A primeira conferência sobre lã em Portugal – “Wool Conference 2024” – aconteceu em Évora, no início de março, e teve como intuito ouvir quem produz a matéria-prima e valorizar o potencial comercial e ambiental da lã.
A conferência juntou à mesa vários industriais do sector, designers, associações e produtores de ovinos para discutir o tema e formas de valorizar esta fibra natural.
“Programas de educação nas escolas, que passam por levar as crianças ao campo conhecerem os processos de produção, e comunicar a lã como um produto sustentável e amigo do ambiente foram algumas das ideias debatidas e que podem ser concretizadas”, refere o comunicado enviado às redações.
Jeannette Cook, consultora de comunicação na International Wool Textile Organisation, apresentou uma visão global do mercado da lã e sublinhou que, na Europa, “os consumidores valorizam esta matéria-prima natural e sustentável à medida que a poluição têxtil dispara devido ao aumento da fibra sintética, associada à mão de obra barata”.
E continua: “a campanha “make the label count” pressupõe uma etiqueta com um código que traduza que o sistema de produção reduz a PEF e que esta questão valoriza o produto natural que polui menos, é biodegradável e sustentável”.
Para André Almeida, professor no Instituto Superior de Agronomia (ISA), a importância da nutrição na qualidade da lã foi também um tema relevante a discutir na conferência, pois “se o animal não tiver uma boa nutrição a qualidade da lã fica comprometida”.

João Almeida, produtor de ovinos, alertou também para os cuidados a ter no momento da tosquia e do acondicionamento da fibra, de forma a serem mantidos os parâmetros de qualidade e referiu ainda a necessidade de destacar “o potencial simbólico da lã na medida em que solos pastoreados corretamente sofrem menos erosão, assim como sabemos que, territórios pastoreados têm menos incêndios”.
“A questão da certificação é aqui fundamental para que a lã possa ser comercializada em mercados mais exigentes. O consumidor pretende saber o que está a comprar e, para isso, tem de haver entidades imparciais e acreditadas para certificarem todas as fases do processo”, salientou ainda o produtor.
Já Isabel Costa, fundadora da Burel Factory, afirmou existir atualmente uma “enorme tendência no mundo para o consumo de lã”. A empresária, que se dedica à recuperação do património industrial da lã na Serra da Estrela e que começou, entretanto, a utilizar esta fibra na arquitetura de interiores, referiu trazer “um conforto acústico e térmico inigualável. Reduz o consumo de energia e tem uma capacidade ímpar de absorver a humidade”.
“A lã é a fibra mais sustentável do mundo e a prova disso é que desde sempre aqueceu e vestiu a humanidade. É fundamental passar esta mensagem ao consumidor para que o mercado da lã volte a animar e os produtores possam também ter o respetivo retorno apostando na melhoria genética dos seus rebanhos”, referiu a empresária.
O evento foi organizado pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos Merino (ANCORME) e integrou a XV Jornadas Internacionais do Hospital Veterinário Muralha de Évora.
A “Wool Conference” irá voltar a realizar-se em 2026.