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agricultura

Altíssima Densidade ou Altíssima Sustentabilidade

Produzidas 725 mil toneladas de azeitona em Portugal em 2018

O Sistema olivícola superintensivo é na atualidade a única forma de cultivar olival que permite produzir azeite de qualidade virgem extra reduzindo os custos de produção muito por baixo do preço de venda e representa o fruto do know-how internacional, científico e tecnológico no âmbito da olivicultura.

O Sistema superintensivo está complementando os sistemas tradicionais e intensivos nos países com mais tradição no cultivo como Portugal, Espanha e Itália, levando uma brisa de ar fresco a um sector enjaulado e preocupado com os custos de produção, mas sobretudo dando margens de ingresso significativas aos empresários agrícolas. Os preços  superiores a 5-6 euros do azeite virgem extra não se mantiveram muito tempo em Itália, como era de esperar, e passaram rapidamente para os habituais 3-4 euros/kg.

 

A investigação internacional já validou a sustentabilidade agronómica e económica do modelo SHD. Tal como as outras espécies arbóreas de fruto, a gestão do olival requer uma preparação técnica e experiência profissional, adaptada à realidade agrícola actual.
A investigação está a ter bons resultados mesmo a curto prazo, inclusivamente na sustentabilidade ecológica dos olivais SHD. De seguida vamos ver alguns aspetos cruciais relativamente à sustentabilidade do olival SHD.

A Gestão dos Olivais SHD

Existem evidências científicas e experiências diretamente de campo que dissipam algumas dúvidas legítimas dos mais incrédulos, mas também acusações injustificadas, que em muitas ocasiões são fruto de um enfoque ideológico obtuso ou interessado, mas também cada vez menos comum.

 

A nossa experiência, que cumpre quase 20 anos, demonstrou que um cultivo olivícola SHD requer praticamente as mesmas contribuições  agronómicas de qualquer outro olival comum na mesma zona, com o mesmo nível de produção e que a sua gestão implica o conhecimento e aplicação do Código de Boas Práticas Agrícolas estabelecido no D.M de 19 de Abril de 1999 (publicado no diário oficial da república Italiana nr 102 S.O nr 86 de 4 de Maio de 1999) e dos regulamentos de produção integrada que as regiões italianas actualizam anualmente e publicam nas respectivas paginas web institucionais.

As dotações de rega variam notoriamente com a evolução termo-pluviométrica anual e com as características edafo-climáticas da exploração. Numa exploração em SHD superamos os 2.000 m3/ha nos anos de seca onde a pluviometria não pode ajudar, contudo os volumes de regadio estão por baixo deste valor. Investigações recentes feitas na Sicília em zonas com uma elevada evapotranspiração, descobriram que 1.300 m3 /ha seriam suficientes para satisfazer as necessidades hídricas anuais do olival SHD.
A dose de fertilizante está relacionada com os fins produtivos esperados, que normalmente superam as 12 toneladas de azeitona/ha e prevêem valores normais de 130 unidades de nitrogénio, 30 de fósforo e 110 de potássio.

 

A gestão fitossanitária segundo as normas actualizadas de protecção ecosustentável/especificações de gestão integrada, prevê como máximo 2-3 tratamentos cúpricos, admitidos em agricultura biológica e 2-3 tratamentos com insecticida, realizados sempre em função das condições climatéricas.

A gestão do solo em SHD efectua-se segundo os critérios ecosustentabilidade/gestão integrada contemplando entre outras coisas contribuições de fertilizantes e emendas orgânicas, adubo verde, coberta vegetal controladas na linha, triturado dos sarnentos in situ e empalhado da fila com materiais biodegradáveis. Por último a partir do quarto ano da plantação a reconversão dos olivais SHD a ecológicos é uma realidade generalizada.

