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Culturas

Alho é alternativa rentável

alho destaque Vida Rural
O cultivo de alho avança, alavancado por preços favoráveis. A concorrência vem de Espanha e da China, embora a produção deste gigante asiático seja de má qualidade. Para já, a área é pequena, mas é para crescer.

O cultivo do alho tem-se mostrado economicamente interessante para os agricultores. O entreposto comercial e agrícola Agromais tem vindo a aconselhar os associados acerca das vantagens. Porém, convém não ter uma produção exponencial.

A sementeira de alho ocorre em outubro e novembro, sendo colhida desde finais de maio até junho. As sementes, os dentes de alho, são provenientes dos associados, baseadas nas cabeças das suas colheitas, conta Bruno Estêvão, o técnico da Agromais responsável pelo apoio.

O exemplo vem de Espanha, país de referência deste produto, onde os agricultores guardam também as suas sementes. Os dentes de alho permitem várias gerações, cada uma classificada por ‘R’. Ou seja, a R1 respeita à primeira geração e a R4 corresponde à quarta. Do outro lado da fronteira há empresas que se dedicam inteiramente à atividade de produzir sementes.

Embora o agricultor possa guardar sementes, continuando as gerações, a R1 é a mais produtiva. Assim, por cada ano o que fica para ser lançado à terra perde eficiência. As sementes vêm igualmente de Espanha. A cultivar escolhida é a garpek.

Se o exemplo vem de Espanha, Portugal quer ir mais longe. A Agromais pretende mais vantagens para quem tenciona dedicar-se à actividade. Por lá, apenas a colheita é mecanizada. O recurso a alfaias permite, para além da apanha, que se façam molhos.

Neste domínio, a principal dificuldade dos trabalhos é de desgramar, pelo que a Agromais acrescenta apoio para que o trabalho seja mecânico e, desta forma, tornar a cultura mais apetecível para os agricultores, adianta Bruno Estêvão.

“Com o preço da China não se consegue competir e mesmo Espanha tem custos de produção mais baixos do que Portugal. Para isso, temos mesmo que ter qualidade e puxar pela origem.”

Assim, foram adquiridos um desgramador que separa os dentes de alho, um plantador de quatro linhas e uma arrancadora-colhedora.

Depois de apanhados, os dentes de alho ficam entre uma e duas semanas a secar. “Aqui a preparação final é feita no armazém”, adianta Bruno Estêvão. Desta forma, os agricultores têm benefícios económicos.

Atualmente, os agricultores associados da Agromais encontram-se na Golegã e junto à barragem de Alqueva. Mas não são muitos. Apenas um no Ribatejo e dois no Alentejo. No conjunto estão cultivados cerca de 11 hectares – informa Bruno Estêvão.

Bruno Estêvão revela ainda que têm existido pedidos de agricultores para se dedicarem a este cultivo. “Não queremos dar um passo maior do que a perna”. É crítico o fator de controlo da produção, como o das infestantes de final de ciclo, como ainda as sementes e a comercialização, que se pretende conseguir escoar todos os dias.

Bruno Estêvão conta que perto de Alqueva o encascamento é melhor, com mais casca e mais bonitos. No entanto, há uma desvantagem. A apanha é mais difícil do que na Golegã. Com terra e casca a produtividade situa-se entre as 17 e as 18 toneladas por hectare. Em termos líquidos, os agricultores têm conseguido apanhar entre as 12 e as 14 toneladas – afiança Bruno Estêvão.

Quanto a necessidades de água não têm existido problemas, uma vez que se trata de uma cultura de inverno. O consumo situa-se entre 3.500 e os 4.000 metros cúbicos por hectare. Portanto, a rega é sempre necessária. Este ano foi atípico, conta Bruno Estêvão. A pluviosidade foi metade da média.

A Herdade do Pinheiro é uma das empresas que tem cultivado alho. Pedro Bicó, o agricultor desta propriedade alentejana, está interessado em aumentar a área semeada com alho. Mas na área onde estão os alhos irá cultivar milho.

A cultura do alho é considerada como tendo um ciclo longo têm feito rotação. Pedro Bicó deixou a terra com cultura melhoradora do solo (grão-de-bico), em vez de ter optado pelo pousio. Este agricultor conta que o milho é a cultura que se pode comparar em termos de necessidades de água.

