Sem ação urgente, a degradação do solo pode levar a um ponto de não retorno, colocando em risco metade da produção agrícola em regiões-chave como a Índia, a China e a África Subsaariana, onde vive uma parte significativa da população mundial.
A conclusão consta do Global Environment Outlook 7 (GEO-7), do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, apresentada durante a sétima sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-7). O Movimento Save Soil já apelou a uma intervenção global imediata.
O relatório mostrou que o mundo está a perder, todos os anos, uma área de terras férteis equivalente à Colômbia ou à Etiópia, como resultado da degradação contínua dos solos. As alterações climáticas intensificam este problema e poderão reduzir a disponibilidade de alimentos por pessoa em 3,4% até 2050, pressionando ainda mais os sistemas alimentares globais, sublinhou a análise.
“O relatório GEO-7 valida aquilo que os especialistas têm vindo a alertar: estamos a corroer a própria base da vida na Terra. Quando a ONU destaca que regiões-chave produtoras de alimentos poderão ver a sua produção cortada pela metade devido à degradação do solo, não se trata apenas de uma estatística – é uma previsão de fome, deslocamentos e instabilidade”, referiu Praveena Sridhar, Conselheira Principal de Ciência e Política do Movimento Save Soil.
E continua: “o solo é o elo entre a nossa alimentação, o nosso clima e a nossa economia. Devemos passar imediatamente da exploração para a regeneração. As soluções existem, mas a vontade política deve acompanhar a ciência”.
O relatório GEO-7 identificou a degradação do solo e da terra como uma crise transversal que intensifica as alterações climáticas, acelera a perda de biodiversidade e agrava a insegurança alimentar. Neste sentido, ou estudo destaca, entre outros, os seguintes dados-chave:
– Segurança alimentar em risco: Como 95% dos alimentos mundiais dependem do solo, o relatório alerta que a degradação da terra, associada às alterações climáticas, poderá provocar uma queda acentuada nos rendimentos globais das culturas. Em regiões fortemente dependentes de sistemas agrícolas de monocultura, nomeadamente a Índia, a China e a África Subsaariana, esta degradação poderá reduzir a produção agrícola para metade, colocando em risco a segurança alimentar de milhares de milhões de pessoas.
– Perda acelerada: O mundo perde atualmente mais de 24 mil milhões de toneladas de solo fértil por erosão todos os anos, o que corresponde a cerca de 3,4 toneladas por pessoa, anualmente. As projeções indicam que quase 95% dos solos do planeta poderão estar degradados até 2050, um aumento dramático face a cerca de um terço já degradado hoje.
– Conexões com a alteração climática: O solo armazena enormes quantidades de carbono, mais do que a atmosfera e a biosfera juntas. No entanto, a degradação do solo e a mudança no uso da terra libertam grandes volumes de carbono, responsáveis por cerca de 25% das emissões de CO₂. Apesar do seu potencial como solução climática, 70% dos países ainda não reconhecem a restauração do solo como uma prioridade nas suas metas climáticas nacionais.
– O caso económico: O custo de não agir é extremamente elevado, enquanto a recuperação dos solos oferece benefícios substanciais. O relatório indica que enfrentar a degradação da terra por meio de uma gestão sustentável do solo e da terra poderia acrescentar até 75,6 biliões de dólares ao rendimento mundial todos os anos.
Neste sentido, o Movimento Save Soil sublinhou que, apesar da gravidade da situação, o impulso para proteger o solo por meio de práticas agrícolas regenerativas está a crescer em todo o mundo, enfatizando que “os quadros políticos estão a começar a reconhecer o solo como um recurso vital”.
O relatório GEO-7 destacou ainda que travar e reverter a degradação da terra é essencial para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo os ligados ao clima, à pobreza e à fome.
O Movimento Save Soil apelou assim aos países para que usem estas conclusões para acelerar políticas que apoiem os agricultores na adoção de práticas regenerativas, aumentando a matéria orgânica do solo e garantindo um futuro com segurança alimentar e resiliência climática.

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