Olival Shd com coberta vegetal e gerido em produção integrada

Olival Shd com coberta vegetal e gerido em produção integrada

Bioindicadores de Natura 2000

 

As técnicas agronómicas previstas nas plantações olivícolas SHD ajudam até a um equilíbrio da sustentabilidade ambiental que fomentam, não criando obstáculos à formação de habitats adequados ao ciclo vital de espécies vegetais e animais presentes em zonas LIC/ZEC, de acordo com o formulário natura 2000, e representam bioindicadores específicos de espaços naturais.
Por baixo dos ramos de um olival SHD adulto pode-se observar no fim da primavera, orquídeas espontâneas típicas de Murgia em Bari, pertencentes ao género Serapias (foto 2). Prados áridos e baldios ou bosques constituem na natureza ecossistemas naturais ao habitat destas orquídeas que possuem um sistema de polinização entomófila. A presença destas espécies vegetais têm se observado durante anos consecutivos.

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Exemplos de orquideas do genero Serapias na linha de baixo das oliveiras.

Exemplos de orquideas do genero Serapias na linha de baixo das oliveiras.

O agrosistema olivícola superintensivo, gerido de acordo com os critérios ecossustentáveis anteriormente explicados, não contamina o meio-ambiente e não danifica os insectos polinizadores, sendo este facto o suficiente para permitir a constituição e a permanência do habitat adequado para espécies vegetais delicadas e exigentes do ponto de vista ecológico.
Corpos frutíferos de fungos basidiomicetos pertencentes ao género Coprinus, conhecidos bioindicadores da ausência de contaminação por metais pesados, observaram-se na linha de olivais SHD onde se utiliza adubos orgânicos.

Corpos fructiferos do gênero coprinus que se pode observar na linha debaixo das oliveiras

Corpos fructiferos do gênero coprinus que se pode observar na linha debaixo das oliveiras

Copas acolhedoras para a avifauna

Nem as espécies animais escapam às evidências científicas. Foram encontrados ninhos atribuídos a espécies Sylvia melanocephala na mesma plantação durante vários anos seguidos (coincidência?) dentro da vegetação especialmente densa das variedades adequadas para o sistema superintensivo.

4De facto a toutinegra de cabeça preta vive geralmente no bosque mediterrâneo, caracterizado por densos e baixos arbustos, e encontra-se também à volta de bosques que apresentem um exuberante extrato arbustivo. O habitat adequado para a nidificação deste pássaro no olival superintensivo foi claramente favorecido no solo pelas características vegetativas dos cultivares, mas sobretudo pela forma de exploração e pelos critérios de poda que estes cultivos requerem.

Efectivamente, a forma em eixo central determina uma estrutura plena da árvore, enquanto a ausência de intervenções de poda no interior dos ramos produtores permite a formação de uma copa baixa e uniformemente densa.
Entre as suas presas mais comuns estão incluídos os insectos de diferentes espécies, larvas de lepidópteros, ortóperos e áfidos e aranhas não faltam no olival superintensivo. A disponibilidade desta cadeia é portanto um indicador adicional de um azeite virgem extra rico e equilibrado. Em ultimo lugar no final do verão e durante o outono, a toutinegra de cabeça preta alimenta-se também de frutos e sementes de numerosas plantas e até de azeitona.

Pegada de Carbono e de Água

A exploração tradicional do olival de sequeiro representa notoriamente um sistema de cultivo com um balanço passivo do ponto de vista económico. E do ponto de vista ecológico?
A medição do impacto ambiental de um processo produtivo, incluindo na agricultura, com indicadores sintéticos avançados como (Carbon footprint-CF) e (Water footprint-WF) costuma criar alguma surpresa relativamente aos resultados numéricos.
Demonstrou-se que o cultivo intensivo de olival pode inclusivamente dobrar a quantidade de gases com efeito de estufa imobilizado na biomassa vegetal e no chão (Carbon Sinks) comparativamente ao olival tradicional de sequeiro. Por outro lado o aumento da escassez de água e o importante papel que esta tem na produção agroalimentar aumenta a necessidade e a urgência de optimizar o uso de água nas atividades humanas e em particular na agricultura.
As atividades agrícolas e a agroindústria efectivamente podem chegar a consumir 70% da água doce disponível a nível mundial. Em Itália a percentagem mínima deste uso é 30% que corresponde ainda assim a quantidades importantes (aproximadamente 15.000 milhões de metros cúbicos ao ano) e estão concentradas em zonas com maior vocação agrícola: Padana e Apúlia (Dados FAO.
Neste contexto, a pegada do uso de água (Water footprint) é capaz de quantificar de forma correcta tanto o consumo como a contaminação de água doce por parte de uma actividade de produção.

