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Agricultura

Primeiros agricultores da Europa Central viviam em igualdade, diz estudo

Primeiros agricultores da Europa Central viviam em igualdade, diz estudo Image generator/ChatGPT

Um grupo internacional de investigadores descobriu que a cultura responsável pela expansão da agricultura na Europa Central, há 8 mil anos, não mostrou sinais de estratificação populacional.

A investigação, da qual faz parte um investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), produziu o conjunto mais completo de dados genéticos do Neolítico Inicial da Europa Central até à data.

 

Os resultados deste estudo, liderado pela Universidade de Viena e pela Universidade de Harvard, foram publicados na Nature Human Behaviour.

De acordo com a comunicação da FCTUC, a expansão da agricultura na Europa Central ocorreu no sexto milénio a.C., em poucas gerações, os agricultores da região dos Balcãs expandiram-se pelo vale do Danúbio até à atual França e, para leste, até à atual Hungria e Ucrânia.

 

“Os vestígios culturais dos agricultores são homogéneos em toda esta área, estendendo-se por milhares de quilómetros, mas a falta de dados genéticos de várias famílias torna difícil perceber se estas comunidades viviam em igualdade social, ou avaliar quais foram os indivíduos que migraram pelo continente”, lê-se na comunicação.

Deste modo, mais de 80 geneticistas, antropólogos e arqueólogos, que estudam as particularidades sociais da Cultura de Cerâmica Linear (Linearbandkeramik, LBK), integraram novos dados genéticos de mais de três centenas de indivíduos com extensos conjuntos de dados: estudos ósseos, datas de radiocarbono, contextos de sepultamento e dados dietéticos.

 

“O estudo das ligações genéticas entre mais de 250 indivíduos neolíticos mostrou que o povo LBK se expandiu ao longo de centenas de quilómetros em apenas algumas gerações”, revelou Daniel Fernandes, coautor do estudo e investigador do CIAS.

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Já Pere Gelabert, cientista do Departamento de Antropologia Evolutiva da Universidade de Viena e coautor do estudo, afirmou que “encontrámos, com sucesso, parentes distantes na Eslováquia e outros na Alemanha Ocidental, a mais de 800 km de distância».

 

Por seu lado, Ron Pinhasi, investigador na mesma universidade e também coautor da investigação, explicou que, neste estudo, “é relatado pela primeira vez que as famílias nos locais de estudo de Nitra, na Eslováquia, e Polgár-Ferenci-hát, na Hungria, não diferem em termos dos alimentos que consumiram, dos bens funerários com que foram enterradas ou das suas origens”.

E continua: “tal sugere que as pessoas que viveram nestes sítios neolíticos não foram estratificadas com base no sexo familiar ou biológico, e não detetámos sinais de desigualdade, entendida como acesso diferencial a recursos ou espaço”.

A cultura LBK chegou ao fim por volta de 5000 a.C., com alguns investigadores a sugerirem que a causa se deve a um período de crise social e económica, muitas vezes associado a episódios de violência generalizada, sublinha a comunicação da FCTUC.

Um dos eventos mais famosos é o Massacre de Asparn-Schletz (Baixa Áustria), onde mais de uma centena de indivíduos foram recuperados de um sistema de vala.

Neste sentido, o grupo de investigadores destacou que “este estudo genético meticuloso dos indivíduos Asparn-Schletz mostrou que menos de dez estavam geneticamente relacionados, o que desafia a hipótese de que o massacre representou uma única população”.