O projeto da Associação Europeia para Proteção das Culturas (ECPA) pretende alargar as boas práticas na gestão dos resíduos de pesticidas na produção hortofrutícola para reduzir os níveis e conseguir mudar a perceção do consumidor europeu sobre os resíduos de pesticidas que chegam ao seu prato.
Já hoje esta perceção está, claramente, desfasada dos níveis reais de resíduos de pesticidas nos alimentos, porque, de acordo com os dados da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), estes estão maioritariamente (97,5% em 2011) abaixo dos limites estabelecidos. Daí Monika Roth, especialista da BASF que está a coordenar este projeto para a ECPA, afirmar que “os alimentos na Europa nunca foram tão seguros”. Mesmo assim, o objetivo é reduzir ainda mais estes níveis, transmitindo depois os resultados aos consumidores e levando-os a confiarem cada vez mais na produção europeia de frutas e legumes.
Além disso, uma vez que muitos produtos hortofrutícolas consumidos na Europa são importados de países terceiros, onde os níveis de resíduos de pesticidas encontrados (também testados pela EFSA) são, normalmente, mais elevados que na União Europeia (UE), o projeto abrange também alguns destes produtores, a começar pela Turquia, tendo já sido lançada uma ação de divulgação de boas práticas na produção em estufa, na região da Anatólia.
Ampliar as boas práticas
O projeto visa apoiar a redução dos resíduos através da promoção dos princípios da Proteção Integrada (obrigatória na UE desde janeiro de 2014) e de boas práticas agrícolas. “O projeto centra-se, para já, na produção de tomate e pimento e escolhemos Almería porque é o centro de produção de tomate em Espanha”, explicou Monika Roth, adiantando que “Espanha é o país piloto e o segundo país é a Turquia, sendo que a ideia é transferir boas práticas para outros países”.
A líder do projeto afirmou que Espanha, nomeadamente Almería, foi escolhida porque os valores acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR) tem vindo constantemente a diminuir. Já a escolha da Turquia deveu-se ao facto de ser um país de onde a UE importa muitas toneladas de produtos frescos, de terem sido encontrados níveis acima do LMR e de ter um clima e condições de produção idênticas aos países mediterrânicos, como Espanha.

Ao apresentar o trabalho desenvolvido pela estação experimental de Las Palmerillas, da Fundação Cajamar, a diretora, Maria Cruz Escudero, salientou que Almería, embora tenha apenas 3,36% da área agrícola da Andaluzia, em termos mundiais está no 22º lugar na produção de tomate, na 7ª posição na produção de pimento e ocupa o 14º lugar na produção de pepino.
No âmbito do projeto, desenvolveram-se práticas, em conjunto com a estação de Las Palmerillas (em El Ejido), que os agricultores estão a aplicar e são depois confirmadas pelos testes laboratoriais que analisam os resíduos presentes nos hortofrutícolas.
Uma das técnicas mais utilizadas é o controlo biológico das pragas, recorrendo, principalmente, a insetos como o Nesidiocoris, no tomate, disse um dos técnicos da estação durante a visita às estufas experimentais. Ou então, para combater a mosca branca, usa-se uma solução de sabão diluído que é pincelada na parte de baixo das folhas, para agarrar as moscas.
Outro dos objetivos do projeto é reduzir a exposição dos trabalhadores das estufas aos pesticidas, pelo estão também a desenvolver-se técnicas simples de aplicação dos pesticidas, além de generalizar o uso de equipamentos de proteção.
Carlos Palomar, diretor-geral da Associação Empresarial espanhola para a Proteção das Plantas (AEPLA), salientou que há três conceitos-base: saúde (do consumidor e dos trabalhadores), monitorização e ação, assim “o uso de pesticidas é, cada vez mais, reativo, ou seja, quando não há mesmo outra alternativa”.
Esta visita foi organizada pela ECPA/AEPLA e apoiada pelas associações de vários países europeus – no caso de Portugal, a viagem teve o apoio e acompanhamento da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas (ANIPLA).
Veja a reportagem completa na edição de dezembro/janeiro da revista VIDA RURAL.