Huella del agua (WF) para diferentes tipos de olivares

Huella del agua (WF) para diferentes tipos de olivares

Uso eficiente dos recursos hídricos

A estimativa de WF permite  colocar em prática as medidas necessárias para redução de impacto e portanto um uso mais sustentável deste apreciado recurso natural não renovável.
Uma publicação recente demonstrou que a WF dos olivais superintensivos é comparável com a dos olivais intensivos em regadio, com um valor entre 2700-2800 metros cúbicos por tonelada de azeitona produzida.
Um olival tradicional de sequeiro, nas mesmas condições edafoclimáticas, têm uma WF superior, com uma média em torno dos 3.400 metros cúbicos por tonelada de azeitona, o que demonstra uma menor eficiência na agricultura de sequeiro.
A situação fica bastante pior se convertermos os olivais tradicionais de sequeiro em regadio: o seu WF sobe para 5.700 metros cúbicos por tonelada de azeitona/ano, devido ao aumento de produção proporcionalmente inferior à variável de recurso hídrico disponível. Por outras palavras, regar um olival tradicional parece ser um total desperdício de recursos hídricos.
Os sistemas de cultivo mais modernos apresentam, contudo, uma menor necessidade hídrica. De facto, o componente principal da WF é a quota azul, relacionada com o regadio, que representa quase 77% do total para instalações tradicionais e intensivas, contra  74% nas superintensivas.

O conhecimento da WF podia contribuir para uma melhor transparência e conhecimento do produto final, proporcionando aos consumidores um suporte para tomar decisões bem fundamentadas. Estes resultados, juntamente com os que se estão a evidenciar pela estimativa CF de olivais e azeite, podiam resultar úteis inclusivamente para melhorar e favorecer o cultivo de olival no contexto agrícola e de agroindústria ecossustentável.
Não menos importante é a protecção de solos que as instalações superintensivas podem oferecer, se consideramos que o olival tradicional cobre um máximo de 50%, enquanto nos olivais superintensivos supera os 60%. Se além disso considerarmos que no espaço vazio destas instalações se usa a cobertura controlada de solo, não é difícil perceber a notável contribuição que a olivicultura superintensiva pode proporcionar na luta contra o desequilíbrio hidrogeológico de zonas montanhosas, como se verificou no sul de Espanha.

Sustentabilidade e Qualidade

O sistema superintensivo possui numerosos e notáveis requisitos de sustentabilidade ecológica, derivados de técnicas de cultivo que o caracterizam: cultivar com compassos de plantação, gestão da sebe, solo, água e nutrientes.
A presença comprovada e constante no tempo de espécies vegetais e animais de interesse comunitário constitui a resposta mais imediata e eloquente aos possíveis impactos ambientais derivados da realização de um olival superintensivo, inclusivamente em zonas agrícolas situadas em LIC/ZEC.
A elevada densidade de árvores representa paradoxalmente o motivo principal da ecosustentabilidade deste sistema de cultivo. A isto junta-se o resultado agronómico que produz um produto de alta qualidade, inclusivamente ecológico e com um baixo custo de produção. Neste sentido seria necessário rebatizar os olivais superintensivos para supersustentaveis.
Esta informação, combinada com outros aspetos fundamentais, como  económicos e sociais, podia constituir um ponto de partida para a formulação de directrizes tanto para a gestão racional de olival, como para políticas agrícolas regionais, nacionais e comunitárias.

Artículo publicado en la revista “Olivo e Olio” nº 1/2020