A questão do carbono está completamente na ordem do dia. Depois da publicação do enquadramento nacional do Mercado Voluntário de Carbono no início do ano, o Parlamento Europeu aprovou no passado mês de abril o quadro de certificação das remoções do carbono, que inclui a agricultura de carbono, a chamada carbon farming.
E se tudo isto ainda parece um pouco nubloso (dada a falta de metodologias concretas no mercado voluntário, e a novidade que constitui a legislação das remoções), o tema é importante, merece reflexão e aprofundamento por parte dos agricultores e pode, sim, ser uma futura oportunidade de negócio. No fundo, quem remove e armazena carbono, deve ter incentivos para o fazer e isso tem de estar regulado para evitar o chamado greenwashing. É certo que nada disto terá execução prática num curto prazo. Mas é este hiato temporal que vai permitir aos agentes económicos a necessária preparação para este cenário. E aqui fazer uma ressalva que o carbono é uma parte de um todo que requer um trabalho profundo que ainda precisa de amadurecer.
“E, hoje, vemos com orgulho que muitos das nossas explorações são consideradas ‘inspiradoras’ para os especialistas europeus. Mas a esta sustentabilidade é preciso adicionar rendimento para que tudo isto faça sentido.”
A agricultura está em transição acelerada para modelos sustentáveis, disso ninguém duvida. A forma como se usam atualmente os fatores de produção mudou radicalmente, muito alavancada pela tecnologia de precisão. Mas também a forma como se trabalha o ativo solo e se olha para o ecossistema e para a biodiversidade é substancialmente diferente. A gestão de explorações agrícolas de alta densidade é hoje um manual de boas práticas que vai acumulando experiência, conhecimento e partilha e, com isso, solidez naquilo que são as práticas de referência. Estamos longe de ter tudo feito ou de sermos perfeitos. Mas estamos claramente num caminho sem volta em que a agricultura profissional e capacitada apostou. A sustentabilidade começou por ser uma oportunidade de negócio quando se pensava em termos puramente económicos para beneficiar de medidas agroambientais. O mérito deste estímulo foi experienciar práticas que acabaram por ser acomodadas pela maioria dos agricultores, com comprovados benefícios agronómicos. A partir daí entrámos na pressão das metas climáticas que levaram o setor a uma reflexão frutífera. E, hoje, vemos com orgulho que muitos das nossas explorações são consideradas “inspiradoras” para os especialistas europeus. Mas a esta sustentabilidade é preciso adicionar rendimento para que tudo isto faça sentido. Por isso, agarrar as oportunidades que um futuro mercado de carbono possa oferecer faz todo o sentido.
#agricultarcomorgulho