Na Herdade do Pombal, em Estremoz, os pomares juntam-se às vinhas. Os preços das prunóideas tem descido e no vinho há muita concorrência. Todavia, o caminho é para avançar, mas na fruta há muita para descobrir.
O concelho de Estremoz era conhecido pelas searas, vinhas e, fora da agricultura, por pedreiras de mármore. Porém, há quem esteja atento a oportunidades na lavoura. É o caso de José Manuel Anjinho que optou pela produção de ameixas e damascos.
Até 1998, a Herdade do Pombal, em Glória – Estremoz, dedicava-se aos cereais e aos rebanhos de ovinos. Esse é o ano de referência para a mudança de paradigma, mas dois anos antes foram plantadas as primeiras vinhas.
A Herdade do Pombal é formada por 120 hectares, parte argilocalcários, onde estão os pomares e alguma vinha, e parte de xisto, ocupado por videiras. A vinha estende-se por 30 hectares, os pomares estão em 12 hectares e o restante território é de pastagens de feno, produto vendido.
Nascido no seio duma família de agricultores, José Manuel Anjinho só assumiu a produção em 2004, com ajudas dadas a jovens agricultores. A terra é arrendada à sociedade unipessoal da sua mãe. Antes trabalhou na área dos animais, visto ter-se formado em zootecnia, pela Universidade de Évora. Em 2000 juntou-se à casa agrícola que hoje dirige.
Além das culturas principais, havia na Herdade do Pombal uma zona de pomares, povoado por ameixeiras de Rainha Cláudia, cujos frutos eram vendidos na região. Tratava-se dum pomar antigo, não intensivo e de sequeiro.
Nos anos de 2007 e 2008 foram realizadas novas plantações e arrancado o antigo. Hoje, de ameixa Rainha Cláudia tem seis hectares e de Red Beauty tem dois hectares desta cultivar precoce. Os alperces são das variedades Berga Rouge, Gold Bar e Robada.
As prunóideas gostam de disponibilidade de água, mas exigem solos bem drenados. Por isso, o investimento inicial implicou obras para drenagem, de pedreja e de ripagem.
Em Portugal, o conhecimento disponível é pouco quanto às cultivares que melhores se adaptem aos locais – crítica partilhada pelo seu colega de Borba, João Mota Barroso, professor de fruticultura na Universidade de Évora.
Os pioneiros portugueses andam um pouco às cegas, recolhendo informação e partilhando experiências. José Manuel Anjinho está desapontado com a Red Beauty, que este ano correu mal. É uma variedade que não dá certezas, pelo que o seu arranque está a ser ponderado por este agricultor de Estremoz. A Berga Rouge também não está a conseguir produções satisfatórias, pelo que, a continuar assim mais dois ou três anos, será arrancada.
“O problema das [cultivares] precoces é a floração no Inverno. Fazem a floração com chuva, o que diminui imenso o que se vai buscar. Este ano a Red Beauty vai dar zero”. A variedade é aneira, há dois anos deu duas toneladas por hectare e no ano passado apenas 540 quilogramas.
A Berga Rouge parece ser interessante, mas diz não ter ainda experiência para opinar. A Robada e a Gold Bar estão a produzir bem, com cerca de 12 000 a 13 000 quilogramas por hectare. A comercialização é feita principalmente através da Organização de Produtores Fruteco. José Manuel Anjinho vende também a um intermediário comercial que coloca a fruta no estrangeiro, sobretudo para a Grã-Bretanha, alguma para França e um pouco para Espanha.
Quanto a rentabilidade, José Manuel Anjinho diz que os preços têm vindo a baixar. “A mais-valia que esperávamos não tem vindo a acontecer e deve ser manter ou baixar, mas depende dos calibres”.
José Manuel Anjinho acredita no futuro desta fruticultura. Mesmo com Espanha ao lado. A razão é a qualidade. “Importamos muito de Espanha e fruta muito pior do que cá. Parece que nem é escolhida”.
O pomar é regado com água de furos. Sabe que as árvores são exigentes em termos de quantidade, mas não arrisca valores de consumo. Todas as árvores do pomar estão plantadas com um compasso de seis por quatro metros.
A apanha é toda manual “e caríssima”. A causa é o número de vezes que os camponeses têm de ir às árvores apanhar a fruta, que é colhida no ponto ideal de maturação, explica José Manuel Anjinho. O custo da mão de obra representa 30% do total das despesas. A Herdade do Pombal dá emprego a sete trabalhadores e contrata eventuais, cujo número vai de 20 a 30 pessoas.
