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Alqueva

Herdade do Monte Novo e Figueirinha aposta na diversificação cultural

Filipe Cameirinha Herdade do Monte Novo e Figueirinha
Na Herdade do Monte Novo e Figueirinha, em São Brissos, o olival e a vinha são reis, mas a água de Alqueva permitiu diversificar para novas culturas – milho, girassol, papoila e amêndoa, entre outras – e apostar na compra ou arrendamento de novas terras.

A água definitiva de Alqueva ainda não chegou ao Monte Novo e Figueirinha, “só vai chegar no próximo ano”, diz-nos Filipe Cameirinha Ramos, gestor da sociedade fundada pelo avô, o comendador Leonel Cameirinha. “Mas não podíamos ficar mais tempo à espera, por isso, em conjunto com dois outros agricultores vizinhos pedimos autorização à EDIA, em 2012, para fazer uma captação particular. A EDIA autorizou e deu-nos três possibilidades à escolha, optámos pela Barragem dos Cinco Reis e três meses depois começámos a regar”.

Elogiando a “nova EDIA” resultante das mudanças que João Basto trouxe à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, e salientando que o atual presidente, José Pedro Salema, tem continuado o mesmo caminho, o administrador explica à VIDA RURAL que “o processo foi muito rápido e profissional. A empresa ajudou-nos em tudo”. O investimento rondou os 130 mil euros e implicou a instalação de seis quilómetros de condutas, PT, bombas e outros equipamentos. “Instalámos um pivot e conseguimos reativar outro que estava parado porque, apesar de termos vários furos, a água não era suficiente, nem mesmo para o olival e vinha, que sempre foram regados. Mas nesta altura estamos a bombear cerca de 500 mil litros de água por hora”, adianta Filipe Cameirinha.

A água, para já, “é barata porque pagamos o preço de captação precária e no início do fornecimento definitivo também teremos direito aos descontos dos primeiros anos. Por isso, só daqui a alguns anos vou começar a preocupar-me mais com a rentabilidade das culturas escolhidas, por agora estamos abertos às várias possibilidades”, admite o responsável.

Aumentar novas culturas até 300 hectares

Até agora, para os cerca de 65/70 hectares de pivots a escolha recaiu em girassol, papoila e milho (grão), sendo que o girassol já foi vendido uma vez por contrato e agora tem sido comercializado, tal como o milho, através do Agrupamento de Produtores de Cereais do Alentejo (OPCER). Quanto à papoila, e como Filipe Cameirinha já contou no AgroIN, em abril deste ano, tiveram alguns problemas com a MacFarlan Smith, mas adianta agora que “veio cá a administração e ficou tudo resolvido. Por isso, na próxima campanha vou voltar a fazer 40 hectares de papoila”.

Faturação em 2014: cerca de 4 000 000€.

Área Total: cerca de 300 hectares.

Olival: 170 ha (passará a 140 ha em 2016).

 

Vinha: 70 ha (vai passar a 83 ha em 2016).

Outras culturas de regadio: 65/70 ha (vai passar a cerca de 300 ha a médio prazo).

 

Culturas: Milho, girassol, papoila (no futuro também: amêndoa, cebola, hortícolas, beterraba, entre outras).

Sistema de regadio: Bombagem de cerca de 500 000 L/h de água captada na Barragem dos Cinco Reis, através de 6 km de condutas (água definitiva de Alqueva chega em 2016).

 

O administrador da Herdade do Monte Novo e Figueirinha revela que “estamos à procura de terrenos, com água de Alqueva, para comprar ou arrendar (consoante os preços e a disponibilidade) para aumentarmos a área de novas culturas até cerca de 300 hectares para rentabilizarmos pessoal e máquinas. Culturas como cebola e hortícolas estão nos nossos planos e estamos também muito interessados na beterraba-sacarina”. Sobre a beterraba, Filipe Cameirinha estranha a decisão (aparentemente já tomada) de reativar a refinação em Coruche e não de a instalar no Alentejo, dado que “se o objetivo é produzir 10 000 hectares de beterraba-sacarina no Alentejo, tendo em conta uma média de produção de 90 t dará cerca de 900 milhões de quilos, ora se cada camião transporta cerca de 25 toneladas, estamos a falar de 36 000 camiões que irão transportar a beterraba para a fábrica e voltarão vazios, com um custo de cerca de 400€ por camião, ou seja mais de 14 milhões de euros por ano…”.

