A Exploração Agrícola Teixeira do Batel, em Vila do Conde, consolidou em meados de fevereiro a sua posição de maior exploração de vacas com robots de ordenha do Sul da Europa, onde se inclui França, Espanha e Itália. A empresa acabou de instalar mais dois robots de ordenha, totalizando agora oito unidades mecânicas de extracção de leite.
Numa área de 35 hectares, encontra-se um efectivo de 1900 animais, do qual se contabiliza cerca de 800 a 900 vacas de ordenha. O número nunca é rigoroso, pois é necessário contar com doenças, períodos de gestação e outras causas naturais. A propriedade é um modelo na área da robotização da ordenha e uma das maiores explorações de leite de vaca em Portugal.
José Teixeira, proprietário da Teixeira do Batel, abriu as portas da exploração a jornalistas e participantes no 9º Colóquio Nacional do Milho, uma organização da ANPROMIS – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, que decorreu na Póvoa de Varzim, entre 7 e 8 de Fevereiro.
Ordenha robotizada ou tradicional?
José Teixeira investiu 2,5 milhões de euros para instalar uma vacaria com robots de ordenha e respectivo software. Como contou, o investimento arrancou em 2015, um ano ‘negro’, que ficou na memória pelos prejuízos registados da ordem dos 200 mil euros. O projecto demorou dois anos a concluir. Foi o ano em que terminou o sistema das quotas leiteiras e se registou uma acentuada queda do preço do leite. O produtor recorda que chegou a vender leite “abaixo do custo de produção para não secar as vacas”.
Não se deixou abater pela conjuntura. Os seis robots de ordenha, que instalou com o apoio técnico das empresas Harker XXI e Delaval, traziam muitos benefícios ao negócio. José Teixeira realça que a ordenha robotizada permite extrair mais leite da vaca, entre seis a oito litros por ordenha, evita as mamites e os robots trabalham sete dias por semana, 24 horas por dia e fazem o que lhe pedem. Na ordenha tradicional, o produtor retira 34 litros por dia de leite, enquanto os robots extraem entre 39 a 41 litros. As vacas não estão mais de seis horas sem ir à ordenha. “São os robots que estão a tirar mais leite na Europa”, sublinha. E como referiu em jeito de brincadeira, “o robot faz tudo o que lhe mandam e o empregado não”. Por todas estas razões, avançou para a instalação de mais dois robots, um investimento de 200 mil euros que está agora em fase de instalação.
O produtor recusa a ideia que os robots eliminam emprego e sublinha que as máquinas “são caras e a manutenção também é cara”. Segundo afirma, a robotização “exige um acompanhamento muito próximo para tirar o máximo de rendimento e a gestão da ordenha é igual, quer seja robotizada quer seja tradicional”. A exploração Teixeira do Batel tem dez empregados.
Um novo estábulo
A aposta na robotização da ordenha obrigou à construção de um novo estábulo. A nave tem cerca de cinco mil metros quadrados e capacidade para 470/475 animais. O espaço foi projectado com atenção ao conforto do animal (os cubículos medem 130 por 140 cm), ao tráfico das vacas e à gestão do processo de ordenha. As vacas assumiram já as rotinas, entre a fase da alimentação – as manjedouras foram colocadas no exterior, em redor do estábulo – o descanso e a ordenha. A instalação de portas inteligentes ou separadoras, que lêem o chip de cada vaca, permite que o animal só seja aceite na zona de ordenha quando está na sua hora.
Cada vaca é normalmente ordenhada três vezes ao dia. Este método robotizado permite extrair mais de 25 mil litros por dia, todos colocados na Agros. Para apoio a este incremento produtivo, a Teixeira do Batel instalou um tanque de leite tipo silo, com capacidade para 34 mil litros, e um de 1600 litros para permitir a ordenha quando o silo é descarregado e limpo. As vacas têm também um prado para onde são deslocadas uma hora por dia. O período de pastagem é limitado, pois “quanto mais andam lá fora, menos produzem”, diz José Teixeira.
A robotização da ordenha permite uma maior rentabilidade do negócio, que está sempre ameaçado pelas quedas do preço e, mais recentemente, pela quebra registada no consumo. José Teixeira diz que já vendeu leite a 48 cêntimos por litro, mas que o preço actual ronda os 30 a 33 cêntimos. Em janeiro, conseguiu vender a 34 cêntimos, mas já em fevereiro ficou pelos 33. “O custo de produção está nos 32 cêntimos”, frisa. O empresário recorda que há ainda a concorrência de países como a Alemanha que, quando tem muito leite, envia o produto a 20 cêntimos por litro.
José Teixeira questiona se os consumidores não podem realmente pagar 35 cêntimos ao produtor. “É que se houvesse essa subida havia mais dinheiro a circular. A produção de leite ocupa muitas outras actividades”, afirma.
As dificuldades do Norte
Hoje, a Exploração Agrícola Teixeira do Batel tem 1900 animais, essencialmente da raça Holstein-Frísia – a raça que produz maior quantidade de leite e, com uma presença de apenas 1% no total do efectivo, vacas da raça Jersey e Red. Uma das naves da exploração está dedicada aos vitelos. A inseminação das vacas está nas mãos da exploração, com aquisição cuidada do sémen, e é feita na vacaria. Os vitelos fêmeas são alimentados a leite de vaca, consumindo cerca de mil litros por dia, para logo que possível integrarem a cadeia de fornecimento de leite. Já os vitelos machos ficam na propriedade até atingirem 120 quilos, para então serem vendidos, nomeadamente para talhos. A própria exploração tem um talho próprio em Vila do Conde.Cada animal adulto consome entre oito a 10 quilos por dia de ração e perto de 100 litros de água. No verão, esta quantidade pode aumentar. Para assegurar a alimentação dos animais, a empresa tem contratos com produtores de milho e erva da região, que representam um total de 220 hectares. “Semeiam a erva e o milho e nós compramos”, diz. São mais de mil toneladas de cereal comprado na região. José Teixeira estima que os encargos fixos mensais da exploração se cifrem nos 50 mil euros. Só a fatura da electricidade ronda os seis mil euros por mês.
A Teixeira do Batel, gerida por José Teixeira e pelos filhos José Luís e Jorge Teixeira, regista uma facturação anual da ordem dos três milhões de euros. Segundo o patriarca, o contrato celebrado este ano com a Agros prevê o fornecimento de 8,5 milhões de litros. Mas nem sempre foi assim.
José Teixeira começou o negócio em meados da década de 70 do século passado, com seis vacas, quatro bois e uma bicicleta. Era este o transporte para levar num cantil o leite para venda. Em 1986, conseguia já encher um tanque de 400 litros em quatro dias. Foi sempre investindo. Só no ano 2000 é que erigiu a actual vacaria.
Ter uma vacaria da dimensão da actual em terras do Norte é um desafio. Como diz, “estou mal aqui, devia estar no Sul”, onde as terras são mais baratas e em contínuo. Para o patriarca é muito difícil trabalhar nestas condições, com os terrenos a atingirem preços de 20 euros o metro quadrado e, em alturas de ‘boom’ imobiliário, a chegarem aos 50 euros. Para apoiar a alimentação dos animais tem parcelas de oito, dez e cinco hectares espalhadas pela região, algumas a mais de oito quilómetros de distância da exploração, com todos os entraves que isso trás ao negócio. Também os produtores de forragem foram desaparecendo naquela zona, muitos venderam as suas terras e abandonaram a produção. Os desafios são grandes, mas a Exploração Agrícola Teixeira do Batel não deixa de planear o futuro.