais.

A exploração de caprinos de leite Sociedade Agro-Pecuária do Vale Feijoal pretende duplicar o seu efectivo até 2013 e alargar o seu negócio. Vítor Trindade Ricardo é quem comanda esta pequena empresa familiar de Vale de Cavalos (Alegrete – Portalegre) e afirma que há mercado para novos produtos de grande qualidade.

Há ainda a hipótese de lançar uma unidade de agro-turismo. O crescimento da empresa irá criar dez novos postos de trabalho. Actual­mente, a empresa emprega três pessoas, incluindo Vítor Trindade Ricardo.

 

Este produtor alentejano pensa em lançar no mercado leite de cabra para beber, além de queijos de cabra amanteigados, mas mantendo sempre o seu negócio de venda de leite à indústria queijei-ra.

Vítor Trindade Ricardo refere que o leite de cabra é «muito bom para ser bebido, visto não consti-tuir problema em relação à alergia à lactose». O queijo está ainda muito no campo dos sonhos. O investimento na unidade de processamento de leite para queijos deverá arrancar até 2013 e vai implicar uma aplicação de 300 mil euros. Este criador tem visitado vários países, investigando o que há na oferta de queijos de alta qualidade e inspirando-se nos tradicionais amanteigados de leite de ovelha. Certo é que não terá Denominação de Origem Protegida. «Há muito por onde se pode tentar inovar», diz o responsável.

 

Com a duplicação do efectivo, a quantidade de leite produzida será atirada para cerca de 1 milhão de litros por ano. Actualmente a empresa tem 750 cabras, das quais 550 adultas e 200 novas, além de 32 machos, sendo que este número é variável. O investimento será em machos, visto a empre-sa poder responder quanto à criação de fê­meas. Os machos serão adquiridos preferencialmente, mas também haverá recurso à comprar de palhetas de sémen. «As palhetas são Fórmula Um. Só vamos comprar as palhetas dos animais que não nos quiserem vender» – diz rindo-se o produtor. Porém, a taxa de sucesso da inseminação não é a mesma, a natural é de 95% e a artificial de 70%. Todos os machos são atestados pela ACRIMUR (Associação Espanhola de Criadores da Raça Murciana Gra-nadina).

Vítor Trindade Ricardo refere que a escolha por esta raça caprina se deve ao facto de as raças portuguesas «terem parado no tempo». Segundo considera, «a cabra algarvia tinha potencialida-des na questão do leite, mas não foi trabalhada para isso».

 

A duplicação do efectivo implicará um investimento até 110 mil euros. O custo dos machos varia conforme a opção da inseminação, o que, no limite, poderá chegar aos 30 mil euros. As cabras, a valor de mercado, implicam 81 mil euros. Porém, Vítor Trindade Ricardo adianta que a preço de custo baixa para menos de metade. Para este investimento, o produtor espera contar com uma ajuda através da comparticipação por dinheiros comunitários.

Com intenção de chegar às 1500 cabras, esta empresa partiu dum patamar bem mais pequenino. Em 1999 arrancou com a actividade e apenas 225 fêmeas e 15 machos, comprados todos através da ACRIMUR.

 

Porém, viveram-se tempos difíceis que quase fizeram fechar a porta à actividade. A culpa não foi a falta de clientes ou dos preços da matéria-prima ou mesmo do valor pago pela indústria. O pro-blema residiu na ausência duma boa assessoria veterinária em Portugal, no que respeita a caprinos, afirma o produtor. Vítor Trindade Ricardo diz ser má política não apostar na caprinocultura, pois «quando bem levada dá um rendimento apre­ciável».

«De 1999 a 2005 andámos aos trambolhões por falta de assessoria na nutrição. Nota-se na assesso-ria de nutrição e veterinária um profundo desconhecimento desta espécie e desta raça. A cabra está completamente marginalizada».

Duma só vez morreram-lhe 150 cabras em 15 dias, por falha alimentar, um prejuízo de 150 mil euros. «Os veterinários portugueses ora pensavam que as cabras eram ovelhas ora que eram vacas». Em 2005 estabeleceu uma avença com o veterinário espanhol Manuel Hierro, especialista em nutrição animal, que tornou a exploração rentável.

Um negócio de 450 mil litros

A Sociedade Agro-Pecuária do Vale Feijoal vende toda a sua produção de leite à indústria queijei-ra, nomeadamente à Queijo Saloio. A produção anual ronda os 450 mil litros, distribuídos de for-ma uniforme pelos 12 meses do ano.

O preço do leite é de 65 cêntimos, «havia de ser mais», diz este responsável da empresa, devido à con-juntura e ao preço das rações. Havia de ser dez cêntimos mais, adianta. Mas, mesmo assim, ganha-se dinheiro com o negócio. «Porque há uma gestão muito eficiente da nutrição, que é a chave do sucesso, e do efectivo.

