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Culturas em Alqueva

Herdade Paço do Conde cresce com Alqueva

Paço do Conde Propriedade
Os três irmãos sócios da Herdade Paço do Conde sempre acreditaram que a água de Alqueva ia chegar, mas nunca ficaram à espera. Com um sistema de bombas e canalizações regavam a partir do Guadiana, numa solução a prazo e sempre a ter de racionalizar a água. “O que tínhamos era para aguentar a produção, agora com a água de Alqueva vamos poder produzir o que sempre esperámos e aumentar claramente as produtividades”, diz Pedro Schmidt.

O conjunto de propriedades geridas pela Herdade Paço do Conde, em Baleizão, soma já 3200 hectares, onde “mais de metade foram compras que fomos fazendo, aqui à volta. Só há três áreas separadas, mas perto”, refere o administrador, filho de uma das sócias. “Além dos 50 hectares de vinha que temos na Vidigueira para os nossos vinhos brancos”, acrescenta Pedro Schmidt.

A água de Alqueva chegou poucos dias antes de fazermos a nossa reportagem, a 10 de junho. “Tivemos a água no dia que a EDIA disse, agora é só abrir as torneiras e regar”, afirma o administrador com um sorriso de felicidade. Conta que “quando a minha mãe e os meus tios receberam a herdade de volta, depois da ocupação, estava dedicada à cerealicultura de sequeiro, bem como à criação de ovinos e bovinos, e começaram logo a aproveitar os incentivos que havia para o regadio”.

O tio José António Castelo Branco, também administrador, adianta que “começámos a regar como podíamos, com regadio assistido e através de licenças para bombear água do Guadiana e para fazer barragens, com ajudas comunitárias, o que nos permitiu acumular capital técnico”.

Hoje, têm nove barragens e charcas e duas bombagens do Guadiana com 6,5 km, totalizando uma capacidade de 1,2 milhões de metros cúbicos de água. Mesmo assim, “o que tínhamos era para aguentar a produção, agora com a água de Alqueva vamos poder produzir o que sempre esperámos e aumentar claramente as produtividades”, diz Pedro Schmidt. As produtividades e as áreas: o olival, que começou logo em 1996, atingirá os 1500 hectares no início de 2016 e a vinha, plantada em 1998, “está também a ser aumentada, ficaremos com 200 ha (incluindo os 50 da Vidigueira), no início do próximo ano”, revela o administrador, salientando que “tudo está em produção integrada”.

A certeza de que a água viria

O azeite representa 60 a 70% do volume de negócios da Herdade Paço do Conde e o vinho cerca de 25%, mas produz-se também gado bovino, com duas vacadas cruzadas de Limousine de 300 cabeças cada, uma nos limites da herdade, “em zonas mais inclinadas”, e outra numa das propriedades separadas, e “guardámos as nossas melhores terras para os pivots, sempre a acreditar que quando chegasse a água de Alqueva íamos ter produções muito mais interessantes. São 300 ha onde temos feito várias culturas”, desde o milho aos hortícolas, passando pela luzerna e forragens para os animais, e também papoila, “mas sempre com limitações e a racionalizar a água”, lembra, acrescentando: “só agora é que podemos fazer um verdadeiro planeamento das culturas”, para rentabilizar terra e água.

As vacas vendem para carne e a vacada tem uma taxa de nascimentos na ordem dos 82%. “Já trabalhámos com o Pingo Doce, com vitela e vitelão, mas agora vendemos no leilão da ACOS, em Beja”, que tem uma periodicidade mensal, mas cujas previsões indicam que deverá passar a quinzenal.

“Só há cinco ou seis anos é que houve a certeza de que este Bloco iria ser feito, mas até já estava infraestruturado com olivais e vinhas”, adianta Pedro Schmidt.

O administrador revela que “90% do azeite é exportado a granel para Itália e vendemos, também a granel, para os Estados Unidos, para uma cadeia que tem 190 lojas e vende o azeite em pequenas ânforas de barro, onde está indicado o país de origem e, no nosso caso, também o produtor”.

