Há 2.000 anos cultivava-se o pistácio na Península Ibérica. Atualmente, a cultura é uma novidade promissora de bom rendimento económico. Os países da União Europeia são grandes consumidores e Portugal tem muito boas condições para esta produção.
O cultivo de pistácio é uma oportunidade para a agricultura portuguesa, assim considera José Martino, presidente da Fruystach e chief executive officer (CEO) da Espaço Visual. Do outro lado da fronteira, há já uns anos que se plantaram pomares.
“Há poucas explorações de pistácio em Portugal e a maioria é de plantações recentes que ainda não entraram em produção e muito menos chegaram à plena produção” – informa o presidente da Fruystach. Esta entidade presta assistência técnica e comercializa a produção.
O interesse espanhol despontou há cerca de 20 anos, idade dos pomares mais antigos, e nos últimos 15 anos a área passou de 1.000 hectares para 5.000. Só na Andaluzia, cuja dimensão se aproxima da de Portugal continental (87.268 quilómetros quadrados) está um quinto das plantações.
A produção europeia não chega para as encomendas dos parceiros da União Europeia. Até Espanha tem de importar. Além do mais, o pistácio é um fruto com bom preço. José Martino refere que o rendimento líquido, ao alcançar a produção plena, atinge 7.500 euros por hectare.
O esforço para o aumento da produção, realizado pela Frystach, visa os países da União Europeia. O preço tem estado estável, mas com tendência para aumentar, informa o responsável.
O empresário refere como localização ideal “em terrenos da região Interior de Portugal, com Invernos muito frios, verões muito quentes, humidade relativa do ar igual ou inferior a 50%, baixas precipitações nos meses de abril, maio e setembro, sem problemas de geadas primaveris muito tardias, terrenos de regadio, solos bem drenados com pH entre 5,5 e 7,5”.
Olhando para um mapa percebe-se a vastidão das áreas com potencial. “As melhores regiões, do ponto de vista macro, estão nos distritos de Bragança, Vila Real, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja”, salienta José Martino.
Cultivo sem complicações
O pistácio é uma cultura permanente e de ar livre, cuja árvore “precisa de que precisa de ser formada no sistema de condução em vaso para posteriormente entrar em produção e passados alguns anos chegar à plena produção”, explica o empresário. Cada árvore tem um tempo de vida de, pelo menos, 50 anos.
Em termos de trabalhos, a planta necessita de “poda de inverno, tratamento da lenha de poda, controlo de infestantes na linha e na entrelinha, apoio á polinização (tem plantas fêmeas e machos, a polinização é realizada pelo vento, ou seja polinização denominada anemófila), poda verde, irrigação, fertilização, controlo de carências nutricionais e pragas e doenças, colheita”, adianta o mesmo responsável.
“É uma cultura fácil, menos trabalhosa, embora semelhante ao amendoal e olival (utiliza a mesma estrutura de mecanização para a colheita)”. A maquinaria é idêntica às utilizadas nos amendoais e olivais.
Dina Fernandes, que vai agora começar com cinco hectares, em Idanha-a-Nova, pensa que irá cultivar até 20 hectares. Quanto a dúvidas, a de “saber qual a variedade mais adequada às condições de solo e clima da minha exploração, por outro lado a determinação da dotação de rega que otimizará a produtividade” – esclarece a agricultora.
As cultivares mais apropriadas não variam, “são as mesmas dos restantes países, sobretudo as mais tradicionais e prestigiadas bem como as resultantes de programas de melhoramento genético” – adianta o responsável da Frystach.
Quanto a ameaças, o pistacheiro, quando implantado nas melhores condições de solo e clima, “não tem ataques com prejuízos económicos, decorrentes de pragas e doenças, podendo sem grandes problemas sem desenvolvida no modo de produção biológico”, explica José Martino.
Porém, o modelo económico defendido pela Espaço Visual e Frystach assenta no fornecimento de água, por sistema gota-a-gota, “bem como o sistema de fertirrigação, com dotações de rega que variam desde a rega deficitária até altas dotações (acima de 6.000 metros cúbicos por hectare num ano) sendo que em média serão necessários 3.000 metros cúbicos”, informa o mesmo responsável.
Quanto a custos, a variação é grande, podendo ir de 15.000 euros até 32.000 euros, “conforme a necessidade de captação, armazenamento e distribuição da água, melhoramentos fundiários, armazéns, estrutura de mecanização, etc.” , informa José Martino.
Dina Fernandes explora cinco hectares em Idanha-a-Nova. Iniciou-se como agricultora há cerca de um ano e meio e, após pesquisas e visitas a explorações, em Portugal e no estrangeiro, decidiu-se pelos pistácios. Tem candidatura de jovem agricultora e o investimento começará no imediato , conta a agricultora.
A escolha de Dina Fernandes baseou-se na clareza dos números. “A cultura dos pistácios apresenta alta rentabilidade decorrente de margem bruta elevada (superior a 12.000 euros por hectare) e a grande longevidade da planta (superior a 50 anos, baixa incidência de pragas e doenças). Mercado internacional com procura por parte da união europeia e da China. Recentemente apareceu na comunicação social agrícola a opinião de um perito espanhol que indicava serem necessários mais 120.000 hectares para suprir a procura nos países da União Europeia”.
O rendimento por hectare rondará os 18.000 euros, sendo que Frystach aconselha o plantio acima de dez hectares. “Pode começar-se a atividade com três a cinco hectares, sendo que a longo prazo deverá caminhar para os 20 a 25 hectares”.
Em termos de armazenamento, após o descasque – que acontece no mesmo dia da apanha e secagem, deve ocorrer entre 24 horas e 48 horas após a colheita – o pistácio tem de ser guardado em local seco e arejado.
O exemplo espanhol
O cultivo de pistaceira nas regiões de Castela-La Mancha e Andaluzia continua a aumentar, somando, em termos nacionais, cerca de 6.000 hectares. O preço na produção, em 2014, foi de cinco euros por quilograma, de acordo dados oficiais – acima do verificado no olival, cereais, amendoal e vinha.
Portugal está a começar e Espanha, com uns anos de avanço, ainda está muito longe dos países tradicionais. O milhão de toneladas não chega para a procura interna, sendo importadas 12.000 toneladas.
Os dados da FAO, departamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, variam anualmente e não estão atualizados, reportando-se a antes da guerra civil na Síria. Em 2011, o Irão foi o maior produtor (300.000 toneladas), seguido dos Estados Unidos (127.000), Turquia (40.000), Síria (39.000), China (26.000), Grécia (9.000), Itália (3.000), Afeganistão (3.000) e Tunísia (1.500). Sabe-se que tem havido investimento na Califórnia, China e Itália.
Além do uso alimentar, como fruto ou integrando outros alimentos, o pistácio é também utilizado em cosmética. A casca pode funcionar como biocombustível.
Apesar de ser uma oportunidade económica recente, o cultivo do pistácio teve importância na Península Ibérica, onde chegou por via dos Romanos. Durante a ocupação muçulmana, o pistacheiro conheceu desenvolvimento, sendo uma importante fonte alimentar. Após a Idade Média, foi sendo substituído, sobretudo, pelo olival e por cereais.
Artigo publicado na edição de dezembro de 2015/janeiro de 2016 da revista VIDA RURAL