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Pecuária Extensiva

Como ter uma exploração autossuficiente

Joaquim Capoulas Monfurado pecuária extensiva Vida Rural
A Monfurado Sociedade Agropecuária é uma exploração autossuficiente, onde a produção de bovinos Salers, puros para reprodutores e cruzados para carne, bem como ovinos Merinos para carne e Suffolk para genética, se integra com o montado e a produção de silagem e feno para suplementar os animais. O produtor, Joaquim Capoulas, também presidente da APORMOR, diz que “a produção pecuária está num ponto de viragem em que os produtos começam a ter alguma rentabilidade, principalmente devido à exportação”.

“Nos bovinos optei pela raça Salers porque são animais muito rústicos e perfeitamente adaptados ao extensivo”, conta-nos Joaquim Capoulas, sócio-gerente da Monfurado Sociedade Agropecuária a meias com o irmão, gerindo a propriedade que visitámos, no Escoural (Montemor-o-Novo), com 900 hectares, e outra ali perto com 1.300ha.

Todas as 160 vacas que ali tem são Salers puras e dividem a herdade com 1.000 ovelhas Merino e “um núcleo de 22 Suffolk e 14 Merino Precoce”.

O produtor explica que “trabalhamos a genética nas Salers, Suffolk e Merino Precoce” e “50 das vacas são cruzadas com Charolês para a produção de carne”. Joaquim Capoulas vende estes animais para recria nos leilões da Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo (APORMOR) – a que preside –, com sete a oito meses.

Já na linha pura Salers a opção do produtor vai para a venda de reprodutores com 15/20 meses, “para compradores que já nos conhecem ou que nos chegam através de outros clientes”, afirma o produtor, salientando que “nesta área funciona muito o ‘passa a palavra’”.

Nas ovelhas Merino, o destino da produção também é a carne, sendo os borregos vendidos igualmente nos leilões da APORMOR, com três/quatro meses.

A exploração inclui ainda uma suinicultura intensiva, “com 100 porcas reprodutoras, mas este é um negócio um pouco à parte de tudo o resto que está mais integrado, mas aproveitamos o estrume para fertilizar as terras”.

A campo, no montado

Os animais estão sempre com as mães no campo até aos cinco meses no verão e seis/sete meses na primavera, “porque há mais comida”. Depois estão cerca de um mês na área de recria para passar o stress do desmame, antes de serem carregados no camião e transportados para o leilão. “O desmame é sempre uma altura crítica, pelo que mantemos os vitelos o mais próximo possível das mães durante três dias, para que se possam cumprimentar e lamber”.

Joaquim Capoulas explica à VIDA RURAL que “todos os animais andam a campo, com pastagem natural, no montado. As vacas andam em cerca de 400 hectares e as ovelhas noutros 400 hectares” e acrescenta: “nos restantes 100 hectares temos as áreas sociais e fazemos culturas de primavera/verão e também de outono/inverno, nas terras de cultivo”. No outono/inverno faz, normalmente, duas culturas em consociação, como “triticale e aveia. Mas também fazemos leguminosas, como ervilhaca”, mas “é importante termos sempre área em vazio para os animais rodarem”.

O montado da propriedade é cerca de 70% de sobro e 30% de azinho e “uma das nossas grandes preocupações é com a gestão do montado, porque a cortiça é um dos rendimentos principais da exploração. Todos os anos temos tiragem em algum dos parques da herdade”.

Além da APORMOR, o produtor trabalha com o Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) de Montemor, que se responsabiliza pela sanidade dos animais, mas também “tenho um médico veterinário que segue os animais em todas as questões de saúde”.

Não faz inseminação, só monta natural, pelo que os quatro touros Salers e três Chaloreses – “fora 14 que temos para venda ou de recurso de for necessário” – andam com as vacas no campo o ano inteiro. A vacada está dividida em “grupos de 30 a 40 animais, para se saber bem as paternidades, e gerimos a reprodução para que os partos estejam concentrados em períodos específicos, principalmente fevereiro/março e setembro/outubro, mas claro que não conseguimos todos”, admite Joaquim Capoulas, que acrescenta que “todas as vacas são produtivas”.

Salers é evolução da Raça Alentejana

O produtor explica-nos que “a raça Salers é uma evolução da Raça Alentejana. Foi trabalhada em França mas é originária de Portugal, foi levada pelos celtas há 2.000 anos como animal de trabalho”, adiantando: “isto está escrito no Livro Genealógico da Raça francesa, justificando as afinidades com as raças Retinta Espanhola e Alentejana”. Joaquim Capoulas refere ainda que “antes do 25 de abril cerca de 70% das vacas eram Salers, segundo dados de um levantamento histórico que a APORMOR fez há 4/5 anos. As outras raças foram aparecendo depois devido ao incentivo das quotas”.

