Quantcast
Pecuária

Melhoramento do desempenho da vaca aleitante na produção de vitelos

vitelos Vida Rural

Se se analisar o equilíbrio económico das realidades produtivas europeias especializadas na engorda dos animais importados, principalmente provenientes França, resulta que o custo do vitelo tornou-se tão proibitivo que afeta o resultado económico da criação.

O Melhoramento do desempenho da vaca aleitante é certamente uma oportunidade para a pecuária de carne, não só num contexto de rentabilização de áreas de colinas e montanhas baixas, dificilmente exploráveis, mas também como uma válida orientação produtiva para realidades agrícolas de planície.

É indiscutível que no futuro, na Europa, não existirão vitelos para engorda devido à falta de vacas em aleitamento e a França não poderá, por si só, satisfazer a forte procura de vitelos que atualmente não está limitada à Europa, mas também afeta países como a Turquia, o Líbano e o Magrebe, condição que contribui para o aumento dos preços do vitelo de alta qualidade genética para a habitual lógica do equilíbrio entre oferta e procura.

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 1

Portugal encontra-se numa posição privilegiada, já que o número de vacas em aleitamento para carne, considerando a população bovina existente, está entre os maiores da Europa (tabela 1).

Este aspeto é uma vantagem porque torna Portugal autónomo no fornecimento de vitelos para engorda, crucial para a economia de todo o setor. Na verdade, se se analisar o equilíbrio económico das realidades produtivas europeias especializadas na engorda dos animais importados, principalmente provenientes França, resulta que o custo do vitelo tornou-se tão proibitivo que afeta o resultado económico da criação. A amortização da diferença entre o preço de compra e o preço de venda do vitelo francês é, de facto, o segundo item de maior custo depois da alimentação.

É óbvio que a autossuficiência nos vitelos deve apontar para uma melhoria contínua da qualidade dos animais para engorda a fim de otimizar o resultado económico.

É sabido que os vitelos num estado nutricional de saúde e de desenvolvimento não ideal têm um desempenho medíocre também durante a engorda, com repercussões negativas que se estendem à qualidade da carne. Por conseguinte, é fundamental, num contexto europeu mas também global, no qual a disponibilidade dos vitelos representa um ponto crucial de todo o processo de produção, apontar para uma melhoria precisa e contínua da gestão, a fim de otimizar os resultados zootécnicos e económicos das muitas realidades presentes no nosso território, mas caracterizadas pelo desempenho de produção (vitelos nascidos por ano, condições de saúde e de crescimento), certamente melhoráveis.

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 2

Objetivos e problemas na linha de produção de vacas aleitantes

A fim de maximizar o rendimento da criação da linha vaca-vitelo é necessário estabelecer os seguintes objetivos:

  • Obter o maior número de vitelos desmamados por ano, aspeto intimamente ligado à fertilidade e prolificidade das vacas e à taxa de abortos e de mortalidade neonatal e perinatal.
  • Produzir vitelos saudáveis e em conformidade, objetivo que pode ser alcançado através de uma adequada gestão nutricional e sanitária das vacas e dos vitelos e uma cuidadosa seleção genética.
  • Reduzir os custos de produção, otimizando a alimentação e limitando as intervenções farmacológicas.

A realização destes objetivos, no entanto, é dificultada por questões como a mortalidade (7-30%), a morbilidade (18-40%) e efi­ciência reprodutiva reduzida, frequente neste tipo de produção.

O momento do nascimento

As questões relacionadas com o periparto são fortemente influenciadas pelas condições ambientais e pelo estado físico-metabólico da vaca no momento do parto.

Uma adequada gestão nutricional da vaca, especialmente nas fases finais da gestação, é um fator que pode influenciar amplamente a suscetibilidade do vitelo para doenças.

Neste período, a administração de dietas com conteúdo energético e proteico insuficiente determina na vaca, por um lado, um aumento dos níveis sanguíneos de cortisol e, por outro lado, uma diminuição na produção de colostro e uma deterioração da sua qualidade. Isto provoca uma menor vitalidade e capacidade de resposta no vitelo e numa menor absorção das imunoglobulinas do colostro.

Ao mesmo tempo, as dietas com um nível de energia que excede as necessidades, aumentam a incidência das distocias, colocam em risco a saúde e a vitalidade do vitelo. Os partos difíceis, a causa quase total de natimortos, encontram-se mais facilmente nas vacas no primeiro parto, particularmente nos animais excessivamente gordos ou com gestações prolongadas, em combinação com uma escolha incorreta do touro.

A observação constante e cuidadosa das vacas gestantes é essencial para se poder dar assistência ao parto. Cerca de 70% de partos ocorrem à tarde ou à noite, e com uma maior incidência em vacas no primeiro parto em comparação com multíparas.

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 3

Período pós-parto

banner APP

O primeiro mês de vida do vitelo é o período mais crítico de todo o processo de criação, caracterizado por um aumento da mortalidade. As patologias entéricas e septicemias neonatais são as principais causas, juntamente com natimortalidade, as mortes e, consequentemente, as perdas produtivas e económicas. Entre os pontos de maior importância na limitação destas questões encontram-se uma adequada profilaxia vacinal e antiparasitária da vaca, a administração de colostro e a disponibilidade de uma área dedicada ao parto. O bem-estar do vitelo depende principalmente da imunidade passiva transferida através do colostro da mãe e da carga microbiana do ambiente no qual está localizado.

