Os agricultores do Campo Branco, em Beja, estão à procura de novos “nichos” de mercado para valorizarem as suas produções, face às alterações climáticas e ao facto não possuírem acesso à água de Alqueva, avança O Digital. A região, que abrange os concelhos alentejanos de Castro Verde e Almodôvar e parte dos de Aljustrel, Mértola e Ourique, é conhecida pela sua produção sustentável de pecuária extensiva e cereais de sequeiro.
Um dos projetos, que está ainda em “fase embrionária”, pretende explorar a possibilidade de produção de trigo destinado à alimentação para bebés, com pouca utilização de pesticidas.
“Esse nicho de mercado exige trigos produzidos com pouca pressão de pesticidas e que tenham alguma qualidade, inseridos no sistema de sequeiro”, explica à agência Lusa o agricultor António Colaço, que faz parte do conselho de administração do agrupamento de produtores, com sede em Castro Verde.
Ou seja, “estamos a tentar aproveitar o que é exigido, visto que a região se encaixa naquilo que são as exigências da ‘baby food’ [comida para bebés]”, acrescenta.
A região é abrangida pelo Apoio Zonal de Castro Verde, medida agroambiental criada em 1995, no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC). O apoio visa promover a conservação da natureza e avifauna ao mesmo tempo que se minimiza as perdas de rendimento agrícola decorrentes de técnicas culturais e de gestão compatíveis com a conservação da natureza.

Projeto da AACB e da ESAB
De forma a valorizar os terrenos, a Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), de Castro Verde, e a Escola Superior Agrária de Beja (ESAB) criaram há oito anos, Campos de Ensaio e Experimentação de Cereais de Inverno, Fenossilagens, Leguminosas e Pastagens Melhoradas. O projeto veio colmatar “a falta de informação” dos agricultores sobre novas variedades e espécies e sobre fertilizantes e pesticidas.
Este trabalho tem ganho maior projeção com os períodos de seca maior e temperaturas acima do habitual, devido às alterações climáticas. “Com as alterações climáticas” é preciso “usar as variedades mais adaptadas”, pelo que “faz todo o sentido que essa experimentação seja realizada”, observa à Lusa o professor na ESAB e coordenador científico dos campos de ensaio, Manuel Patanita.
Este projeto, vincou o coordenador, permite avaliar “a capacidade de adaptação” e identificar “os fatores de produção mais adequados” para os “solos pobres” locais, “com baixa matéria orgânica e muito suscetíveis à desertificação”.
Já o membro da equipa técnica, José Dores, conclui : Estamos a “tentar criar soluções, de alguma forma inovadoras para a região, para os agricultores poderem usufruir desses trabalhos”.