A produção de sésamo no Brasil começa a ocupar o espaço do milho em muitas regiões. O melhoramento genético e a aposta em variedades mais valorizadas no mercado estão a levar muitos produtores a investir numa cultura com poucas exigências e que encaixa bem em sistemas de rotação.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) acaba de apresentar a cultivar de sésamo BRS Morena – a primeira com ‘proteção’ concedida no Brasil e com um teor de óleo superior a 50%.
Desenvolvida pela equipa da Embrapa Algodão, a variedade possui uma coloração castanho avermelhada e sabor diferenciado para o consumo tanto ‘in natura’ como para a indústria alimentícia – com foco no mercado gourmet nacional e mundial. A cultivar apresenta, ainda, alta produtividade de grãos e teor de óleo superior a 50%.
A BRS Morena da Embrapa está essencialmente voltada para atender grandes produtores do Centro-Oeste do Brasil, mas também pode ser adaptada para o Norte e Nordeste. Localizada no coração daquele país tropical, nesta região a cultura tem-se expandido nos últimos anos, especialmente no estado de Mato Grosso – principal produtor de oleaginosas brasileiro.
O objetivo da Embrapa é disponibilizar a cultivar no mercado ainda em 2020. Neste momento a empresa pública brasileira procura parceiros para a produção e comercialização de sementes – os chamados multiplicadores. Foi concluído no último dia 12 de fevereiro um primeiro “Processo de Oferta Pública” para seleção de interessados.
Cor define mercado
O principal atrativo da BRS Morena é a sua película castanho avermelhada que é apreciada em diversos mercados mundiais, especialmente pelo chamado mercado gourmet. Segundo a investigadora Nair Arriel, responsável pelo desenvolvimento da cultivar, apesar de 90% do mercado brasileiro de panificação e óleo adotar sementes de coloração branca, o mercado gourmet valoriza as colorações mais intensas: “Para alguns segmentos, ela traz um diferencial de sabor. No mercado árabe, por exemplo, eles gostam do tahine feito de sementes mais escuras”.
A BRS Morena apresenta potencial de produção de aproximadamente 980 quilos por hectare em regime de sequeiro e 1.800 quilos por hectare em sistema irrigado. De acordo com a empresa de investigação brasileira, esta cultivar é recomendada para cultivo mecanizado tanto em larga como pequena escala.
Nair Arriel explica que a produtividade da BRS Morena, está num meio termo em comparação com outras cultivares desenvolvidas pela Embrapa, tais como a BRS Anahí (mais procurada por permitir colheita mecânica), e a BRS Seda, que possui sabor mais adocicado. “A BRS Seda é bastante ramificada e tem sementes de coloração branca, enquanto a BRS Anahí não é ramificada, mas tem sementes bem maiores. Na BRS Morena a ramificação é intermediária e o teor de óleo também se aproxima das duas últimas cultivares lançadas”, compara a investigadora.
Segundo a Embrapa Algodão, o objetivo é lançar cultivares cada vez mais produtivas e mais adaptadas a diferentes ambientes, com maior teor de óleo e tolerância a pragas e doenças. “Para isso, vínhamos desenvolvendo variedades de coloração branca ou creme, como a BRS Seda e a BRS Anahí, os nossos lançamentos mais recentes”, relembra.
A Embrapa procurou a proteção legal da nova cultivar para poder deter os direitos exclusivos de exploração. A empresa pública explica que as cultivares existentes no mercado brasileiro são de domínio público ou introduzidas, uma vez que a cultura do sésamo era regionalizada e restrita a pequenos produtores do Nordeste, esclarece a gestora de ativos da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa, Aline Zacharias.
De acordo com esta responsável, a perspectiva de expansão da área de cultivo e de mercado tornou conveniente e oportuna a obtenção dos direitos de proteção. Os royalties oriundos da exploração comercial da cultivar poderão retornar para a pesquisa, ainda que indiretamente. A ideia é promover a inserção competitiva da Embrapa no ambiente de inovação em benefício da sociedade brasileira.
“Há cerca de três anos, ao identificar a expansão da cultura do sésamo para o Centro-Oeste, a equipa de melhoramento genético da Embrapa Algodão iniciou o desenvolvimento da BRS Morena. A proteção resguarda os direitos da Empresa sobre a cultivar e permite o maior controle sobre as sementes que serão produzidas e a manutenção do protagonismo da Embrapa”, explica a investigadora Nair Arriel.
Concorrente do milho
A cultura de sésamo ganhou tanta importância na região, que chegou a ser realizado o “1º Seminário de Gergelim” em dezembro de 2019 no município de Canarana. O evento reuniu produtores, exportadores, investigadores, técnicos e autoridades do setor para debater os desafios da cultura e a sua expansão no estado de Mato Grosso. Investigadores e especialistas da Embrapa palestraram na ocasião sobre a produção em larga escala.
Canarana responde sozinha por mais de 80% da produção nacional de sésamo, com uma área plantada de 50 mil hectares nesta colheita, segundo a estimativa dos produtores. A cultura tem ganho espaço como segunda safra, após o cultivo da soja, por ter baixa necessidade hídrica e ser de fácil manejo.
O secretário de Agricultura de Canarana, Charles Visconti, relata que a cada campanha a cultura tem crescido e ocupado o espaço do milho no município, que reivindica o título de capital nacional do sésamo. “Nossa produção dobrou na última safra e, com a parceria de todos, essa cultura só tende a crescer ainda mais”, declara.
Para a investigadora Nair Arriel, o evento propiciou a discussão técnica do sistema de produção em larga escala. “Até então, as pesquisas eram voltadas para o cultivo em pequenas áreas. Agora, a pesquisa está diante de novos desafios para a cultura”, concluiu.