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Agricultura

Usar o turismo como complemento da agricultura

Usar o turismo como complemento da agricultura
Da Herdade da Fonte Ferreira vê-se o casario da vila de Avis e nos 200 hectares da exploração, Maria Luísa e Jerónimo têm olival para azeite e azeitona de conserva, girassol para multiplicação de semente, misturas forrageiras diversas e milho, além de ovelhas de carne. Há dois anos juntaram a componente agroturística e asseguram: “As pessoas adoram a parte turística mas também o contacto com a área agrícola, a que não estão habituadas”.

O casal, hoje reformado, comprou a Herdade da Fonte Ferreira, em Avis, há 27 anos, com o objetivo de este ser o seu projeto na reforma. E assim é, mas o engenheiro eletrotécnico ainda antes de se aposentar começou a interessar-se pela agricultura e a gerir a herdade a tempo inteiro. A esposa, professora reformada, que é natural de Avis e de uma família muito ligada à terra, há cerca de dois anos decidiu avançar com área do turismo, prevista há muito, para aproveitamento das várias casas e outros espaços da herdade, como galinheiros, pombal, canil, etc.. “O turismo é um complemento da agricultura”, afirma Maria Luísa Pereira Leite.

Jerónimo e Maria Luísa Pereira Leite

Jerónimo e Maria Luísa Pereira Leite

Em muitos projetos de agroturismo, uma das valências acaba por ‘definhar’ mas na Fonte Ferreira, a componente agrícola já estava fortemente implantada, com Jerónimo Pereira Leite a dedicar-se à atividade de corpo e alma. Já o turismo é a ‘menina dos olhos’ da esposa, que se tem empenhado em tratar de todos os pormenores para que os hóspedes passem tempos inesquecíveis nesta herdade, com a albufeira do Maranhão mesmo ali à vista. E embora a parte turística esteja claramente separada da área agrícola, os turistas, além de estarem rodeados por campos agrícolas, podem participar (e muitos têm-no feito) em várias atividades, como a apanha da azeitona.

 

Olival tradicional e intensivo

A herdade já teve 500 hectares, só que 100 ficaram submersos pela albufeira do Maranhão, “quando comprámos eram 400 hectares, mas os nossos filhos convenceram-nos há alguns anos a vendermos metade ao nosso vizinho de baixo, por isso agora temos 200 hectares e já nos dão muito que fazer”, admite Jerónimo Leite.

 

Herdade da Fonte Ferreira

O olival divide-se em cerca de 35 hectares de tradicional, biológico, “que já existia e que temos vindo a recuperar e manter, sendo dele que fazemos o nosso azeite ‘Fonte Ferreira’, no Lagar da Ourogal, em Abrantes”, a quem vendem também toda restante produção. Já os outros 35 hectares de olival intensivo, em produção integrada, também com rega gota-a-gota, são essencialmente de cultivares para azeitona de conserva e “vendemos para a Maçarico, que exporta quase tudo para os Estados Unidos e o Canadá, fatiadas, para pizzas”. A colheita está mecanizada no intensivo e “é semi mecanizada, com moto 4, no olival tradicional”. Durante o ano a herdade tem cinco colaboradores, mas na colheita da azeitona “temos cá cerca de 20 pessoas”, diz o produtor.

 

Jerónimo Leite conta à VIDA RURAL que “a herdade estava toda em produção de sequeiro e fomos convertendo a produção para o regadio. Hoje temos quatro pivots nos campos à volta do olival”. Mas o produtor explica-nos que “regamos bombeando a água da albufeira, só que nesta zona apenas podemos regar com água da barragem com autorizações provisórias e quando há seca, como foi o caso deste ano até março, estávamos em risco de não poder regar”, lamentando uma situação que se arrasta há décadas.

Girassol, milho e forragens

 

O agricultor conta-nos que na restante propriedade vai fazendo rotação de culturas: “agora [entrevista realizada em abril] temos uma consociação de aveia com ervilhaca e alguns trevos, em 50 hectares, de que fazemos fenos mas também deixamos uma parte para grão para termos semente para o ano seguinte. Noutros 50 hectares temos azevéns com trevos e fazemos fenossilagem que vendemos para uma vacaria de uns holandeses em Vale de Freixo”.

Faz igualmente milho em cerca de 50 hectares, tendo investido há algum tempo num secador e num silo, “porque nem sempre os anos são iguais e por vezes não tenho comprador e por isso guardo”, sendo que também vende silagem de milho para o mesmo produtor de leite.

O girassol é para multiplicação de semente, para uma empresa espanhola, “com quem temos contrato já há alguns anos”, afirma Jerónimo Leite.

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A Herdade da Fonte Ferreira também vende mel (localmente), disponibilizado através de uma parceria com um produtor da região “que coloca aqui cerca de 400 colmeias à volta dos campos dos pivots, principalmente do girassol”.

Jerónimo Leite salienta que “sensivelmente de dois em dois anos temos colocado projetos para financiamento dos vários investimentos que temos vindo a fazer, mas tudo continua a demorar muito tempo”, lamenta, dando como exemplo a instalação dos painéis solares que fez há dois anos: “estamos há espera desde dezembro de 2015… temos 250kw instalados mas só estou a injetar na rede 145kw porque só podemos ir até cerca de 50% do que consumimos”.

Ovinos para venda dos borregos

O mais recente projeto é para a produção de carne de ovino, num total de 300 ovelhas. “Por agora, temos cerca de 50 mas o objetivo é aumentar até às 300. A herdade, quando a comprámos tinha cerca de 200 vacas e 500 ovelhas e também porco alentejano, além de trigo, cevada e outras culturas, tudo de sequeiro. Mas na altura decidimos não apostar na pecuária, só que agora quis tentar de novo mas só os ovinos”.

As ovelhas ajudam no maneio do olival “porque comem na entrelinha, uma vez que como estamos no modo de produção biológico não podemos colocar herbicidas”. Após as podas, os restos, depois de destroçados, ficam no terreno para fertilizar o solo.

Um dos problemas com que Jerónimo Leite se tem deparado são as famílias de javalis que se ‘instalam’ no meio do girassol e do milho: “São muito gulosos e quando descobrem comida trazem a família toda… chegam a estar no meio do milho e não os conseguimos ver”, por isso, “nesta campanha já vamos começar a usar cartas de NDVI, para os localizarmos”, explica.

Alojamento para 45 pessoas

Na parte do Turismo, Maria Luísa Pereira Leite explica-nos que “aproveitámos as casas e outros espaços para fazer quartos e apartamentos, tendo hoje capacidade para 45 pessoas”.

A Herdade da Fonte Ferreira tem também uma piscina, um ginásio e espaços diversos de estar e lazer, bem como para entretenimento e jogos de crianças e adultos. Tem também várias salas e espaços para refeições e festas, que podem ser alugadas à parte dos alojamentos, para eventos específicos.

E o gosto por esta área tem vindo a crescer de tal forma que o casal já comprou também casas na vila de Avis para avançar com projetos de Turismo Rural.