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Pecuária

Bovinos: Vacinação contra a tuberculose reduz quase em 90% a propagação da doença

Bovinos: Vacinação contra a tuberculose reduz quase em 90% a propagação da doença iStock

A vacinação contra a tuberculose reduz a gravidade da doença em animais infetados e diminui em 89% a sua disseminação em bovinos, segundo um estudo liderado pela Universidade de Cambridge e pela Universidade Estadual da Pensilvânia, publicado na revista Science.

A investigação teve como intuito melhorar as perspetivas de eliminação e controlo da tuberculose bovina (TB), “uma doença infeciosa em bovinos que causa grandes custos económicos e elevados impactos na saúde mundial”, refere a análise.

 

“Este é o primeiro estudo a mostrar que bovinos vacinados com BCG e infetados com tuberculose são substancialmente menos contagiosos para outros bovinos. Este notável efeito indireto da vacina, além do seu efeito protetor direto, não tinha sido medido antes”, avançam os investigadores.

Os investigadores examinaram a capacidade da vacina, Bacillus Calmette-Guérin (BCG), em proteger diretamente os bovinos que a recebem, bem como em proteger indiretamente os bovinos vacinados e não vacinados, reduzindo a transmissão da tuberculose. Desta forma, animais vacinados e não vacinados foram colocados em recintos com animais naturalmente infetados, num projeto de análise que decorreu na Etiópia e durou dois anos.

 

“O nosso estudo descobriu que a vacinação BCG reduz a transmissão da tuberculose em bovinos em quase 90%. As vacas vacinadas também desenvolveram significativamente menos sinais visíveis de tuberculose do que as vacas não vacinadas. Isso sugere que a vacinação não apenas reduz a progressão da doença, mas que, se os animais vacinados forem infetados, eles são substancialmente menos contagiosos para os outros”, afirmou Andrew Conlan, professor associado de epidemiologia do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Cambridge e um dos autores do estudo.

A equipa de investigadores concentrou os seus estudos na Etiópia por se tratar de um país com uma das maiores criações de gado em África e ter um setor de laticínios em rápido crescimento, que sofre com uma carga crescente de tuberculose bovina e carece de um programa de controlo atual, tornando-se assim um representante de economias em transição numa situação semelhante, explica o estudo.

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De acordo com o estudo, é estimado que a disseminação da infeção a partir do gado seja responsável por cerca de 10% dos casos de tuberculose em humanos. Embora essas infeções zoonóticas por tuberculose (zTBs) estejam frequentemente associadas a infeções gastrointestinais relacionadas com o consumo de leite contaminado, a zTB também pode causar infeções pulmonares crónicas em humanos.

Neste sentido, a doença pulmonar causada pela zTB pode ser “indistinguível da tuberculose comum, mas é mais difícil de tratar devido à resistência natural a antibióticos das bactérias no gado”, salienta a análise.

 

A tuberculose bovina permanece endémica em muitos países a nível mundial, incluindo a Europa, onde controlá-la custa aos criadores de gado e contribuintes centenas de milhões de euros a cada ano, avança o estudo.

“Por mais de 100 anos, os programas para eliminar a tuberculose bovina basearam-se em testes intensivos e no abate de animais infetados”, afirmou Vivek Kapur, professor de microbiologia e doenças infeciosas e um dos autores do estudo.

E continua: “esta abordagem é inaplicável em muitas partes do mundo por razões económicas e sociais, que resultam num sofrimento animal considerável e em perdas económicas, bem como a um risco aumentado de disseminar a infeção para os seres humanos. Ao vacinar o gado, esperamos protegê-lo e aos humanos também das consequências desta doença devastadora”.