O responsável conta à VIDA RURAL que “os primeiros olivais eram só para azeitona de mesa porque não podíamos plantar variedades para azeite nesta zona”. Atualmente, nos 1300 hectares de olival intensivo as variedades plantadas são Arbequina (40%), Picual (30%), Cobrançosa (25%) e Frantoio (5%), em compassos que “começaram por ser de 7 x 7, depois 7 x 6, 7 x 5 e mais recentemente apertámos para 6 x 4”, afirma Pedro Schmidt. A estes vão juntar-se os 200 hectares de olival superintensivo da cultivar Arbequina, que “estão a ser plantados com um compasso de 7 x 1,5”, explica Filipe Castelo Branco (filho de José António Castelo Branco e que também já trabalha na herdade).

Duplicar capacidade do lagar e da adega

A água permite assim concretizar os novos projetos de aumentar áreas e produção, pelo que está em curso também a ampliação do lagar, que tem hoje uma capacidade de extração pura de 12 milhões de quilos de azeitona, para os 30 milhões de quilos, mais do que duplicando, “o que irá acontecer já nesta campanha”, diz Pedro Schmidt, adiantando que “daqui a quatro ou cinco anos esperamos moer dos nossos olivais cerca de 16 milhões de quilos de azeitona e prestar também serviços para terceiros”.

“Na última campanha, o lagar processou cerca de 7,8 milhões de quilos de azeitona, dando origem a um milhão de quilos de azeite, uma vez que ainda há muito olival que está no início”, frisa José António Castelo Branco.

O administrador revela que “90% do azeite é exportado a granel para Itália e vendemos, também a granel, para os Estados Unidos, para uma cadeia que tem 190 lojas e vende o azeite em pequenas ânforas de barro, onde está indicado o país de origem e, no nosso caso, também o produtor”.

Em Portugal o azeite é comercializado sob a marca Paço do Conde e vendido em garrafas de 0,5 e 0,25 L e garrafões de 3 e 5 L.

Também a adega, que pode produzir até 1,5 milhões de garrafas, será alvo de um projeto de duplicação desta capacidade. “Tudo vai crescendo gradualmente”, diz-nos Pedro Schmidt e acrescenta: “O projeto inclui também uma parte dedicada ao enoturismo, com uma sala de provas, uma loja e uma sala de refeições com cozinha e pátio. Hoje recebemos as pessoas aqui na sala de barricas mas, por vezes, também em nossas casas, quando são grupos de distribuidores, por exemplo”.

O administrador salienta que “sempre houve um esforço muito grande dos sócios em reinvestir na empresa, porque, felizmente, não precisam diretamente dos rendimentos da herdade para viver”.

A herdade está também a construir um projeto de reutilização de toda a água do lagar e da adega, através da armazenagem em lagoas de evaporação, que passará depois por uma ETAR e, após análises, servirá para rega.

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Castas nacionais predominam

As castas Aragonez, Trincadeira, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah representam 75% das variedades tintas plantadas na Herdade Paço do Conde, mas há também Touriga Franca, Petit Verdot, e Merlot, bem como algum Castelão, “que é uma casta que demora mais tempo a atingir o nível de qualidade”, diz o sócio da exploração, acrescentando: “E Cabernet Sauvignon, que dá um bom aroma, vinhos mais complexos e com potencial de envelhecimento”.

Na Vidigueira, em vinhas plantadas no século passado, as castas são Antão Vaz (80%), Arinto, Roupeiro, Rabo de Ovelha, Verdelho e Viognier.

A enologia é orientada por Rui Reguinga e a consultoria de viticultura pela ATEVA. A empresa aposta em duas marcas: Paço do Conde e Albernoas, mas tem também a Vilares (marca de entrada) e que “trabalhamos mais para exportação”, refere Pedro ­Schmidt, adiantando que “o mercado nacional foi um pouco esquecido pois exportamos cerca de 80% da nossa produção”. A aposta foi em países como o Canadá, “onde o Albernoas é o 2.º vinho português mais vendido no mercado”, e também no Brasil, Angola, Suíça, Alemanha, Holanda e China. “Estamos em cerca de, apenas, dez países, mas onde estamos, estamos bem”, frisa o administrador.

