A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está a desenvolver, em conjunto com a Associação dos Produtores de Uvas do Vale do São Francisco, novas cultivares de uva de mesa especialmente adaptadas ao semiárido brasileiro (Região Nordeste). O Convênio estabelece uma parceria para os próximos seis anos, nos quais serão avaliadas novas seleções de uvas desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético “Uvas do Brasil”.
O trabalho será coordenado pela unidade Embrapa Uva e Vinho diretamente com os viticultores integrantes da Associação dos Produtores de Uvas do Vale do São Francisco. Serão realizados testes agronómicos de produtividade e desempenho no campo, bem como qualidade e tolerância a doenças e avaliações de mercado, para conhecer a aceitação do consumidor.
O objetivo desta parceria é acelerar um trabalho que já é feito pelo Embrapa há pelo menos 40 anos, tendo criado recentemente cultivares de sucesso como a BRS Vitória, que pelo seu sabor diferenciado conquistou mercado na Europa. As exportações de uvas produzidas em regiões tropicais no período entre abril e dezembro fez com que o Brasil conquistasse mais mercado numa época em que os compradores costumavam ser abastecidos pelas uvas europeias da Itália, Espanha e Grécia, em função do seu preço mais competitivo.
A Embrapa Uva e Vinho têm vindo a trabalhar cultivares para mesa, sumo e vinho especialmente adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas brasileiras. Já foram lançadas 21 cultivares que têm como características uma elevada produtividade, diferentes ciclos de produção e alta resistência às doenças que atacam a cultura da videira, como o míldio e o oídio.
“O germoplasma básico utilizado nos cruzamentos é obtido a partir dos materiais disponíveis no Banco Ativo de Germoplasma – Uva, mantido pela Embrapa Uva e Vinho. Com 1400 acessos, é o maior acervo de germoplasma de videira de toda a América Latina. Atualmente, o Programa de Melhoramento ‘Uvas do Brasil’ utiliza métodos clássicos de melhoramento, como seleção massal, seleção clonal e hibridações. Ações de ajuste de seleções avançadas vêm sendo desenvolvidas paralelamente ao Programa de Melhoramento, no sentido da viabilização destes materiais”, explica a Embrapa.
Ferramentas de Biologia Avançada como micropropagação, resgate de embriões para viabilização de sementes em cruzamentos de uvas apirênicas [sem semente] e uso de marcadores moleculares que permitam a seleção precoce estão a ser incorporados ao Programa. Também já se faz uso rotineiro do desenvolvimento de perfis genéticos visando a proteção das novas cultivares.
Cultivares tropicais
As cultivares BRS Vitória, BRS Isis e BRS Núbia foram desenvolvidas especialmente para o nordeste do Brasil. Devido às suas características como a alta fertilidade, estabilidade da produção e altas produtividades, essas uvas foram amplamente aceites pelos produtores.
Quem ganhou também foi o consumidor, uma vez que a BRS Vitória apresenta um sabor diferenciado. Já a BRS Núbia, uma uva de mesa com sementes, tem conquistado os consumidores pelos cachos e bagas exuberantes. Enquanto isso, a BRS Isis chama a atenção pela coloração vermelha e as bagas naturalmente grandes. Além das uvas de mesa, as cultivares de uva para sumo BRS Cora, BRS Magna e Isabel Precoce colocaram a região do Nordeste brasileiro no circuito de produção de suco de uva de qualidade no Brasil.
“Queremos chegar a um bilhão de Reais (cerca de 229 milhões de Euros) em exportações. Já estamos em 45 países e, com certeza, com o sabor das uvas que a Embrapa está a desenvolver, vamos conquistar novos clientes e consumidores no mercado interno e externo”, prometeu Arnaldo Eijsink, diretor da Associação dos Produtores de Uvas do Vale do São Francisco.
Para o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, José Fernando da Silva Protas, a parceria viabilizará maior rapidez na avaliação das seleções, garantindo a continuidade da competitividade dos viticultores do semiárido brasileiro. “Essa parceria que envolve a alocação de recursos por parte do setor produtivo ratifica o reconhecimento e a confiança na competência e capacidade da Embrapa em oferecer alternativas tecnológicas para o desenvolvimento competitivo da viticultura brasileira”, conclui.