Uma ingestão adequada de colostro de boa qualidade é o ponto crucial para otimizar a saúde e o crescimento do vitelo. O estado nutricional inadequado da vaca resulta num colostro de qualidade inferior com o risco de não atingir, no vitelo, o conteúdo de imunoglobulinas séricas reconhecido ideal para uma prevenção eficiente das patologias e que é superior ou pelo menos igual a 10 g/l, resultando num aumento dramático na mortalidade, bem como uma redução no crescimento.

Nas fases posteriores da vida, para além de uma boa saúde, um papel decisivo é desempenhado pela disponibilidade de uma alimentação especial para o desmame e de água, ambas em abundância.

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 4

Pontos-chave para melhorar o desempenho das vacas aleitantes

Para melhorar a eficiência de produção das vacas aleitantes, a atenção deve ser colocada sobre o maneio nutricional da vaca e sobre a integração da dieta do vitelo nos primeiros meses da vida.

Explorações onde as vacas e os vitelos estão, sem integração, durante muitos meses nas pastagens acabam por ter resultados ineficientes, com vitelos que não crescem e vacas que não ficam gestantes e perdem peso.

Uma gestão nutricional adequada da vaca em aleitamento, mesmo que implique a necessidade de utilizar um suplemento à pastagem com uma ração formulada especificamente, traduz-se numa melhoria da produção e qualidade do colostro e do leite, da percentagem de vacas que entram em estro precocemente, da percentagem de vitelos desmamados e do seu peso no desmame, bem como o início da puberdade na descendência feminina. Estes aspetos compensam amplamente os custos associados com a melhoria da pastagem ou com a integração com alimentos, transformando uma exploração com saldo negativo numa exploração lucrativa.

A importância de um fornecimento adequado de nutrientes na vaca afeta a quota energética e vários estudos mostram também o papel crucial que a proteína assume. A quantidade correta de proteína traduz-se numa melhoria, tanto no desempenho de vitelos para engorda (tabela 3), como no desempenho reprodutivo das fêmeas (tabela 4).

O importante papel desempenhado pela ingestão adequada de nutrientes sobre o desempenho do vitelo também é referenciado no trabalho de Larson et al. (2009), em que a integração da dieta da vaca com uma alimentação proteica é determinante no desenvolvimento do vitelo, no seu sistema imunológico e na sua capacidade de resposta imunitária, para reduzir a incidência de doença respiratória durante a fase sucessiva de engorda.

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 5

VR 1794_PECUÁRIA_TABELA 6

Tem também um papel importante a correta satisfação das necessidades do vitelo, fator muitas vezes inesperado dado que, com o progresso da lactação, diminui a produção de leite de vaca, e este aspeto, mesmo na presença de um excelente pasto, não permite ao animal jovem manifestar todo o seu potencial de crescimento. É por esta razão que os bons criadores, apostam na integração de pasto com uma alimentação especificamente formulada deixada à disposição em abundância aos vitelos. Este aspeto, além de melhorar o crescimento, a saúde do vitelo, o balanço económico da empresa, traduz-se num melhoramento da fertilidade da vaca que, não utilizando excessivamente as reservas corporais, manifesta mais cedo cio e antecipa o novo ciclo reprodutivo. A integração do pasto com a ração melhora também a resposta imunitária do vitelo que é, portanto, capaz de superar mais facilmente os eventos stressantes que caracterizam a passagem do pasto para a fase de engorda (tabela 6).

Conclusões

Nos sistemas de produção de vacas aleitantes, confinado ou em pastagem, o bem-estar animal, o ambiente e a gestão têm um papel importante nas capacidades de produção, tal como ocorre na produção intensiva. Os dados divulgados mostram como, numa exploração bem gerida, são mais elevados o crescimento, o estado de saúde do vitelo e o desempenho da produção da vaca, com resultados económicos muito importantes no balanço da empresa.

Em geral, mas especialmente no caso das pastagens não ideais, a suplementação alimentar da vaca traduz-se de facto, por um lado, na redução do intervalo entre os partos, chegando ao objetivo de um vitelo por ano, por vaca e, por outro lado, ao nascimento de vitelos mais resistentes, em especial de doenças neo­natais e respiratórias na fase do desmame e fases sucessivas. Os vitelos também são caracterizados por melhores desempenhos de crescimento com pesos no desmame significativamente maiores. Também a integração do vitelo com uma alimentação específica, traduz-se numa melhoria no crescimento e na fertilidade da vaca.

Em conclusão, retém-se que, uma maior atenção à gestão da vaca aleitante, representa uma grande oportunidade económica para os nossos criadores, porque leva à produção de um bem, o vitelo para engorda, que é e será indiscutivelmente requerido pelo mercado nacional e internacional.

Artigo publicado na edição de fevereiro de 2014 da revista VIDA RURAL