A colheita dos alperces começou no início de junho e terminou em meados. A Rainha Cláudia costuma ser colhida entre a última semana de julho e a primeira de agosto. A Red Beauty é apanhada na segunda semana de julho.
A maior ameaça dos pomares é a moniliose. Coelhos bravos e lebres roem as tubagens da rega, mas o produtor não parece demasiado incomodado com o facto.
Embora lamente a falta de conhecimento existente em Portugal, a experiência tem sido positiva, de modo que tenciona plantar mais três hectares de fruteiras, mas não se decidiu se será para alperces ou para Rainha Cláudia.
Além da pouca informação, este agricultor de Estremoz acusa os vários Governos de não traçarem uma política agrícola concertada. “Perdemos a beterraba, que era óptima, Devíamos ter negociado mais quota e termos mais três ou quatro fábricas”.
O vinho é uma aposta
As vinhas, plantadas em 1996, deram o primeiro vinho comercializado em 2001, posto à venda no ano seguinte. Em 2003, a Herdade do Pombal realizou todo o processo de transformação. Para dominar a nova cultura, José Manuel Anjinho fez um curso de mestrado em viticultura e enologia, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa.
Nos 30 hectares de vinha destacam-se as videiras de Trincadeira, com nove hectares e de Aragonês, com três hectares. O espaço restante tem as castas tintas Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional e Alicante Bouschet. As castas brancas são Antão Vaz e Arinto. A vindima é toda feita à mão e realizada por casta. A vinha não é regada e o compasso da plantação é de 2,8 por 1,10 metros.
A adega, construída em 2003, tem uma capacidade instalada que permite a vinificação até 150 000 litros. O número de referências não é grande: colheita branco (cerca de 2000 garrafas), colheita tinto (entre 80 000 e 100 000 garrafas), reserva tinto (entre 10 000 e 15 000 garrafas). Em alguns anos produz rosé, cuja quantidade tem rondado as 10 000 garrafas.
Portugal é o principal consumidor dos vinhos da Herdade do Pombal, representando entre 60% e 70% das vendas. Angola, Luxemburgo, Suíça, Estados Unidos da América e China são também apostas comerciais.
As vendas de vinho representam entre 70% e 80% do negócio da Herdade do Pombal. José Manuel Anjinho, que vende sobretudo através do canal Horeca, tem sentido a crise. Segundo explica, existe uma grande pressão sobre os preços, fruto do grande aumento da área de vinha, que em poucos anos passou de 13 000 para 21 000 hectares, com um “aumento exponencial do número de produtores”.
Este vitivinicultor de Estremoz diz não ter dúvidas de que, no setor do vinho em Portugal, “nunca houve tantas marcas, tão boa qualidade e tão barato como agora”.
Ainda assim, José Manuel Anjinho tenciona voltar a investir na vinha, “até porque este quadro Vitis é recompensador”, nomeadamente a fração de fundo perdido. Não tem datas, mas irá avançar para castas tintas, “talvez um pouco de branco”, apesar dos sinais do mercado estarem a apontar para crescimento das vendas de vinho branco.
A ideia de José Manuel Anjinho é a de retirar a vinha dos solos argilocalcários e plantar nas zonas xistosas, permitindo libertar área de composição favorável às fruteiras, onde poderá cultivar mais árvores.
O enólogo da Herdade do Pombal é Jaime Quendera. Quanto à vinificação, fazem-se macerações longas, por casta e por lote. São utilizadas barricas de carvalho francês de primeiro ano para o reserva e de segundo, terceiro e quarto anos para os colheitas.
José Manuel Anjinho enumera as características do seu território e que, segundo diz, permitem frescura ao vinho ali produzido: altitude entre os 400 e os 500 metros, precipitação anual de 700 metros cúbicos, temperaturas mais baixas do que noutras zonas do Alentejo – “tem sempre menos dois graus do que em Évora, seja no verão, seja no inverno” –, localização a norte da Serra d’Ossa, clima com alguma continentalidade, em que os ventos dominantes vêm de norte e de Espanha. Estas características permitem que as maturações alcoólica e fenólica se deem nos momentos ideias, sublinha.
Arigo publicado na edição de julho/agosto de 2014 da revista VIDA RURAL