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Cereais em Portugal: ainda há oportunidade de criar valor?

Cereais em Portugal: ainda há oportunidade de criar valor?

A ANPOC – Associação de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais – realizou um estudo para apoiar a identificação de oportunidades para maximizar o valor das produções destas matérias-primas. 

Num contexto de mercado complexo, em que se opera com commodities indiferenciadas, com preço de venda controlados por terceiros, com cadeias de valor de margens muito baixas e controladas por grandes operadores globais, parece que há muito pouco por fazer. Mas a convicção dos produtores é que há, em particular no mercado nacional, espaço para implementar soluções de maior valor acrescentado e espaço para inovar na forma como se gere a produção destas matérias-primas. E há, de facto!

Antes do mais, é importante relembrar que estamos a falar de um setor central da nossa economia. As fileiras responsáveis pela produção de pão, farinha, baby food, massas, cerveja, óleo alimentar, legumes enlatados e rações correspondem a perto de 31% do total da indústria agroalimentar, tendo gerado, em 2011, cerca de 3550 milhões de euros. No entanto, existe um défice brutal entre a procura e a oferta. O destino da produção nacional destas fileiras é o mercado nacional (90% do seu volume de negócios), mas a matéria-prima incorporada no fabrico destes produtos, é essencialmente importada: o peso dos cereais nacionais equivale, em média, a apenas a 12% da procura de matérias-primas nestas fileiras.

As oportunidades de valorização resultantes do estudo realizado foram agrupadas em dois grandes conjuntos:

• Oportunidades de aumento do valor da produção;

• Oportunidades de otimização e de reforço da importância do papel da produção nacional nas várias cadeias de valor.

Nas oportunidades de aumento do valor da produção, incluem-se iniciativas como o aumento da produção de determinadas matérias-primas para satisfazer a procura interna, a substituição de culturas commodity por culturas de maior valor acrescentado e a introdução de culturas de rotação que rentabilizem a ocupação da terra.

Deste conjunto, destaco a oportunidade ligada ao aumento da produção, indo ao encontro da procura interna por satisfazer, aumentando áreas de produção de determinadas variedades e aumento das produtividades unitárias. Desde logo, existe área disponível para aumentar a produção e a produtividade, nomeadamente com o aumento das áreas de regadio, em particular na área de influência da barragem de Alqueva. Mas, muito importante é a possibilidade de substituição de culturas forrageiras por culturas para consumo humano. Por exemplo, temos “espaço” para crescer bastante na oferta de trigos melhoradores em detrimento de trigos forrageiros, nos quais não somos nem nunca seremos competitivos.

Nas oportunidades de otimização incluem-se iniciativas que se prendem com melhor planeamento da produção, maior colaboração com as várias indústrias dispostas a contratar com a Produção nacional e a organização da Produção, desde o cultivo até à comercialização.

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De todas estas oportunidades, a organização da produção tem um papel crucial.

De facto, o aumento de valor da produção pode estar diretamente associado à sua capacidade de organização. A organização da produção pode criar valor a vários níveis, desde o planeamento até à comercialização.

A homogeneização de variedades, concentrando a produção naquelas que trazem maior valor acrescentado, é uma medida concreta que apoia o necessário aumento de escala de produção. A aposta em variedades com maior garantia de escoamento, e que respondam a necessidades identificadas pela indústria, também permite que se possa aumentar a homogeneidade dos lotes. A capacidade de oferta de lotes homogéneos é um requisito essencial para que a indústria aumente a incorporação da produção nacional. Não é possível pedir que um industrial adquira lotes de pequena dimensão e com qualidades muito distintas, quando pode facilmente importar grandes lotes de qualidade uniforme.

Por isso, o trabalho de experimentação de variedades no campo e em parceria com a indústria, promovendo paralelamente o crescimento da adoção de semente certificada pelos produtores, é fundamental para que se possam estabelecer contratos de maior dimensão e duração.

Trata-se de um trabalho que exige a definição de uma estratégia concertada aliada a tempo e a confiança. Tradicionalmente, os produtores destas matérias-primas estão pouco recetivos a manter ou a aumentar a área de produção após um ano de queda de preço; mas nestas, como noutras culturas, é importante avaliar a virtude destas opções por períodos nunca inferiores a 5 anos, ou mesmo a 10 anos.

Pela conjuntura atual, existem condições para agarrar estas oportunidades. Por um lado, é absolutamente estratégico reduzir as nossas importações; por outro lado, existe a vontade manifestada publicamente pelos principais players industriais em aumentar a incorporação de produção nacional e, por último, é evidente a necessidade de apostar na agregação da oferta através de Organizações de Produtores, que serão discriminadas positivamente no próximo período de financiamento (PDR 2014-2020).

É agora, ou nunca!