E digo em volta porque, quem está por dentro, não estará certamente com tanto entusiasmo. Entre o romantismo apregoado e a realidade vai uma grande distância, mas um pequeno exercício de clipping nos jornais diários ajuda-nos a perceber porque é que a produção agrícola passou a ser uma alternativa credível para investidores de todos os quadrantes. Destaco apenas duas notícias muito recentes em estores de nicho.
A falta de plantas para a indústria da perfumaria, de que o jasmim, rosa, íris, baunilha, sândalo e lavanda são só alguns exemplos, está a ser noticiada. São matérias-primas que não se conseguem produzir em laboratório e cuja produção está em quebra acentuada. De tal forma que a indústria de perfumaria está a ponderar tornar-se produtora destas plantas para evitar dependência e falhas no seu negócio. Numa primeira análise esta parece ser uma excelente oportunidade de negócio para os produtores das chamadas PAM (aromáticas e medicinais). Há produtores nacionais já com uma larga experiência na produção de algumas destas matérias-primas que não teriam dificuldade em identificar clientes e planear o abastecimento. Mas há o revés da medalha. Aparentemente a quebra da produção mundial está relacionada com o abandono destas culturas porque os agricultores passaram a investir em cereais, matérias-primas em alta nos últimos dois anos. O mercado é mesmo assim, reage a estímulos económicos, sendo certo que há que estar preparado para uma volatilidade que pode espantar empresários menos experientes.
A outra notícia diz respeito ao declínio das ‘populações’ de zimbro no Reino Unido, uma baga essencial para a produção de gin. Doenças e roedores selvagens estão a dizimar esta planta em algumas regiões, temendo-se mesmo a extinção em algumas áreas tradicionais.
Ora, em Portugal o zimbro é uma fonte de rendimento por explorar, numa altura em que começam a implantar-se no mercado marcas nacionais de gin e em que esta bebida entrou completamente na moda. Quem necessita de zimbro está a importar e quem tem bosquetes com esta baga não sabe o que lhes há-de fazer.
A estas notícias chamam-se oportunidades. Por isso não é de estranhar que tanta gente esteja a olhar para estas ‘novas culturas’ com seriedade.
Para quem olha de fora para a actividade agrícola como nós, imprensa especializada, nestas matérias não há que ter tabus. Se é negócio, vale a pena. A questão está em perceber se é mesmo negócio. Tenho mercado assegurado? Consigo ter preços competitivos? Consigo ter rentabilidade? Sei calcular a minha margem? Se a resposta for sim, aventure-se. Se tiver dúvidas volte a fazer contas e fale com quem já está no terreno. O lirismo agrícola é bonito mas perder dinheiro não tem nada de romântico…