São animais “de uma grande docilidade, o que é muito bom para o maneio e tratamento. Na recria e engorda não gastam muita energia nem se aleijam nos parques e também é uma raça com maior taxa de partos duplos, pelo que temos normalmente mais 10% de vitelos(as) do que mães”. Também “não há memória de haver um parto difícil, parem com muita facilidade e têm um instinto maternal muito bom”.

Quanto a problemas de sanidade ou saúde, o produtor refere apenas algumas diarreias ocasionais nos vitelos, mas que “o sistema de circulação pelos parques da propriedade minimiza. Temos o estatuto mais elevado de sanidade em todos os nossos animais: bovinos, ovinos e suínos”.

Reportagem com o produtor Joaquim Capoulas Crédito: Rodrigo Cabrita

Sobre o maneio reprodutivo dos ovinos, Joaquim Capoulas salienta que tem “andado a trabalhar a genética mas ainda não consegui atingir um borrego por ovelha, estamos em cerca de 90% e não vendemos todos porque fica sempre uma parte para renovação e aumento do efetivo de fêmeas”. Por isso, em cerca de 650 borregos ficam 250 a 300 fêmeas.

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Exploração é autossuficiente

As vacas são suplementadas durante cerca de seis meses “com feno – que cortamos em abril/maio com o que sobra do pastoreio e silagem com as misturas de cereais e leguminosas e somos autossuficientes”, está sempre ao dispor dos animais, exceto na Primavera. Já os vitelos têm ração à disposição, “para não estranharem na altura do desmame”.

O produtor mostra-nos que “o fenil ainda está cheio, devido à boa primavera que tivemos no ano passado, temos sempre uma reserva para cerca de um ano, porque nunca sabemos quando vamos ter um ano mau”.

Joaquim Capoulas afirma que a produção de carne passou por grandes dificuldades, pois os apoios da PAC não incentivavam a produção pecuária, aliás “o subsídio à vaca até desincentivava a produção, porque uma vaca não produtiva recebia o mesmo que uma produtiva e agora já tem de ter um intervalo mínimo de 18 meses entre partos para receber”, mesmo assim, considera o presidente da APORMOR, “ainda é muito, 14 meses era mais do que suficiente”. Além disso, “há cerca de dois anos o mercado começou a ser mais estimulante, com os acordos de exportação para o gado nacional”.

Há alguns anos que o produtor se apercebeu que “algo tinha de mudar na nossa produção, temos de diferenciar os nossos produtos pela qualidade e, neste caso, pela sustentabilidade: os nossos animais crescem no campo sem qualquer fator de crescimento [hormonas] associado, são animais ‘biológicos’”. Por contrapartida, em muitos países da América Latina ainda se usam hormonas de crescimento, que retêm o líquido, o que – para além de poder ser um problema de saúde pública – é uma fraude porque está-se a vender água ao preço da carne, por isso é que ela encolhe quando se cozinha”.

“Por uma questão de sustentabilidade ambiental”, Joaquim Capoulas diz-nos que “não penso aumentar o efetivo”, embora reconheça que “se os sinais que já temos se mantiverem, o mercado da carne parece estar a entrar num bom momento”, e adianta: “a produção pecuária está num ponto de viragem em que os produtos começam a ter alguma rentabilidade, principalmente devido à exportação para os países do Médio Oriente e Norte da Ásia. Cerca de 50% das compras nos leilões da APORMOR são para exportação”.

A fêmea Salers mostra as qualidades maternas excecionais de fertilidade, a capacidade leiteira, facilidade de parto, robustez e longevidade.

Rusticidade: excelente adaptação a explorações muito extensivas em que os animais tenham que percorrer grandes distâncias. Altamente resistente a diferentes amplitudes térmicas.

 

Fertilidade e prolificidade: intervalos entre partos reduzido, de aproximadamente 374 dias e um índice de fertilidade muito bom.

Cada vaca pare um vitelo por ano e tem grande facilidade de partos graças à sua abertura pélvica e ao escasso peso dos vitelos ao nascimento. Esta particularidade torna a utilização dos touros Salers muito importante para a fecundação de fêmeas primíparas em cruzamento industrial. Os vitelos desenvolvem-se com grande facilidade.

 

Maior peso ao desmame

Rendimento: a vaca é capaz de desmamar um bezerro com bom peso sem necessidade de alimentação complementar.

 

Precocidade na engorda: permite obter carcaças de qualidade, com bom peso e a uma idade inferior aos dois anos.

Estes pontos fizeram da Salers a escolha de muitos criadores com vista a maximizar a produção sem aumentar a mão-de-obra. A Salers é uma raça equilibrada, o que é ótimo em todos os aspetos da produção de carne.

 

Fonte: Associação Portuguesa de Criadores de Bovinos Salers (www.salers.pt)

Artigo publicado na edição de março de 2017 da revista VIDA RURAL