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BRS Anahí

Embrapa lança 1º sésamo protegido do Brasil

Foto Sérgio Cobel BRS Morena  scaled

A produção de sésamo no Brasil começa a ocupar o espaço do milho em muitas regiões. O melhoramento genético e a aposta em variedades mais valorizadas no mercado estão a levar muitos produtores a investir numa cultura com poucas exigências e que encaixa bem em sistemas de rotação.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) acaba de apresentar a cultivar de sésamo BRS Morena – a primeira com ‘proteção’ concedida no Brasil e com um teor de óleo superior a 50%.

 

Desenvolvida pela equipa da Embrapa Algodão, a variedade possui uma coloração castanho avermelhada e sabor diferenciado para o consumo tanto ‘in natura’ como para a indústria alimentícia – com foco no mercado gourmet nacional e mundial. A cultivar apresenta, ainda, alta produtividade de grãos e teor de óleo superior a 50%.

Embrapa

 

A BRS Morena da Embrapa está essencialmente voltada para atender grandes produtores do Centro-Oeste do Brasil, mas também pode ser adaptada para o Norte e Nordeste. Localizada no coração daquele país tropical, nesta região a cultura tem-se expandido nos últimos anos, especialmente no estado de Mato Grosso – principal produtor de oleaginosas brasileiro.

O objetivo da Embrapa é disponibilizar a cultivar no mercado ainda em 2020. Neste momento a empresa pública brasileira procura parceiros para a produção e comercialização de sementes – os chamados multiplicadores. Foi concluído no último dia 12 de fevereiro um primeiro “Processo de Oferta Pública” para seleção de interessados.

Cor define mercado

 

O principal atrativo da BRS Morena é a sua película castanho avermelhada que é apreciada em diversos mercados mundiais, especialmente pelo chamado mercado gourmet. Segundo a investigadora Nair Arriel, responsável pelo desenvolvimento da cultivar, apesar de 90% do mercado brasileiro de panificação e óleo adotar sementes de coloração branca, o mercado gourmet valoriza as colorações mais intensas: “Para alguns segmentos, ela traz um diferencial de sabor. No mercado árabe, por exemplo, eles gostam do tahine feito de sementes mais escuras”.

Photo Nair ArrielA BRS Morena apresenta potencial de produção de aproximadamente 980 quilos por hectare em regime de sequeiro e 1.800 quilos por hectare em sistema irrigado. De acordo com a empresa de investigação brasileira, esta cultivar é recomendada para cultivo mecanizado tanto em larga como pequena escala.

 

Nair Arriel explica que a produtividade da BRS Morena, está num meio termo em comparação com outras cultivares desenvolvidas pela Embrapa, tais como a BRS Anahí (mais procurada por permitir colheita mecânica), e a BRS Seda, que possui sabor mais adocicado. “A BRS Seda é bastante ramificada e tem sementes de coloração branca, enquanto a BRS Anahí não é ramificada, mas tem sementes bem maiores. Na BRS Morena a ramificação é intermediária e o teor de óleo também se aproxima das duas últimas cultivares lançadas”, compara a investigadora.

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Segundo a Embrapa Algodão, o objetivo é lançar cultivares cada vez mais produtivas e mais adaptadas a diferentes ambientes, com maior teor de óleo e tolerância a pragas e doenças. “Para isso, vínhamos desenvolvendo variedades de coloração branca ou creme, como a BRS Seda e a BRS Anahí, os nossos lançamentos mais recentes”, relembra.

A Embrapa procurou a proteção legal da nova cultivar para poder deter os direitos exclusivos de exploração. A empresa pública explica que as cultivares existentes no mercado brasileiro são de domínio público ou introduzidas, uma vez que a cultura do sésamo era regionalizada e restrita a pequenos produtores do Nordeste, esclarece a gestora de ativos da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa, Aline Zacharias.

De acordo com esta responsável, a perspectiva de expansão da área de cultivo e de mercado tornou conveniente e oportuna a obtenção dos direitos de proteção. Os royalties oriundos da exploração comercial da cultivar poderão retornar para a pesquisa, ainda que indiretamente. A ideia é promover a inserção competitiva da Embrapa no ambiente de inovação em benefício da sociedade brasileira.

“Há cerca de três anos, ao identificar a expansão da cultura do sésamo para o Centro-Oeste, a equipa de melhoramento genético da Embrapa Algodão iniciou o desenvolvimento da BRS Morena. A proteção resguarda os direitos da Empresa sobre a cultivar e permite o maior controle sobre as sementes que serão produzidas e a manutenção do protagonismo da Embrapa”, explica a investigadora Nair Arriel.

Concorrente do milho

A cultura de sésamo ganhou tanta importância na região, que chegou a ser realizado o “1º Seminário de Gergelim” em dezembro de 2019 no município de Canarana. O evento reuniu produtores, exportadores, investigadores, técnicos e autoridades do setor para debater os desafios da cultura e a sua expansão no estado de Mato Grosso. Investigadores e especialistas da Embrapa palestraram na ocasião sobre a produção em larga escala.

Canarana responde sozinha por mais de 80% da produção nacional de sésamo, com uma área plantada de 50 mil hectares nesta colheita, segundo a estimativa dos produtores. A cultura tem ganho espaço como segunda safra, após o cultivo da soja, por ter baixa necessidade hídrica e ser de fácil manejo.

O secretário de Agricultura de Canarana, Charles Visconti, relata que a cada campanha a cultura tem crescido e ocupado o espaço do milho no município, que reivindica o título de capital nacional do sésamo. “Nossa produção dobrou na última safra e, com a parceria de todos, essa cultura só tende a crescer ainda mais”, declara.

Para a investigadora Nair Arriel, o evento propiciou a discussão técnica do sistema de produção em larga escala. “Até então, as pesquisas eram voltadas para o cultivo em pequenas áreas. Agora, a pesquisa está diante de novos desafios para a cultura”, concluiu.

*Entrevista publicada na edição de maio da revista VIDA RURAL.

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