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Zimbro começa a criar interesse económico

Zimbro começa a criar interesse económico

A matéria-prima existe e há quem tenha pensado em negócio. Porém, o zimbro continua como espécie florestal por explorar. Desde a cosmética e perfumaria até à alimentação humana, este arbusto pode ter mais utilidade do que permanecer à entrada das quintas transmontanas para induzir boa sorte.

O zimbro é uma fonte de rendimento florestal por explorar em Portugal. O recente interesse do público pelo consumo de gin, que se verifica em diferentes países, nomeadamente no nosso país, pode dar o impulso para a exploração do Juniperus communis.

“A espécie mais comum em Portugal de zimbro é o Juniperus communis e essa não tem quaisquer restrições de utilização”

Contactado o Gabinete do Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, não parece haver constrangimentos de maior à exploração silvícola do zimbro-comum. A exceção parece ser apenas a localização estar abrangida por leis de proteção ambiental. Sara Leitão Pereira, adjunta do secretário de Estado, respondeu à VIDA RURAL que “a espécie mais comum em Portugal de zimbro é o Juniperus communis e essa não tem quaisquer restrições de utilização”.

Relativamente à localização dos zimbros, terá de se verificar se se encontram “inseridas em alguma área do Sistema Nacional de Áreas Classificadas e em caso afirmativo confirmar que não colide com os Planos de Ordenamento em vigor ou Normas de Gestão desses espaços” – salienta a mesma responsável.

Em diligências efetuadas pela VIDA RURAL, há quem, na indústria, pondere a aquisição de zimbro em Portugal, sendo que atualmente está a ser apenas importado. Vários proprietários rurais, confrontados com a hipótese de negócio, manifestaram desconhecimento dessa hipótese de negócio, sendo que esta espécie arbustiva resinosa.

Raul Gomes, empresário e produtor do gin premium Nao Portucale, manifestou à VIDA RURAL o seu interesse na aquisição de zimbro em Portugal, admitindo que, a ter sucesso, poderia mesmo vir a desenvolver atividade industrial.

A questão do zimbro-comum ou zimbro-anão, como também é conhecido, parece estar ‘encalhada’ na falta de diálogo entre potenciais industriais proprietários rurais, que têm disponibilidade de oferta, mas não encontram comprador.

Alexandre Sousa Pinto, vitivinicultor no Douro Superior, mostra algum lamento por não poder dar uso aos 8,5 ha de Juniperus communis. Ainda que a localização geográfica dentro do Parque Natural do Douro Internacional não lhe permita o abate de todos os bosquetes, a lei permite que se possam efetuar desbastes.

“O mais perto que tive de fazer negócio foi com a cerveja Sovina, que fez alguns ensaios com sementes, só que não resultaram” – revela Alexandre Sousa Pinto. Um outro negócio encalhado foi com uma empresa espanhola de perfumaria.

Além da utilização na indústria alimentar, o zimbro pode ter usos em vedações ou em postes para sustentação das armações da vinha. “É uma madeira muito dura, que não precisa de tratamento. É muito resistente e propaga-se facilmente”, explica o mesmo agricultor duriense.

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Até agora, Alexandre Sousa Pinto tem dado uso doméstico aos seus arbustos de zimbro. “Nunca consegui vender nada, uso para cozinhar”. Segundo diz, a baga é muito aromática e confere muito bom sabor aos cozinhados”.

Em Portugal existem quatro espécies autóctones de zimbro: Juniperus communis (zimbro-comum ou zimbro-anão), Juniperus navicularis (piorro), Juniperus oxycedrus (oxicedro ou zimbro) e Juniperus turbinata (sabina-da-praia).

Os zimbros portugueses

Segundo o documento “Espécies arbóreas indígenas em Portugal continental – Guia de utilização”, editado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em Portugal existem quatro espécies autóctones de zimbro: Juniperus communis (zimbro-comum ou zimbro-anão), Juniperus navicularis (piorro), Juniperus oxycedrus (oxicedro ou zimbro) e Juniperus turbinata (sabina-da-praia).

De acordo com o documento, a Juniperus communis é quase sempre de porte arbustivo, caraterístico das maiores altitudes das serras do Gerês e da Estrela. “Distribui-se pelas regiões frias de todo o hemisfério Norte. Com as suas ‘bagas’ produz-se a aguardente de zimbro e condimentam-se pratos regionais”.

O mesmo texto explica que a Juniperus navicularis se apresenta habitualmente como um arbusto, embora possa ultrapassar os seis metros de altura. “Muito ornamental, conjuntamente com o carrasco-arbóreo, é uma das duas espécies arborescentes exclusivas de Portugal continental”.

O documento do ICNF adianta que o Juniperus oxycedrus é “uma das mais ornamentais coníferas portuguesas, adapta-se bem às regiões quentes e secas do interior. Apesar do seu lento crescimento, pode atingir médio porte (até 15 m de altura) e as suas folhas e ‘bagas’ têm larga aplicação cosmética e medicinal”.

Por último, quanto a autóctones, o texto refere que a Juniperus turbinata é uma espécie de vasta distribuição mediterrânica e na macaronésia. “No continente ocorre espontânea para Sul do cabo Mondego. Arbusto ou pequena árvore até oito metros de altura, na Mata Nacional dos Medos associa-se ao pinheiro para formar uma das mais belas paisagens florestais portuguesas”.

Por último, refira-se a existência duma outra variedade não autóctone, mas que goza de estatuto privilegiado. O Decreto-lei n.º 565/99, que regula a introdução na natureza de espécies não indígenas da flora e da fauna apresenta Juniperus virginiana L., “que também é conhecida por zimbro”, e que, por essa via, “é considerada para efeitos deste diploma como espécie indígena, pelo que também não terá problemas em desenvolver uma atividade produtiva com esta espécie” – conclui a adjunta do secretário de Estado.

Artigo publicado na edição de março de 2014 da revista VIDA RURAL