Numa recente conferência sobre Agricultura e Ambiente, promovida pela Confagri, os ministérios da Agricultura e do Ambiente passaram uma mensagem de concordância reiterando que não haverá espaço para conflitos nem divisões entre agricultores e ambientalistas. O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, foi mais longe e disse mesmo, referindo-se às burocracias impostas pela legislação, que “se a lei está mal, muda-se!”.
Se parece óbvio e elementar que não há razões para clivagens entre dois setores que se complementam, a concretização desta vontade acaba sempre por esbarrar em questões que vão além da boa vontade dos intervenientes e o tempo dirá como irá evoluir esta questão.
Mas não há nenhuma razão, que não seja uma visão retrógrada do mundo e um desconhecimento da realidade, para acreditar que agricultura e ambiente não partilham interesses comuns. No início da minha carreira, e já lá vão quase três décadas, um dos primeiros trabalhos jornalísticos de fundo que realizei foi uma visita a um campo agrícola alentejano em Castro Verde, conduzida pelo então presidente da Liga para a Proteção da Natureza, Eugénio de Sequeira. O projeto em concreto passava pela injeção de lamas de suiniculturas para enriquecimento de solos pobres, mas a conversa foi muito além disso. E a visão ambiental há 30 anos já era de que sem a atividade agrícola não existiria habitat para um infindável número de espécies: a agricultura precisa do ambiente e o ambiente da agricultura.
Recordo-me de ter pensado, na minha inocência dos 20 anos, que os verdadeiros ambientalistas eram os agricultores e não os senhores de calções caqui, panamá e binóculos em busca de abetardas.
“Atualmente, não há um único agricultor moderno, profissional e capacitado que não entenda a necessidade de olhar para a atividade agrícola numa lógica de valorização do capital natural. Porque, na verdade, disso depende a continuidade da sua atividade.”
Isto não quer dizer, obviamente, que os agricultores tenham feito tudo bem e que não sejam responsáveis por impactes ambientais consideráveis ao longo dos tempos. Mas, à luz do conhecimento e da tecnologia disponível em cada momento e também, é preciso dizê-lo, de incentivos resultantes de políticas comunitárias, foram adaptando as suas técnicas e optando por práticas mais responsáveis. Atualmente, não há um único agricultor moderno, profissional e capacitado que não entenda a necessidade de olhar para a atividade agrícola numa lógica de valorização do capital natural. Porque, na verdade, disso depende a continuidade da sua atividade.
Esperamos que este aparente entendimento político e convergência entre Agricultura e Ambiente passe das palavras aos atos e que o bom senso impere. Todos ficariam a ganhar e pouparíamos certamente muito tempo e dinheiro com burocracias desnecessárias e sem sentido algum.
#agricultarcomorgulho