Quando olhamos para o que vai acontecendo ao nível das práticas agrícolas mais sustentáveis, uma coisa parece óbvia: a agricultura convencional vai aproximar-se da biológica e a biológica vai aproximar-se da convencional. Vão encontrar-se à esquina (não acredito que toquem concertina, mas…) e ambas beneficiarão do conhecimento acumulado dos diferentes modos de produção.
A I&D está a trabalhar depressa para encontrar soluções cada vez mais interessantes para os novos desafios. Ainda assim, o que temos disponível na atualidade não é suficiente para dar a necessária segurança aos agricultores. Até porque é preciso não confundir práticas biológicas sustentáveis com cadernos de encargo de certificações “bio”. São coisas diferentes, com diferentes resultados e impactos no ecossistema. Acredito que a agricultura dita convencional que se pratica na maioria das explorações agrícolas profissionais e capacitadas está num caminho muito acelerado e sustentado para práticas regenerativas. E esta é a palavra que gosto de usar. Regenerar é melhorar, restaurar, corrigir, reabilitar. Isso faz-se porque se aprendeu com os erros, e este é o melhor ponto de partida. Regenerar com base no conhecimento, na ciência, na experiência, na vocação dos solos, na necessidade de alimentar. Regenerar com bom senso e sem seguir cartilhas de especificações que não medem o todo, só a parte. Publicamos nesta edição um artigo coordenado pelo viticultor alemão Jorge Boehm, onde podemos ler, e passo a citar: “A aplicação de cobre e enxofre na Alemanha, que até agora não foi considerada biologicamente relevante, levou a resultados de investigação que mostram que os danos à fauna e ao solo são maiores do que com os atuais fungicidas testados ambientalmente”. Falo frequentemente com vários fruticultores na região Oeste de Portugal que me dizem o mesmo. Ou seja, é preciso desfazer mitos e ter muito mais conhecimento do aquele que dispomos atualmente para acertar na fórmula certa. E não será a mesma para todos. É preciso é ter a capacidade de questionar, experimentar, dar dois passos à frente e outro para trás, se necessário, mas trabalhar com certezas e não com teorias. Os agricultores convencionais têm de falar mais e partilhar experiências com os produtores biológicos e estes terão de fazer um percurso semelhante. Têm muito a aprender entre si e é na partilha e no despir de preconceitos que se avança para consolidar práticas. A convergência de modos de produção é o futuro. E o futuro é já no próximo segundo, por isso, não há tempo a perder em teimosias, radicalismos e ideias feitas. Porque, no final dia, todos queremos garantir que teremos condições para continuar a agricultar. Porque, como diz um viticultor francês, “não queremos vinhas em Marte”.
#agricultarcomorgulho

“É preciso não confundir práticas biológicas sustentáveis com cadernos de encargo de certificações ‘bio’. São coisas diferentes, com diferentes resultados e impactos no ecossistema.”