Para se fertilizar racionalmente, isto é, fornecer às culturas os nutrientes de que efetivamente precisam, nas quantidades e épocas adequadas, preservando, simultaneamente, o ambiente, é necessário não só conhecer o estado de fertilidade do solo, mas também saber se os nutrientes existentes estão efetivamente a ser aproveitados pelo olival.
O olival é a cultura agrícola permanente que maior área ocupa no nosso país (335 841 ha) e está presente em 46% das explorações agrícolas, sendo regados cerca de 20% (INE, 2011). As produções médias são muito baixas (na ordem das 1,2 t/ha), facto que se associa, entre outras razões, ao uso inadequado das práticas culturais mais indicadas para a cultura, entre as quais se encontra a fertilização.
Para se fertilizar racionalmente, isto é, fornecer às culturas os nutrientes de que efetivamente precisam, nas quantidades e épocas adequadas, preservando, simultaneamente, o ambiente, é necessário não só conhecer o estado de fertilidade do solo, mas também saber se os nutrientes existentes estão efetivamente a ser aproveitados pelo olival. É igualmente importante conhecer as necessidades da cultura nos diferentes nutrientes para a obtenção, em cada caso, das melhores produções. Desta forma, para que se possa fazer uma fertilização racional ao olival em produção há que recorrer a meios de diagnóstico e a informação complementar.
Meios de diagnóstico
Quando nos referimos a meios de diagnóstico do estado de fertilidade do solo e de nutrição das culturas, consideramos, respetivamente, a análise de terra e a análise de tecidos vegetais, em que a folha é o órgão mais frequentemente utilizado, sendo por isso vulgarmente designado por análise foliar.
Informação de apoio, complementar ao diagnóstico a efetuar em cada olival, é obtida através da análise da água de rega (se regado), do registo de sintomatologia anómala, sempre que observada e pelo conhecimento das principais características do olival (cultivar, idade, densidade de plantação, sistema de manutenção do solo, produção média, etc.), bem como das principais práticas culturais efetuadas, registadas numa ficha de informação anual que deve acompanhar o material vegetal quando remetido aos laboratórios para análise.
Análise de terra
A análise de amostras de terra, colhidas segundo as normas estabelecidas para a espécie, permite conhecer as características físicas e químicas do solo da parcela onde se encontra instalado o olival, possibilitando a correção do valor de alguns parâmetros (pH, matéria orgânica, fósforo, potássio, etc.) que possam limitar o bom desenvolvimento da cultura. A periodicidade recomendada para a sua realização é, usualmente, de quatro anos.
Análise foliar
A análise foliar é, atualmente, a técnica de diagnóstico mais poderosa que permite caracterizar o estado de nutrição das culturas arbóreas e arbustivas com o objetivo de fundamentar uma recomendação de fertilização racional. A sua utilização assenta na relação existente entre a concentração de nutrientes nas folhas, em determinadas fases do seu ciclo, e o desenvolvimento vegetativo, a produtividade e ou a qualidade da produção. A existência de tal relação significa que a composição mineral das folhas reflete o grau de disponibilidade dos nutrientes no solo e a sua capacidade em alimentar as plantas. Para que seja possível fazer um diagnóstico é necessário saber interpretar os resultados obtidos, o que pressupõe que se tenha estabelecido, previamente, valores de referência para cada um dos nutrientes. Estes serão comparados com os obtidos nas amostras de folhas colhidas nos olivais, permitindo detetar quais os nutrientes que estão em deficiência, em excesso ou num nível adequado.
Devido à variação da composição mineral das folhas de oliveira quer ao longo do ano quer em função da sua idade (podem coexistir folhas de um a três anos), ou mesmo a sua localização na copa, os trabalhos conducentes à obtenção de valores foliares de referência foram efetuados após a definição do tipo de folhas a colher, bem como da época de amostragem. Trabalho experimental efetuado em Portugal, tal como noutros países olivícolas, permitiram definir duas épocas de amostragem para o olival: o endurecimento do caroço (endocarpo), que ocorre normalmente em julho ou agosto, e o repouso invernal, especialmente em dezembro-janeiro. A colheita de folhas no verão é a mais recomendada. No que respeita à idade e sua inserção na copa, as folhas a amostrar são as do terço inferior dos lançamentos da primavera, amostradas em igual número nos diferentes quadrantes, na periferia da copa, em árvores da mesma cultivar. No caso dos olivais conduzidos em sebe, a amostragem incide apenas sobre os dois lados da mesma.
