Segundo concluiu um estudo realizado por cientistas na Nova Zelândia, os cabritos caprinos devem ser tratados de forma diferente dos pequenos vitelos.
Publicado na revista Animal Welfare, o estudo aponta preocupações relacionadas com a descorna de vitelos e cabritos. Este processo, que deve ser exclusivamente realizado por médicos veterinários, consiste na amputação dos cornos e tem como objetivo evitar lesões nos criadores e noutras pessoas ligadas à produção, bem como noutros animais de produção (evitando agressões).
Os investigadores reviram a literatura científica e compararam os métodos de descorna realizados em vitelos e cabritos, revendo as respostas comportamentais e fisiológicas das duas espécies e identificaram alternativas às práticas atuais.
De acordo com o estudo, no caso da cauterização térmica, é necessária especial atenção ao efeito da temperatura e à aplicação do ferro por forma a reduzir a dor e lesões, e para aumentar a eficácia do procedimento. Segundo os investigadores, a dor e as lesões associadas à descorna poderiam ser eliminadas através da alteração da gestão do rebanho para permitir a criação de cabras com chifres e a sua permanência com outros animais de produção sem chifres.
Foram também analisados outros métodos: foi possível concluir que a descorna através de cauterização química e a descorna criocirúrgica são mais dolorosas do que a descorna térmica.
“Até que uma alternativa menos dolorosa e eficaz seja encontrada, parece que a adaptação dos métodos de extração por cauterização, utilizando a atenuação da dor, é a melhor opção atualmente disponível para cabras leiteiras de produção”, comentou a autora principal, Melissa Hempstead.
“Para que a indústria estabeleça diretrizes de melhores práticas para a descorna de cabritos, os gestores devem reconhecer que os cabritos de cabra não são pequenos vitelos.”
George Stilwell, médico veterinário e professor universitário, também abordou este procedimento ainda este ano, durante uma palestra na 12.ª edição das Jornadas Hospital Veterinário Muralha de Évora, que decorreu nos dias 6 e 7 de março, no Évora Hotel.
De acordo com George Stilwell, este tipo de “intervenções de rotina” não têm de ser dolorosas, já que a anestesia local e a analgesia para a dor posterior fazem parte das boas práticas veterinárias.
“Não fazer analgesia é dar um tiro no pé, porque o consumidor foge desse produto”, explicou o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Para Stilwell, a dor, especialmente a crónica, tem “muito impacto nas explorações”.
O professor alertou ainda que a descorna só deve ser feita por médicos veterinários e que é necessário avaliar muito bem a sua necessidade.
“Façam por necessidade, mas tentem arranjar outras soluções”, afirmou, dirigindo-se aos produtores presentes no evento. “O custo do maneio da dor é largamente compensado por causa da imunodepressão e da redução do apetite”, garantiu.