A chegada de gente nova à agricultura, sem experiência e com pouca capacidade de investimento, trouxe uma explosão de criatividade e de procura de culturas alternativas.
Um pouco por todo o país vemos pequenas explorações com produções inimagináveis há uma década atrás e até quase desconhecidas. E o que está a acontecer ainda a nível experimental deixa antever uma mudança significativa no tipo de agricultura que fazemos.
Malaguetas, mangas, abacate, aloé vera, physalis, rebentos de vegetais, plantas comestíveis, papoila, amendoim… há exemplos para todos os gostos e condições edafoclimáticas. Há quem aposte em culturas subtropicais mais a sul, há quem avance para produções dedicadas de frutas pouco produzidas, como dióspiros ou romãs, há quem invista em aromáticas ou medicinais. Os novos agricultores procuram produtos com valor acrescentado e apostam em desbravar mercado. Não têm medo da palavra exportação e já perceberam que precisam de volume e escala para serem bem sucedidos. Partilham as suas experiências, formam potenciais produtores e tentam aliciar parceiros para vender em conjunto. Estão a aprender com erros, como qualquer agricultor experiente que entra numa cultura pela primeira vez, mas confiam nas oportunidades de mercado.
Não é possível prever, em especial numa conjuntura tão crítica, se estes negócios vão vingar. Muito trabalho e cálculos em excell ajudam, mas não chegam para transformar boas ideias em negócios prósperos. Mas, daqui a 10 anos será curioso olhar para o ‘mapa’ da produção agrícola em Portugal e analisar o impacto desta diversificação. Não será certamente muito significativo no volume global, mas pode começar a ser interessante em termos de valor. Numa altura em que se aproxima um novo pacote de ajudas ao investimento, que vai deixar cair o conceito de fileira ou cultura estratégica para privilegiar projetos com valor, esta pode ser uma oportunidade para olhar para o mercado e perceber o que vale a pena produzir. E arriscar na diferença.