A relevância da análise foliar na avaliação do estado nutritivo da cultura e o conjunto de fatores que influenciam a composição das folhas aconselham a sua utilização todos os anos, de forma a que as recomendações de fertilização tenham em devida conta as necessidades efetivas da cultura no período a que se reportam.
Fertilização de produção
Esta deve ser feita tendo em devida conta os resultados da análise foliar, da análise de terra, da qualidade da água de rega, bem como na informação constante na ficha de informação anual da parcela em causa.
A apreciação dos resultados da análise foliar é efetuada com base nos valores de referência, apresentando-se no Quadro 1 os relativos à época do endurecimento do caroço.
Para efeitos de recomendação de fertilização (Quadro 2), os teores foliares consideram-se insuficientes quando se situam abaixo dos intervalos de variação indicados no Quadro 1 e suficientes se dentro dos referidos intervalos. Nos casos em que os teores foliares se encontrem elevados, isto é, acima dos referidos intervalos, é normalmente dispensável a aplicação desses nutrientes. Casos existirão em que se poderá igualmente dispensar a aplicação de nutrientes quando estes se encontrem dentro do intervalo da normalidade.
A importância da cultivar na composição mineral das folhas, evidenciada em estudos efetuados em Portugal, sublinha a necessidade de obtenção de valores de referência para as principais cultivares do país, permitindo diagnósticos mais precisos e recomendações mais fundamentadas que possibilitarão, em muitos casos, apreciáveis economias. Presentemente existem valores de referência para as cultivares mais difundidas a nível nacional, Galega Vulgar e Cobrançosa, para as duas épocas de amostragem atrás referidas, obtidos no âmbito de projetos liderados pelo ex-Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva.
As quantidades de unidades fertilizantes (que deverão ser depois convertidas em quilogramas dos adubos mais indicados a cada caso) recomendadas para a fertilização do olival em produção, apresentam-se no Quadro 2. Este tem em conta os resultados da análise foliar e a produção de azeitona esperada.
No caso do boro, quando o seu teor foliar é insuficiente, recomenda-se normalmente a sua aplicação por via foliar. Esta poderá ser a forma mais rápida de corrigir a carência de boro, não dispensando, por vezes, aplicações ao solo. Tal como para os restantes nutrientes, as quantidades e formas de aplicação do boro dependerão também do resultado da análise de terra. Sublinha-se aqui o caso particular do boro, cuja carência se encontra largamente difundida nos olivais do nosso país, afetando apreciavelmente a produção, sendo fácil o seu controlo. Todavia, há que ter a certeza da sua necessidade, pois em caso de aplicação em excesso pode afetar negativamente a produção e, em alguns casos, conduzir à morte das árvores.
Tal como acontece noutras culturas, a aplicação “às cegas” de adubos pode conduzir a produções inferiores às que se obteriam se nada se fizesse. A aplicação de quantidades elevadas e ou desajustadas de fertilizantes não é sinónimo, só por si, de boas produções.
Fertilize racionalmente o seu olival. Utilize os meios de diagnóstico de que dispõe. Recorra anualmente à análise foliar. O olival, o ambiente e o seu bolso agradecerão.
Bibliografia
Freeman, M.; Uriu, K. & Hartmann, H.T., 1994. Diagnosing and correcting nutrient problems. In: Olive Production Manual. L. Fergunson, G.S. Sibbett & G.C. Martin (Eds.). Oakland: University of California, Publication 3353, p. 77-86.
INE, 2011. Recenseamento Agrícola 2009 – Análise dos principais resultados. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, 60 p.
Artigo publicado na edição de fevereiro de 2014 da revista VIDA RURAL