A produção é controlada diariamente, através do recurso dum microchip instalado na coleira dos animais e de aparelhos de medição electrónica instalados na sala de ordenha. Deste modo, sabe-se exactamente qual a quantidade de leite produzida por animal, permitindo uma melhor selecção.

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As cabras vivem semi-estabuladas, com possibilidade de, em todos os dias do ano e por 24 horas, de entrarem ou saírem dos capris, podendo «auto-controlarem-se no que respeita ao bem-estar», refe-re o criador. Nos pavilhões, cada animal têm cerca de três metros quadrados, no exterior a área é de 15 metros quadrados.

A escolha das reprodutoras

Esta pequena empresa familiar centra a sua actividade na produção de leite, mas tem na produção de carne um meio paralelo de negócio, além da venda de reprodutores (machos e fêmeas). Por ano vendem cerca de 300 cabras fêmeas, com dois anos e meio e após o desmame, e alguns machos, com de seis meses a um ano, já de «terceira e quarta barriga».

Tanto machos como as irmãs são testados para apurar se são bons reprodutores. Só são vendidos os filhos de cabras que em média deram 900 litros na lactação, que é de dez meses por ano. Para carne, vão cabritos que vivos pesem cerca de dez quilos e não tenham mais de 50 dias.

As cabritas são cobertas quando atingem os 30 quilos, o que, por regra, acontece aos nove meses de idade. A monta é natural. Para a cobrição, Vítor Trindade Ricardo coloca um macho em gru-pos de 15 fêmeas, embora o número possa, por vezes, chegar às 25. Assim, torna-se mais fácil contro-lar a reprodução. Espanha tem outros meios, como uma maior facilidade de testes de ADN. Por cá é preferível fazer deste modo, refere o produtor. A primeira cobrição ocorre no quinto mês após o parto. A partir da segunda barriga passa a ser ao sétimo mês.

O macho mantém-se junto das cabras durante 40 dias, de forma a apanhar dois cios. Ao fim desse tempo são retirados do lote e feitas ecografias 30 dias após a retirada dos machos. As cabras pre-nhes conhecem, então, um novo regime alimentar (a partir dos seis meses com mistura unifeed). As que não engravidaram voltam a ficar junto dum macho por mais 40 dias. Caso não se dê uma ges-tação, são retiradas e mandadas para abate. Porém, essa quantidade é diminuta, não chegando aos 2% do efectivo.

Regime alimentar

Uma vez que o leite é a matéria-prima da exploração, o aleitamento é artificial. Os preços dos lei-tes variam, o natural é de 68 cêntimos e o em pó de 27 cêntimos. Um melhor teor butiroso (as cabras que amamentam não conseguem um teor de gordura e proteína tão elevado), uma maior facilidade no maneio, que uma redução do aparecimento de mamites também pesam na escolha des-ta solução de aleitamento.

A gravidez implica alterações do regime alimentar. Assim, a dois meses do parto é introduzida uma uni­feed, com alimentos de «grande qualidade, alto valor energético e pouco volume, visto a pança estar comprimida pelo útero», refere o produtor.

Após nascerem, os cabritos são retirados às mães para serem desinfectados no umbigo e adminis-trada, por via oral, selénio e vitamina E. Nas primeiras quatro horas de vida são fornecidos 250?ml de colostro pasteurizado, que permite a erradicação de qualquer transmissão directa de possíveis doenças.

O aleitamento através do homem acontece mal nascem. Três dias após o parto, os cabritos vão para a sala de aleitamento artificial, com leite à descrição por 24 horas. A nave encontra-se cli-matizada, em termos de temperatura e humidade. Aí ficam durante 50 dias e têm sempre ao dispor água e ração pré-starter, cuja constituição é à base e de leite ou soro de leite.

Durante 15 dias, com transições progressivas, passam para a ração de recria, que se prolonga até aos seis meses. Assim que desmamados, começam a ser servidos com forragens de feno de azevém e luzerna em rama. Esta solução permite minimizar os custos, aumentar a capacidade de ingestão e preparar para o que será a alimentação para o resto de vida.

As unifeed têm por base o feno de azevém, silagem de milho, feno de luzerna, fenossilagem de azevém e mistura de cereais. Os cereais variam, conforme a qualidade das forragens. Fazem-se análises de dois em dois meses e, em caso de carência, é reforçada a ração. As matérias-primas dos compostos são a cevada, soja, aveia, polpa de citrinos, polpa de beterraba, com reforço de vitaminas e minerais.

O controlo dos custos está sempre presente. Porém, tem de haver um equilíbrio com a saúde e bem-estar do animal. Após o parto, as mães não podem gastar mais de 30% daquilo que rendem. Ou seja, se um animal render um euro, o custo da sua alimentação não pode ultrapassar os 30 cêntimos. Esse montante divide-se em 22 cêntimos de ração e oito cêntimos de forragens.

Os produtos alimentares são quase todos obtidos externamente. A empresa apenas produz, nos seus 25 hectares de terreno, fenos de azevém e fenossilagens de azevém. A produção tem cortes em Novembro, Fevereiro e Maio.