A direção da Confederação Nacional de Agricultores (CNA) alertou para o “enorme aumento” dos custos dos fatores de produção, de transformação e comercialização, que tem levado à degradação dos rendimentos dos agricultores.
“Este agravamento, com a subida brutal do preço dos combustíveis, da eletricidade e também dos fertilizantes e da alimentação animal, tem efeitos diretos na competitividade do setor e impactos desastrosos no rendimento dos agricultores que já antes era de cerca de metade do rendimento dos demais cidadãos”, nota a CNA, em comunicado.
A entidade considera que tal poderá forçar mais agricultores a reduzir ou a abandonar a produção, fazendo aumentar a dependência alimentar do país em produtos essenciais para a população, tais como os cereais.
A Direção da CNA receia que a situação possa ter consequências nos preços ao consumidor. No entanto frisa que possíveis aumentos podem não vir a compensar os agricultores, “que continuam quase a ter que pagar para produzir”. A CNA recorda que, em média, o valor ao longo da cadeia de abastecimento agroalimentar distribui-se da seguinte maneira: por cada 100 € pagos pelo consumidor, 50 € vão para a distribuição, 30 € correspondem à transformação e apenas 20 € vão para agricultor (e destes 75% eram custos de produção)1

No que respeita aos combustíveis, a CNA apela que o Governo adote medidas para minimizar os efeitos na produção, por exemplo, através do aumento do desconto nos impostos em vigor para o gasóleo agrícola.
A entidade constata, ainda, que na proposta de Orçamento do Estado para 2022 não está inscrita a verba necessária para a concretização da medida da “Eletricidade Verde” aprovada pela Assembleia da República.
A CNA mantém também a exigência da necessidade de implementação de medidas de regulação do mercado, que proíbam, por exemplo, que se pague aos agricultores pelos seus produtos abaixo do custo de produção, e que regulem a especulação com o preço dos alimentos e dos fatores de produção.
[1] Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral, CULTIVAR: Cadernos de Análise e Prospectiva n.º 3 (Lisboa: GPP, Março de 2016)