A Tuta é uma das pragas mais agressivas e recentes da cultura do tomate, sendo, atualmente, considerada uma praga chave desta cultura. “Foi detetada na Europa, pela primeira vez, em Espanha, em 2006 e, em Portugal, foi registada a sua presença, em cultura protegida de tomate, no Algarve, em Maio de 2009. Em tomate para indústria, foi na campanha de 2011 que ocorreram prejuízos pela primeira vez, na região do Ribatejo”, refere uma brochura sobre a praga elaborada no âmbito do projeto ProTomate, acrescentando que “o principal hospedeiro de Tuta absoluta é o tomateiro, podendo também atacar batateira e beringela, assim como solanáceas infestantes, como erva-moira (Solanum nigrum) e figueira-do-inferno (Datura stramonium) Nestes hospedeiros, a lagarta alimenta-se de diferentes órgãos da planta como folhas, frutos, botões florais, pedúnculos e caules, contudo, os estragos (galerias) encontram-se sobretudo nas folhas e frutos”.
Avaliar o risco e prevenir
O projeto ProTomate, apoiado pelo ProDer, foi levado a cabo durante dois anos por diversas entidades ligadas ao setor, como organizações de produtores (Ops), técnicos, investigadores, instituições de ensino, indústria e empresas de produtos fitofarmacêuticos, com o intuito de desenvolver uma nova ferramenta de apoio à gestão da cultura do tomate para garantia da qualidade do produto final.
“A plataforma permite-nos fazer o mapeamento das parcelas em relação ao risco da Tuta”, explica à VIDA RURAL Ana Paula Nunes do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), uma das entidades envolvidas, adiantando que apesar de o projeto já ter terminado, “continuamos a fazer trabalho de campo com as Ops, como aconteceu nesta campanha”.
O ProTomate permitiu encontrar não só estratégias de tratamento, mas focou-se principalmente na prevenção, ou melhor, na análise de fatores de risco, que uma vez conhecidos, cruzados com os dados obtidos a partir da estimativa de risco, contribuem para uma tomada de decisão mais consciente.
Os agricultores estão agora muito mais atentos e conscientes à traça do tomateiro, cujos estragos podem assumir grande importância, se a deteção não for precoce e não forem tomadas medidas de proteção.
Os principais prejuízos derivam dos ataques nos frutos e as perdas de produção podem atingir os 100% quando a infestação é detetada tardiamente.
“A presença desta praga nas folhas, numa primeira fase, pode confundir-se com os estragos das larvas mineiras, Liriomyza spp. Contudo, ao contrário do que sucede com as larvas mineiras, as galerias aumentam de tamanho, alargam e os tecidos desidratam”, refere-se na mesma brochura, acrescentando-se que “nos frutos observam-se, inicialmente, pequenos orifícios de entrada, geralmente junto do pedúnculo”.
A proteção da cultura pode ser feita através de luta biológica, com armadilhas que devem ser instaladas cedo para detetar os primeiros adultos em voo na parcela de cultura e “devem ser feitas contagens semanais de adultos nas armadilhas e registar os valores para acompanhar a evolução de adultos”, recomenda o referido documento salientando que as observações visuais são complementares e tão importantes como a quantificação de adultos, pois “podem ser detetadas capturas elevadas de adultos nas armadilhas e não se registar presença de galerias nas plantas, sendo desnecessário efetuar tratamentos”.
A Tuta absoluta já tem produtos fitofarmacêuticos homologados (comercializados pela Syngenta, Selectis, BASF, Sapec Agro, entre outras empresas), pelo que os agricultores podem também realizar tratamentos, sendo que “devem alternar substâncias ativas/famílias químicas dos produtos fitofarmacêuticos para evitar o aparecimento de resistência”.
Os produtores devem estar também atentos a fatores de risco, como “existência de parcelas adjacentes com hospedeiros alternativos, nomeadamente tomate, batata e solanáceas infestantes” e “colheitas de parcelas vizinhas com solanáceas (principalmente batata e tomate) o que aumenta as populações nos campos com colheitas mais tardias devido à escassez de alimento”.