Romeu dos Santos tem cerca de 30 variedades de piripíris plantadas no seu pequeno terreno em Ferreiras, no concelho de Albufeira. Não são muitas, no conceito deste recém-chegado ao mundo da agricultura. Para 2014 tenciona chegar às 180 variedades. Muito poucas, quando se conhecem mais de 4500 catalogadas.
Juntou-se a um amigo, hoje fora da empresa, mas com quem mantém relação comercial, e fundou a Piri-Piri & Co. Na sociedade está também Rui Miguel Gordo, que o acompanha nos novos projetos da sociedade.
“Começou por ser um hobby. Ofereceram-me uma planta de piripíri. Gostava, mas não sabia nada. Deu-se bem e quando dei conta estava desenvolvidíssima” – informa Romeu dos Santos. O irmão deste agricultor mostrou-lhe um vídeo de um australiano a comer uma vagem de Scorpion, a cultivar mais potente. “Achei fantástico. Comecei a fazer o mesmo com uns amigos” – revela, acrescentando que participa num grupo do Facebook cujos membros cultivam, amadoramente, e realizam jantares de convívio de três em três meses.
“Fui ver à Internet e mandei vir sete variedades. Inscrevi-me nuns fóruns no Brasil, em que se fazem trocas de sementes. A dada altura tinha já 80 variedades” – diz Romeu dos Santos, que conta que a criação da empresa foi um alívio para a família, por ter tirado de casa muitos vasos com pimentos.
A área de cultivo situa-se num terreno que o pai de Romeu dos Santos tinha sem utilização. É um espaço pequeno, de cerca de 3000 m2, dos quais 1000 são de estufa. Como os resultados têm sido animadores, a Piri-Piri & Co quer em 2014 alargar a área coberta a mais 800 m2 e a área ao ar livre para 1,5 ha. Dimensão para acolher 15 000 plantas.
Frio é problema
O tempo de produção é de cerca de meio ano, ao ar livre, começando entre março e abril até outubro e novembro. Em estufa, o cultivo prolonga-se por mais tempo, mas os meses de janeiro e fevereiro não deixam de ser complicados. “O problema é o frio, são plantas tropicais”, diz Romeu dos Santos. “Para correr mesmo bem são precisos 27 °C”.
Na estufa, as plantas estão todas em vaso, “não é 100% hidroponia”, diz Romeu dos Santos. O que é preciso? “Substrato, fibra de coco, água, adubo e cuidado” – avança o agricultor. No solo argiloso, fechado na estufa, Romeu dos Santos tem dez variedades.
A necessidade de água, no inverno e em estufa, é de um litro por planta, de três em três dias. Nos meses mais quentes é o dobro. Romeu dos Santos refere que nos meses de julho e de agosto a estufa fica improdutiva. Ao ar livre, as quantidades de água são sensivelmente as mesmas, sendo que neste caso há fornecimento natural pela chuva.
O solo do terreno é argiloso, embora estas árvores prefiram os arenosos. Todavia, os resultados têm sido bons. As plantas querem boa drenagem e muito espaço para as raízes.
Entre o crescimento e a frutificação decorrem quatro meses. A produção decorre entre quatro e cinco meses. Posto este período há novo plantio. Em estufa, regra geral, cada árvore dá uma colheita, que é quando atinge o seu apogeu. Abaixo do ‘máximo’ não é rentável, salienta Romeu dos Santos. Ao ar livre, a longevidade é um pouco maior, “mas em fevereiro vão fora”.
Embora o Algarve tenha boas aptidões para estas árvores, nada se compara ao que consegue nos territórios nas Américas, habitats naturais. “Lá colhe-se o ano inteiro”, diz este agricultor.
Muitos pimentos para um só negócio
A brincadeira inicial, em 2009, tornou-se uma coisa séria. A primeira colheita profissional aconteceu em 2011. A criação da Piri-Piri & Co permite ainda contrabalançar a quebra da atividade económica, sentida na sua empresa de caleiras. Os terrenos abandonados pela família acabaram por ter um uso. Os frutos das primeiras 200 árvores foram vendidos em sete supermercados da região algarvia.
Foi então, nesse primeiro ano, que Romeu dos Santos tomou conhecimento dos apoios do PRODER. Em 2012 tinha já o empreendimento aprovado e a estufa começou a funcionar em setembro desse ano.
A produção cresceu e a Piri-Piri & Co ficou com um problema: o que fazer com os pimentos que não vendia. A exportação é demasiada para o pequeno barco, mas o stock avolumava-se. A resposta foi a criação de produtos alimentares temperados. “Surgiu a ideia dos molhos, dos pickles, das conservas, em seco, em pó e em doce”. Para o mel picante, a Piri-Piri & Co tem apiários, com as colónias a variarem entre as 10 000 e as 60 000 abelhas, dependendo se é inverno ou verão. Com alvará camarário, este empresário iniciou a transformação em casa, numa cozinha de 6 m2.
Ainda assim, sobravam frutos. Primeiro surgiu um espaço onde estabeleceu uma loja, que foi inaugurada em julho de 2013. Como o espaço tinha 20 m2 e alvará para processamento alimentar, a transformação dos frutos passou para ali, cabendo a parte restante para a sala de restauração. Desde o início de novembro que é possível fazer refeições no local.
Os horizontes da empresa alargaram-se a toda a cadeia. Nasceu então um restaurante em que tudo o que é servido tem picante… incluindo a sangria. Apenas as águas, cerveja, vinho e refrigerantes são poupados.
Os preços variam entre os 5 e os 12 euros por quilograma, mas há variedades que não compensam a venda em verde. Nem todos os frutos estão à venda. São os casos dos pimentos mais raros ou menos produtivos, que apenas dão 200 ou 300 g. “São o nosso ouro”.
A Piri-Piri & Co produz algumas das variedades mais conhecidas e desejadas pelos apreciadores de picantes. A escala de Scoville, criada pelo farmacêutico norte-americano Wilbur Scoville estabelece a hierarquia de cada variedade, de acordo com o nível da substância capsaicina, expressa em unidades Scoville.
A capsaicina em estado puro alcança as 16 milhões de unidades Scoville, enquanto os conhecidos pimentos doces estão no nível zero. O expoente máximo é o Scorpion, que regista uma variação entre os 800 000 e os 1,4 milhões de unidades Scoville, e que Romeu dos Santos se orgulha em cultivar, mas que não negoceia, usando-a apenas nos seus produtos.
O Scorpion tem o recorde reconhecido no livro do Guiness como sendo o mais picante, mas há variantes experimentais que alcançaram patamares superiores, refere o empresário. Da lista de cultivares da empresa contam-se os Jalapeños (até 100 000 unidades Scoville) e Habanero (300 000), muito apreciados pelos amantes dos picantes.