Quanto a ameaças, não existem grandes obstáculos. O maior problema é o da ferrugem – um fungo. As infestantes são “um pouco de tudo”, funcho e corriola.

A Agromais tem estado a controlar a expansão da produção nacional. A justificação é o mercado: “Portugal é uma gota e Espanha manda no preço”. Outra ameaça é a China, “a maior produtora de quase tudo e também de alho”, conta o mesmo técnico.

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“Com o preço da China não se consegue competir e mesmo Espanha tem custos de produção mais baixos do que em Portugal. Por isso, temos mesmo de ter qualidade e puxar pela origem” – esclarece o técnico.

Bruno Estêvão perspectiva que este ano o preço seja melhor do que o conseguido em 2015, “porque as produções são inferiores”. Nesta cultura, o valor tem grande oscilação entre os 60 cêntimos e os dois euros por quilo, sendo ambos relativo a limpo e preparado.

Em termos totais esperam-se entre 1.500 e 2.000 toneladas, em bruto.

A Agromais vende para o Continente e para a Makro, além de vários intermediários. Os alhos seguem a granel e embalados. Bruno Estêvão adianta que se pretende avançar para aumento de valor acrescentado e está por isso em ponderação a pelagem.

Retrato da Herdade do Pinheiro

A adesão de Pedro Bicó a esta cultura é um pouco a continuação de outra que já praticava – a de cebola. Em 2015 avançou com dois hectares de alho e tenciona este ano aumentar para quatro hectares.

“Só faço culturas com escoamento garantido. Não tenho vida para andar a vender” – informa o agricultor. Há ainda o atrativo da mecanização desta lavoura. Neste ano, a perspetiva de Pedro Bicó é alcançar entre as 15 e as 17 toneladas de alho limpo.

A Herdade do Pinheiro pertenceu a Silvestre Ferreira e a propriedade estendia-se ao Vale da Rosa – empresa de referência na produção de uva de mesa – e contígua. Após um processo de partilhas houve uma separação.

Em vida de Silvestre Ferreira cultivavam-se uvas de vinho e de mesa, extraía-se cortiça e produziam-se gado bovino de carne, vacas de leite, ovelhas e porcos. Atualmente, a Herdade do Pinheiro tem 500 hectares, dos quais 70 têm exploração intensiva.

Além do alho e da cebola (20 hectares) e de brócolos (14), cultivam-se ainda pimento (seis), milho (150) abóbora (seis), olival (seis) e vinha vínica (110 hectares), com adega própria. O sistema de rega é variado: sete pivôs, gota-a-gota e aspersão.

Na propriedade o olival é intensivo, sendo as cultivares arbequina, cobrançosa e picual. Pedro Bicó conta que submeteu um projeto, no âmbito do programa PDR2020, para alargar área com oliveiras, no total de mais 70 hectares. A arbequina é uma certeza, mais poderão acrescentar-se outras variedades.

A gama de vinhos da Herdade do Pinheiro é composta por cinco marcas e de azeite há apenas uma. Brancos (duas referências), rosé (uva) e tintos (três). Hoje exporta para o Brasil, China e diversos países da União Europeia, onde o objetivo é chegar aos 50%.

As videiras são sobretudo tintas, pois apenas 25 hectares estão dedicados a castas brancas. A produção está agora nos 600.000 litros. A vontade é a de alcançar, no espaço de dois ou três anos, entre um milhão e 1.200 milhões de litros. Além do engarrafado vendem-se em bag in box e a granel (mais de 50%).

As variedades de brancas são as antão vaz, arinto, fernão pires e perrum. As castas tintas são alicante bouschet, aragonês, cabernet sauvignon, castelão, syrah, touriga franca, touriga nacional e trincadeira.

 

Produtor Pedro Bicó- Herdade do Pinheiro
Área de alho 2 ha em 2015, 4 em 2016
Necessidades hídricas 3.500 a 4.000 m3/ha
Produtividade 17 ton/ha em bruto (com terra e casca) e 13 ton/ha limpo
Escoamento Agromais
Preços Entre 0.60 e 2€/quilo (limpo e preparado)
Área total contratada pela Agromais 11 hectares (Ribatejo e Alentejo)
Produção total Entre 1500 e 2.000 toneladas
Clientes Continente, Makro e intermediários

Artigo publicação na edição de julho/agosto de 2016 da revista VIDA RURAL