“Em Portugal, decidimos reinventar o projeto fazendo a distribuição própria dos nossos vinhos, montando a marca a partir daqui”, afirma Pedro Schmidt, explicando como estão a proceder: “Vendemos diretamente para grandes superfícies como a Auchan e os Intermarchés de Beja e Serpa, onde temos as marcas Paço do Conde e Albernoas, e através de 55 distribuidores comerciais regionais, controlados por um diretor comercial, que trabalham os Intermarchés, o HoReCa, garrafeiras e os supermercados ‘boutique’”.

A Herdade do Paço do Conde tem 32 tratores e outras máquinas agrícolas e um quadro fixo de 60 colaboradores, todos da região, “mas na época das vindimas e apanha da azeitona contratamos mais cerca de 100 pessoas, durante três meses, primeiramente aqui da região e depois recorremos a uma empresa de mão de obra.”

Da marca Paço do Conde o produtor faz vinho Tinto, Branco, Rosé, Colheita Selecionada (Tinto e Branco) e Reserva (Tinto, o Branco será lançado depois do verão) e em outubro do ano passado lançou o Winemaker Selection (Tinto Premium). Dos Albernoas a empresa tem as gamas Tinto, Branco, Bag-in-Box (Tinto e Branco) e Reserva (Tinto), enquanto da marca Vilares aposta em Tinto, Branco, Bag-in-Box (Tinto) e Reserva (Tinto).

Aposta na diversificação cultural

“Agora queremos ter os 300 ha de pivots a produzir em pleno, seja com o que for”, diz o responsável, “vamos estudar quais as melhores culturas, reativar parcerias, que tivemos de abandonar porque como a água não era suficiente, guardávamos para a vinha e o olival”. A vinha está instalada nos solos mais fracos, “porque não queríamos grandes produções mas sim privilegiar a qualidade”, diz Pedro Schmidt, salientando que “as terras intermédias e algumas boas ficaram para o olival”.

A exploração já fez melão, meloa e melancia para a Luís Vicente e cebola para a McDonald’s, através do seu fornecedor, a INEASA do grupo Vegenat, e vai agora fazer brócolos para a Monliz. O administrador explica que “para já serão apenas 10 hectares, porque a empresa quer ver se adquirimos know-how, mas depois, se tudo correr bem, faremos mais e talvez também outras hortícolas”.

Pedro Schmidt defende, todavia, que “falta na região um agrupamento de produtores forte ao nível dos hortícolas que possa negociar contratos com a grande distribuição, por exemplo”.

Para comercialização através da Cooperativa de Beja e Brinches, “fizemos também milho e girassol. Apostámos em 50 ha de milho porque tínhamos as barragens cheias, corremos o risco…”.

A herdade tem também 110 ha de papoila, que estava mesmo na fase de corte quando visitámos a herdade. “É uma cultura muito interessante, que está fora do perímetro porque não consome muita água, e é boa para rotação uma vez que só se pode fazer de quatro em quatro anos”, refere o responsável, salientando que “temos contratos com a MacFarlan Smith e com os australianos da TPI Enterprises e a papoila é vendida seca, precisando apenas de uma ceifeira normal para cortar o que é valorizado: o pé e a cabeça”.

A farmacêutica escocesa MacFarlan Smith já tem uma unidade na região para o armazenamento e processamento da papoila, nomeadamente a separação das sementes do resto das plantas e, numa segunda fase, para extrair morfina para fins medicinais.

O administrador diz-nos ainda que “vamos deixar também uma área de 40 a 80 hectares para fazermos pastagens e forragens para acabamento dos vitelos e alimentar o gado, como luzerna, pois a área de pastagem das vacas tem estado a encolher”. Todavia, a exploração fez já 17 hectares de sorgo para forragem, “de regadio, mas com pouca água”.

O responsável anuncia ainda que “vamos fazer também Montanheira, com 80 leitões Alentejanos certificados que vamos comprar em Portugal e fazer a engorda durante cerca de ano e meio numa das herdades que temos, com cerca de 600 hectares de azinheira (90%) e sobreiro.

A Herdade do Paço do Conde tem 32 tratores e outras máquinas agrícolas e um quadro fixo de 60 colaboradores, todos da região, “mas na época das vindimas e apanha da azeitona contratamos mais cerca de 100 pessoas, durante três meses, primeiramente aqui da região e depois recorremos a uma empresa de mão de obra”, diz Pedro Schmidt.

Artigo publicado na edição de julho/agosto de 2015 da revista VIDA RURAL