O volume da produção agrícola registou um crescimento anual de 2,6% entre 2012 e 2022. É a conclusão do estudo “A economia da agricultura portuguesa nos últimos 60 anos”, realizado por Francisco Avillez, professor catedrático emérito do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e coordenador científico da Agro.ges.
De acordo com o comunicado de imprensa, a agricultura portuguesa registou também um outro momento de evolução na década a seguir à adesão à então CEE, atual União Europeia (UE), em que o volume da produção agrícola cresceu mais de 1,3% ao ano.
Outra conclusão do estudo é o facto de a evolução do valor da produção agrícola a preços nominais ter sido favorável nas últimas quatro décadas, com especial relevo para o crescimento observado na década após a adesão à CEE.
De acordo com a análise, o volume da produção agrícola, medido pelo valor da produção a preços constantes, “pouco se alterou nas últimas seis décadas (mais 0,61%/ano)”. Já nas duas primeiras décadas do período em análise, o volume da produção animal “cresceu significativamente” (mais 3,5%/ano), tendo se verificado o oposto em relação ao volume da produção vegetal (menos 5%/ano).
Segundo a investigação, a evolução desde o triénio “1982” do volume da produção do conjunto dos principais produtos vegetais permitiu ao professor responsável pelo estudo concluir “que foi bastante favorável na última década” (mais 3,3%/ano) do que nas três décadas anteriores (mais 0,7%/ano).
Ainda no que diz respeito à evolução do volume da produção dos produtos animais, a principal conclusão é que “apesar de ter melhorado na última década, o seu desempenho nas últimas quatro décadas foi bastante medíocre (mais 0,2%/ano)”.
As aves de capoeiras tiveram o desempenho mais positivo no que respeita à produção de carnes (mais 2,5%/ano), quer à produção de ovos (mais 1,65%/ano), tendo a evolução mais negativa cabido às carnes de bovinos (menos 4%/ano), que foi particularmente negativa durante as três primeiras décadas (menos 5%/ano).
De acordo com o relatório, as “grandes perdas” de área cultivada anualmente ao longo do período em análise (menos 39%) ocorreram principalmente nos últimos trinta anos (menos 1,5%/ano), em consequência de “uma enorme redução” relativamente às áreas ocupadas por cereais (menos 4,4%/ano).
Estas perdas “só muito parcialmente” foram compensadas pelos aumentos das áreas dos pomares (mais 2,6%/ano), sobretudo frutos secos, e dos olivais (mais 1%/ano) ocorridos na última década. Já a área ocupada pelas vinhas sofreu uma redução de menos 1,4% ao ano nas últimas três décadas.
No que toca ao volume de mão-de-obra agrícola, registou-se um decréscimo “muito significativo” nas últimas seis décadas, tendo-se reduzido de 1750 milhares de UTA – unidade de trabalho ano médio por exploração agrícola – em 1962 para 223 milhares de UTA em 2022.
Relativamente à evolução dos bens de consumo intermédio mais diretamente produtivos (sementes e plantas, adubos e corretivos, fitofármacos, energia e lubrificantes e alimentos para animais) foi “ligeiramente positiva no seu conjunto” nas últimas quatro décadas (mais 0,9%) com crescimentos mais significativos na década após a adesão à CEE (mais 1,9%/ano) e na última década (mais 1,4%/ano).
A investigação também concluiu que os dados disponíveis para análise mostraram que as produtividades da terra e do trabalho tiveram uma evolução “muito positiva” nas últimas seis décadas, com especial relevo para as crescentes médias anuais ocorridas na década imediatamente após a adesão à CEE e na última década.
O estudo foi apresentado na iniciativa Conversas ANPROMIS, organizada pela Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), que decorreu no passado dia 11 de julho, em Lisboa.
Após a apresentação do estudo, seguiu-se uma mesa-redonda com a presença de personalidades relevantes para o setor, nomeadamente Fernando Gomes da Silva, ministro da agricultura entre 1995-1998, Fernando Oliveira Baptista, ministro da agricultura em 1975, Joaquim Pedro Torres, empresário agrícola e Pedro Brinca, da NOVA SBE.
Os intervenientes destacaram a evolução que a agricultura nacional tem tido nos últimos anos, demonstrando que “mesmo com ciclos políticos menos favoráveis” este setor soube “reagir e demonstrar a sua forte dinâmica”.