Parece batata frita mas é maçã. A fruta desidratada está na moda e multiplicam-se as marcas e ofertas no mercado. Um produto inovador que quer captar novos consumidores numa altura em que o consumo de fruta baixou drasticamente no nosso país.
A crise da economia portuguesa tem levado os empresários a exportar, a ter ideias e a juntar as duas coisas. Uma tradição familiar (mas também portuguesa, em alguns locais) de João Azevedo levou à criação dum negócio inovador que começa a marcar a tendência: fruta desidratada.
A ideia original conduziu à Frutaformas, empresa especializada em transformação de fruta. Situada no Bombarral, área com grande tradição hortofrutícola, a empresa não tem problemas de abastecimento.
À ideia original de João Azevedo juntaram-se novas abordagens, todas elas visualmente gulosas, com embalagens de design cuidado e, sobretudo, saudáveis: 100% fruta. Localizada junto à estação de caminho de ferro do Bombarral, a empresa precisa de espaço para poder aumentar a produção. Equipamento já tem, moderno e funcional, mas a empresa reconhece a falta de área para poder maximizar o seu desempenho.
Neste momento, a Frutaformas procura investidores, para que se possa dar o salto e lançar-se no mercado com novos produtos e embalagens e abordagens segmentadas, explicou à VIDA RURAL Anabela Sá, sócia da empresa.
Fruta, só nacional
Um compromisso de primeira hora foi o de trabalhar apenas com fruta de produção portuguesa.
João Azevedo é proprietário da Azevagro, empresa que há décadas se dedica à produção e comercialização de produtos agrícolas, e o mentor da Frutaformas. Ligado à agricultura, quer como produtor quer como comerciante, especializado em pera rocha, pensou: se a maçã pode dar um snack interessante, porque não outras frutas?
A Frutaformas nasceu em outubro de 2012 e o primeiro grande desafio foi o de conseguir reproduzir, em modo industrial e em quantidade, a maçã desidratada. Acertadas as máquinas à temperatura, humidade e tempo, nasceu a Croca Maçã, em que o produto original é a Maçã de Alcobaça (DOP).
A ideia seguinte foi criar um substituto aos bombons. O público feminino talvez seja mais sensível, até porque os olhos também comem, aos pequenos retângulos que lembram (mesmo) os bombons. Lingotes de Pera Rocha (DOP), Lingotes de Cenoura… e há ainda Lingotes de Maçã (Alcobaça DOP).
Há ainda os Corações de Fruta (a pensar nos namorados – em embalagem que lembra a dos bombons), Delícias de Maçã (de Alcobaça DOP – vendidas em lata), Delícias de Pera (Rocha DOP – vendidas em lata) e Frutinhas, a pensar no público infantil, com ursinhos, bonecos, corações e estrelas (maçã e pera – vendidas em lata com motivos infantis), e com uma consistência a lembrar a das gomas.

Alguns produtos do portfólio da Frutaformas
Anabela Sá contou que há mais ideias a borbulhar nas mentes dos empresários, novos produtos e fruta diferenciada. Mostrou algumas das novidades, mas acrescentou que é “segredo”… ou como se diz na gíria jornalística: off the record.
Cada fruta, cada produto, levou horas de sono a João Azevedo. É que não basta a fruta, há que ter em conta a temperatura, a velocidade da desidratação, o modo do corte e a dimensão do corte… nada é deixado ao acaso.
Anabela Sá não revelou segredos, mas revelou alguns pormenores: “a desidratação pode levar de 18 horas até às 48 horas”. Embora se trate duma unidade industrial, a humidade da fruta e a do ar tem implicações no modo de processar. Cada dia é um dia.

Quem apareceu primeiro, depois da maçã?
A ‘batata frita’ de Maçã de Alcobaça (DOP), visto ser uma tradição familiar, foi o primeiro produto a entrar em produção, em 2012. Os últimos três meses desse ano foram frutuosos: surgiram ainda as Delícias de Maçã e as Delícias de Pera. No final de outubro, a sociedade já pensa no Natal. Assim nasceu a ideia dos lingotes, quer de pera, quer de maçã.
No ano de 2013 surgiu a cenoura, mas a atividade principal foi a de pensar: criar variações dos produtos existentes, novidades de fruta, misturas, embalagens e abordagens… Ou seja, tempo para criar balanço para o desenvolvimento da Frutaformas.
A empresa, com menos de dois anos de idade, começou com a mais pequena das sementes; um capital social de 5000€. O tempo encarregou-se do crescimento. Anabela Sá preferiu não revelar os valores dessa progressão.
A responsável reconheceu investimentos que foram apoiados pelo PRODER, mas nada mais revelou. Disse apenas que a escolha do centro do Bombarral se deveu a um teste ao mercado. A nota conseguida foi positiva, o mercado está disposto a comprar fruta transformada num modo inovador.
Tratando-se de bens alimentares, a questão da validade é fundamental. Os testes obrigatórios indicaram que os produtos “moles” conseguiram já passar a meta de um ano. Os crocantes estão autorizados até seis meses, mas o resultado não é definitivo. Os produtos são novos e não têm termo de comparação, só o tempo em experimentação dirá até quando serão comestíveis em segurança.
Donde vem a fruta? Das árvores, claro
João Azevedo, produtor e negociante de fruta, tem ligações antigas com agricultores. O fornecedor da Frutaformas é a Cooperativa Agrícola dos Fruticultores do Cadaval (Coopval). Quer a pera, quer a maçã contam com Denominação de Origem Controlada. A cenoura, visto não haver DOP, é a comum, escoada pela Coopval.
Não revelando números, nem tampouco o das vendas, Anabela Sá afirmou que as lojas, especialmente as gourmet, já reconhecem a marca e os seus produtos. As vendas ainda não chegaram às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, mas no continente estão em cerca de 150 lojas.
Para já, a exportação tem pouco peso, mas está na mira dos empresários. “Começámos a vender há poucos meses para a Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido” – disse a Anabela Sá. “O nosso mercado-alvo será esse, mas por causa da capacidade de produção – somos ainda muito pequenos – não podemos avançar se não conseguirmos abastecer as necessidades”.
Neste momento, a Frutaformas é detida, em partes iguais pela Azevagro (de João Azevedo) e pela NS Project (detida por Diogo Maurício e Anabela Sá), que se dedica ao conceito e design das embalagens. O ‘salto’ espera apenas quem o queira dar. Anabela Sá não desvendou nem número de interessados nem datas. A avaliar pela compra de nova linha de produção, pode deduzir-se que a novidade pode não tardar.
Além das novidades gastronómicas, no sentido literal de alimento, existe uma filosofia por detrás da empresa. A lista de pressupostos é formada por oito itens: inovação e criatividade pela forma; naturalidade, pois trata-se apenas de fruta, sem qualquer aditivo; qualidade alimentar, visto ser saboroso e saudável; preservação duma tradição; facilidade de transporte; comodidade de longevidade; ausência de glúten e equivalência a um fruto no seu estado natural.
Nota da redação:
Anabela Sá, entrevistada pela Vida Rural nesta reportagem, faleceu alguns dias depois da nossa visita. Não quisemos deixar de publicar esta sua última entrevista, testemunho do projeto que abraçou.