Amêndoa é também aposta

Seguindo o que já muitos outros produtores fizeram e aproveitando a escassez da oferta face à procura de miolo de amêndoa no mercado internacional, a exploração vai igualmente plantar um amendoal de cerca de 30 hectares. “Para isso vamos arrancar parte do olival que tem cultivares menos produtivas”, explica o gestor.

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O olival, onde predomina a variedade Cobrançosa, ficará assim com cerca de 140 ha. Daí, em conjunto com azeitona que compra a outros produtores da região, produzem-se cerca de 300 mil garrafas de azeite virgem extra Monte Novo e Figueirinha, extraído a frio e sem filtragem no Lagar da Figueirinha (construído em 2006), com consultoria de João Gomes. A plantação deste olival intensivo foi feita em 2001 e o olival é regado, sendo a apanha da azeitona feita mecanicamente.

Herdade da Figueirinha e Monte Novo 2015/09/03 Eduardo Martins

O azeite representa cerca de 40% da faturação da sociedade e cerca de 70% da produção é exportada para Brasil, França, Bélgica, Japão, Alemanha e Estados Unidos, entre outros.

O lagar trabalha também em prestação de serviço processando, no total, cerca de sete milhões de quilos de azeitona anualmente para marcas da distribuição e outros produtores da região. Mas “com a nova linha que vamos montar, na campanha de 2016 deveremos chegar aos dez milhões de quilos de azeitona”, refere o administrador, acrescentando que “para este ano, se o clima deixar e não houver imprevistos, esperamos uma campanha muito boa, que pode atingir as 12 a 14 t/ha”.

Vinho representa 30% da faturação

A vitivinicultura é também uma das atividades a que a exploração se dedica desde o início, produzindo cerca de 700 mil garrafas de vinho das marcas Intuição, Herdade da Figueirinha, Amnésia, Fonte do Mouro e Leonel Cameirinha, sob a orientação do enólogo Filipe Sevinate Pinto.

Os 40 hectares de vinhas da herdade estão exclusivamente ocupados com castas tintas: Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. A empresa dispõe ainda de 30 hectares de vinha, principalmente de uva branca, na Herdade das Fontes, situada na região da Vidigueira, onde se destaca a variedade Antão Vaz. “Este ano reconvertemos 13 hectares de vinha na Herdade das Fontes e comprámos mais 13 hectares contíguos, onde iremos plantar mais vinha no próximo ano, pelo que ficaremos com 43 hectares na Vidigueira a juntar aos 40 hectares de São Brissos”, conta-nos Filipe Cameirinha.

O gestor da Herdade do Monte Novo e Figueirinha afirma que “o vinho representa cerca de 30% da nossa faturação, que atingiu os quatro milhões de euros em 2014” e adianta que “exportamos cerca de 80% da produção para mercados como Brasil, China, Angola, França, Bélgica, Estados Unidos, Filipinas, Bulgária, Alemanha e Holanda”.

Azeite Monte Novo e Figueirinha (Virgem Extra – garrafas de 0,25 L, 0,5 L, 0,75 L e garrafões de 3 L e 5 L).

 

Marcas de Vinho:

  • Intuição (Branco e Tinto);
  • Herdade da Figueirinha (Reserva Tinto e Branco);
  • Amnésia (Branco, Tinto e Rosé; Tinto e Branco em 375ml e Branco e Rosé em 250 ml PET e vidro)
  • Fonte do Mouro (Branco, Reserva Tinto e Garrafeira Tinto);
  • Leonel Cameirinha (Branco e Tinto, produzido só em anos excecionais).

A Adega da Figueirinha, construída em 2003, tem capacidade de laboração de 1,3 milhões de quilos de uva, prestando igualmente serviços a vários produtores da região.

A vindima é totalmente mecânica e o produtor diz-nos: “Não quero outra coisa, mesmo para os vinhos topo de gama, porque este equipamento dá para afinar de forma a fazer uma apanha muito sensível, praticamente bago a bago, pelo que até é mais seletiva do que a vindima manual. Se virem bem, depois da colheita ficam na videira os cachos (engaços) com as uvas estragadas e secas, a máquina só apanha as boas”.

O vinho e o azeite são comercializados em Portugal através de distribuidores regionais e lá fora por importadores locais. A negociação com a grande distribuição é feita diretamente por Filipe Cameirinha (também diretor comercial), sendo que os vinhos Herdade da Figueirinha estão presentes há muito nas lojas Pingo Doce.

Artigo publicado na edição de setembro de 2015 da revista VIDA RURAL