Desculpem-me o estrangeirismo, mas há palavras que são mais assertivas quando ditas pelos anglo-saxónicos. Back to basic é o que ocorre quando se analisam os novos comportamentos dos consumidores. Deixámos de lado os automóveis, os computadores, as férias dispendiosas, os pequenos luxos a que nos dávamos direito. Entrámos em ajustamento comportamental, e isso teve reflexo na nossa alimentação.
Os portugueses estão a gastar mais em alimentos e dentro desta categoria estão a levar para casa mais frescos, em detrimento de comida processada. Em altura de crise, voltamos ao que realmente interessa, o chamado ‘pão para boca’.
Se pensarmos que, neste momento, o setor agroalimentar é um dos mais dinâmicos nas exportações, a agricultura portuguesa entrou definitivamente num ponto de viragem.
Em primeiro lugar porque passou a ser politicamente importante. E, queiramos ou não, mesmo sem incentivos ou investimentos de vulto por parte de quem nos governa, só o facto de o setor passar a ser reconhecido e intitulado como estratégico ajuda a consolidar a imagem dos agricultores e da agricultura nacional (muito denegrida nos últimos anos junto da opinião pública).
Em segundo lugar, o mundo é um lugar cada vez mais instável. Uma guerra aqui, um embargo acolá e mais uma intempérie pelo meio deixam meio planeta à mercê dos preços especulativos nos bens essenciais.
Lembram-se que os cereais eram para acabar no sul da Europa? E que culturas não competitivas no mercado mundial deviam ser abandonadas? E que devíamos deixar que outros produzissem por nós, em quantidade e bom preço, que cá estaríamos para comprar porque íamos viver alegremente do turismo e dos serviços? Pois parece que não… parece que, afinal, a ordem é para (e vem de uma entidade idónea que dá pelo nome de FAO) armazenar! Armazene-se pois, o cereal que se puder pelo menos durante a próxima década (reservas para um mês de preferência). Mantenham os stocks de milho e trigo a salvo de carências e de especulações para evitar cenários complicados e mesmo a fome em países maios frágeis. Dizem eles.
A Europa tem de aprender alguma coisa com esta instabilidade. Gigantes como o Brasil e a Argentina estão a fechar-se na sua casca. Os liberais do comércio mundial estão cada vez mais protecionistas, uns mais assumidos que outros. O que é que esperamos para investir naquilo que é realmente importante? E criar de vez uma política de fomento agrícola coerente com as necessidades europeias?
As crises profundas costumam ter o mérito, dores à parte, de tornar os países mais fortes. Espero que esta que vivemos nos consiga tornar também mais espertos.