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A angústia dos produtores de leite

A guerra do sector leiteiro que se trava no Centro da Europa, causada pela drástica redução de preços à produção, está a provocar danos no mercado.

A guerra do sector leiteiro que se trava no Centro da Europa, causada pela drástica redução de preços à produção, está a provocar danos no mercado.

Os futuros do leite para entrega em Setembro de 2010 vão estar 56% acima das actuais cotações no Mercado de Mercadorias de Chicago (CME), em torno dos 15 dólares por 100 libras-peso, contra os actuais 9,97 dólares.

Enquanto não se verificar esta subida os produtores vão continuar a passar por um mau bocado. No ano passado os preços caíram 51%. O departamento norte-americano da Agricultura estima que a queda em 2009 seja de 34%, caso se venha a verificar esta será a desvalorização mais acentuada desde 1980 (altura em que a agência começou a guardar o registo das cotações).

Os agricultores procuraram a ajuda dos governos assim que os preços a nível mundial começaram a cair. Face ao panorama actual uns optam por protestar em Bruxelas, outros pelo abate das vacas-leiteiras. Têm pedido ajudas financeiras e um aumento das tarifas, através de uma limitação da produção na UE. Para a Comunidade Europeia a crise não está associada às quotas de produção, mas sim a uma eficiência da procura.

A comissária europeia da Agricultura, Mariann Fischer Boel, anunciou que os retalhistas têm de ser claros quanto aos preços que cobram aos consumidores, uma vez que “as recentes quedas junto dos produtores deveriam estar reflectidas nas prateleiras dos supermercados”. Factores como o encarecimento das rações e a subida dos preços do gasóleo têm vindo a penalizar os preços do leite.

Portugal é auto-suficiente

Em Portugal o sector do leite é auto-suficiente. A produção, fruto das 11.400 explorações existentes, satisfaz o consumo. No entanto, os excedentes de leite proveniente do resto da Europa veio fazer com que deixasse de vigorar uma relação linear entre procura-oferta.

Para Fernando Cardoso, secretário-geral da Fenalac – Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Lacticínios, a causa deste distúrbio de mercado é uma reunião de factores que favorece um maior protagonismo da distribuição moderna.

Dentro de um universo de consumo nacional de 900 milhões de litros, passam a ser consumidos 225 milhões de litros de leite provenientes do exterior. Uma vez que a crise no sector afecta actualmente toda a Europa, Portugal acaba por ficar inundado de matéria-prima a preços reduzidos, que a distribuição aproveita sobretudo para “alimentar” as marcas próprias. Desta forma 25% do consumo fica em stock e começa a criar excedentes.
 
“Só em Portugal existem 3.200 toneladas de manteiga e 1.500 toneladas de leite em pó que já tiveram que ser adquiridas pelo organismo de intervenção”, reitera Fernando Cardoso, referindo-se ao Instituto de Financiamento e apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas.

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