António Serrano, CEO Jerónimo Martins Agroalimentar, acredita que é preciso uma rede de cooperação entre instituições, associações e produtores para poder fazer face à crise provocada pela Covid-19. Só assim será possível fazer face aos desafios dos produtores de leite de cabra e ovelha, por exemplo, numa altura em que o mercado do queijo desapareceu devido ao encerramento do canal Horeca, ou dos produtores de flores ou de pequenos frutos, até aqui focados na exportação. “Temos de comprar mais aos produtores portugueses, mas não sei se o consumidor português tem capacidade para continuar a consumir ao nível em que vinha a fazê-lo, provavelmente não, deve reduzir as compras porque está preocupado com o futuro”, avisa. Numa conversa em conference call com Joaquim Pedro Torres, organizador da feira agrícola Agroglobal, António Serrano pede para que se trabalhe em conjunto “para planear a nossa produção, em especial com aqueles que produzem todos os dias”, de forma a minimizar estas quebras.
O CEO da Jerónimo Martins Alimentar disse ainda que este é o momento para refletir sobre a “importância da soberania alimentar de que muita gente fala mas que não é devidamente valorizada. Ou seja, a capacidade de produzirmos aquilo que e básico para a população. Provavelmente estaremos mais disponíveis no futuro para consumir localmente produtos produzidos no nosso país. Estaremos a robustecer a produção local e a reduzir a pegada carbónica”, frisa este gestor.
Última nota para a questão ambiental, numa altura em que os índices mundiais de poluição baixaram drasticamente, apesar de atividade agrícola ter continuado ao mesmo nível: “Não vamos aproveitar a crise para retirar o pé da preocupação ambiental, mas é preciso perceber que temos de consumir mais localmente e aproveitar a oportunidade para fazer de forma diferente. O agricultor vai continuar a ser desafiado a melhorar os seus sistemas de produção. O desafio é: como podemos afinal, sem emoções e em cada setor, produzir de forma mais eficiente e ecológica? Porque a agenda climática está presente e vai continuar, mas é preciso reduzir o ruído [sobre a agricultura]”.