O alerta vem do presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA): se o aumento exponencial do número de javalis em Portugal contribuir para a disseminação da peste suína africana (PSA), “será uma catástrofe”. Em declarações ao jornal Público, Nuno Faustino disse estar preocupado com o impacto que a PSA poderá ter na fileira do porco alentejano, porque, com a presença da doença, “as fronteiras fecham e não há onde colocar o produto”.
O presidente da ACPA abordou ainda as dificuldades de contenção da PSA, já que os javalis conseguem ter acesso às porcas domésticas reprodutoras. “Quando as porcas são tocadas pelo javali, são imediatamente afastadas e observadas para confirmar se houve ou não contágio”, disse ao jornal diário. Ainda assim, Nuno Faustino admitiu que este contacto “é muito difícil de evitar”.
Em declarações ao mesmo jornal, Carlos Fonseca, biólogo e investigador da Universidade de Aveiro, explicou que a situação não é nova e que Portugal “poderá vir a ter peste suína a curto/médio prazo”, em parte provocada pelo aumento de javalis e decréscimo de caçadores.
Um dos caçadores contactados pelo Público, João Pereira, já confirmou o fenómeno das ninhadas cruzadas de porcos e javalis: “Ainda num dia destes, um vizinho meu que tinha 80 porcas reprodutoras alentejanas descuidou-se e apareceram-lhe agora 76 leitões e não sabe o que lhes fazer”, afirmou. Em média, são abatidos legalmente por ano cerca de 30 mil javalis em 4 mil zonas de caça em Portugal.
Os surtos de PSA na Europa já causaram até um incidente diplomático entre a Roménia e Bulgária, países onde foi detetada a doença. Recorde-se que, no mês passado, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) confirmou que o número de surtos ativos de peste suína africana já atingiu os 5763, em 15 países de todo o mundo.
Na Europa, já foram detetados surtos em países como a Itália, Polónia, Bélgica, Letónia, Moldávia, Bulgária, Roménia e Rússia, num total de 11 países europeus.