A agricultura está a atrair cada vez mais jovens empreendedores da área tecnológica, que apostam no desenvolvimento de soluções que permitem ao produtor monitorizar a sua exploração, fazer (quase) todas as tarefas via smartphone ou encontrar rapidamente produtos e informação sobre o setor. Mas há também quem facilite a ligação entre os pequenos agricultores e os clientes ou forneça veículos, movidos a energia limpa e versáteis para as várias operações culturais. A VIDA RURAL falou com algumas startups na área tecnológica e dá-lhe conta das novidades numa semana dedicada aos novos empreendedores tecnológicos.
WiseCrop: (quase) tudo em um
O WiseCrop é um sistema de apoio à decisão do agricultor, baseado numa tecnologia inovadora de envio de dados sem fios que os jovens Tiago Sá e Sandro Vale desenvolveram na universidade. “Olhámos para diversos setores, entre eles a agricultura, e criámos este produto sobre essa tecnologia”, conta Tiago Sá um dos administradores da WiseConnect.
A startup participou na etapa nacional, coordenada pela ANJE, do TechMatch Global e foi escolhida para a final internacional realizada em Bratislava, onde “estivemos durante uma semana a fazer contactos com investidores internacionais”.
O administrador explica à VIDA RURAL que o sistema baseia-se numa série de sensores que são instalados, podendo integrar qualquer tipo de sensor que exista no mercado, que dão informações como temperatura, humidade, velocidade e direção do vento, radiação solar, humidade do solo, entre outras, sendo disponibilizadas online desde o momento da instalação do sistema e podendo ser exportadas para tratamento posterior.
Indicadores de risco
O WiseCrop integra também os dados de um serviço de previsão meteorológica já existente e com tudo isto, “o software disponibiliza ao agricultor uma Ferramenta de Indicadores, que inclui três tipos de indicadores”, refere Tiago Sá. Indicadores Bioclimáticos, como graus/dia, horas de frio, etc., que permitem estimar quando vai haver alterações fenológicas na planta, mas também Indicadores de Risco de doenças e pragas, baseados em modelos agronómicos, que dão uma indicação de probabilidade de ocorrência em quatro níveis – sem risco, risco baixo, risco médio ou risco alto; os indicadores incluem também modelos de aviso de geada, rajadas de vento e escaldão, que além dos dados medidos no campo, têm igualmente em conta as previsões meteorológicas. E, por último, “tem também um módulo de Indicadores de Persistência de Tratamentos, onde o agricultor regista os tratamentos que faz e, de forma gráfica, a ferramenta indica-lhe quantos dias faltam até que o produto perca efetividade”.
Além desta Ferramenta de Indicadores, o WiseCrop inclui igualmente um Sistema de Alertas, alguns automáticos e outros personalizáveis e uma Ferramenta de Rega que “como estamos a monitorizar a evapotranspiração, temos dados da humidade no solo e a previsão meteorológica, podemos calcular quanto deve regar para repor na planta a água que ela perdeu”, salienta o administrador.
O sistema pode também controlar remotamente o sistema de rega, até os já existentes nas explorações, “desde que o programador tenha um módulo GSM, conseguimos integrar”.
Um tablet basta
Tiago Sá acrescenta que “o sistema tem também uma componente de ‘inteligência artificial’ que lhe permite, por exemplo controlar e manter as condições de um ambiente fechado, como uma estufa, mantendo a temperatura e humidade, de acordo com a infraestrutura disponível.
O WiseCrop inclui ainda uma Ferramenta de Fertilização, uma Ferramenta de Caderno de Campo e outra de Gestão de Tarefas.
“No caso da fertilização fazemos a ponte entre o técnico da exploração e o laboratório de análises, garantindo que são feitas as análises periódicas (programadas pelo produtor) ao solo, às folhas e água, e que o produtor recebe os resultados rapidamente, para que o técnico possa fazer/ajustar o cronograma nutricional”, explica, adiantando que “no caso do Caderno de Campo, a nossa ferramenta ajuda o produtor a preenchê-lo com todas as operações culturais, tratamentos, podas, etc., – estando preparado para Proteção Integrada, Produção Biológica e até certificação GlobalGap – para que no final da campanha seja só imprimir”. Já a ferramenta de Gestão de Tarefas, implica um tablet ou ecrã tátil, colocado num local onde todos os colaboradores, ou grupos de colaboradores, passem no final das suas tarefas e onde, de forma simples e rápida possam registar o que fizeram e quanto tempo levaram, “o que permite calcular o custo total de mão-de-obra de cada operador, o custo/hora ou o custo da parcela e quando o agricultor vender o seu produto, apurar o retorno por parcela ou por hectare”.
O administrador conclui que “todas as ferramentas podem ser comercializadas separadamente ou em packs. O WiseCrop é um sistema que permite a integração de várias ferramentas e soluções, podendo também vir a incluir informações de drones e satélites, entre outros serviços de outras empresas com quem possamos vir a trabalhar”, integrando tudo numa só plataforma. E a versão 2 do WiseCrop já está em desenvolvimento para ser lançada no segundo semestre de 2016.
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