Mais recente e com incidência mais a norte, a Vespa das galhas do Castanheiro foi detetada em Portugal no verão de 2014, segundo o Plano de Ação Nacional para Controlo do inseto Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu (Vespa das galhas do castanheiro). Mas o presidente do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS), do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Albino António Bento, assegura que “tanto no Minho como na região de Trancoso, as mais afetadas, a incidência do ataque indica que a praga já estará instalada há dois ou três anos”.
O Plano de Ação salienta que “o inseto D. kuriphilus é atualmente considerada uma das pragas mais prejudiciais para os castanheiros em todo o mundo e que na Europa, particularmente na região mediterrânica, pode constituir uma séria ameaça à sustentabilidade dos soutos e castinçais”.
O CNCFS agrupa instituições académicas de todo o País e Albino Bento refere que “iremos envolver todos os nossos associados na investigação da Vespa das galhas do Castanheiro”, porque embora os focos mais preocupantes sejam no Minho e em Trancoso, a praga também já foi detetada na Madeira, uma vez que atinge igualmente as árvores para produção de madeira”.
A produção de castanha está concentrada nas regiões de Trás-Os-Montes (85%), Minho, Beira Interior e Alto Alentejo, mas os castanheiros para madeira estendem-se também às regiões de Aveiro, Arouca e Coimbra.
Albino Bento frisa que “a ação das entidades oficiais, da UTAD e das Organizações de Produtores, nomeadamente a RefCast, foi muito rápida [o Plano de Ação foi lançado no verão de 2014 logo após a deteção dos primeiros focos], com rápidas ações de informação e divulgação junto dos agricultores, em colaboração com as Juntas de Freguesia que sabiam quais os soutos plantados no ano, que são os mais afetados, e depois de prospeção no terreno, para identificar árvores afetadas”.
O presidente do CNCFS explica à VIDA RURAL que “o combate só é possível em plantações do próprio ano ou do ano anterior, no início da primavera, recolhendo as galhas com a praga, colocando-as em sacos e destruindo-as, antes dos adultos emergirem”.
A Vespa das galhas do Castanheiro tem uma fecundidade muito elevada, 80 a 100 posturas, e não há produtos homologados, pelo que o combate é muito difícil, “para as larvas é mesmo impossível porque as galhas não têm tecido vascular e para os adultos a luta química teria de ser aplicada por períodos muito longos e a sua eficácia tem sido muito reduzida noutros países afetados, como Itália e França”.

Mas há luta biológica, tendo sido feitas já algumas largadas este ano do parasitoide Torymus Sinensis, em Portugal. “E em Itália, por exemplo, tem-se tido bastante sucesso, mas atenção que os resultados só começam a ser evidentes ao fim de cinco ou seis anos, por isso tem de ser uma luta continuada no tempo”, afirma Albino Bento, salientando que “o parasitoide adapta-se à região e ao ciclo da praga, com taxas de sucesso interessantes, mas é necessário que a população do parasitoide cresça o suficiente”, daí ser preciso algum tempo.
Parasitoides autóctones surpreendem
O responsável do CNCFS adianta ainda que na Natureza também há fatores que nos podem ajudar, no caso de Portugal, “temos alguns parasitoides autóctones, na região do Minho, por exemplo, que têm tido um comportamento muito acima do que esperava, bem melhor do que a literatura dos outros países indicava”. Aliás, Albino Bento frisa que a expressão da praga no Minho este ano não cresceu tanto como se esperaria, devido, em parte, a estes parasitoides. “Estamos a falar de parasitoides que já existiam e parasitavam outras espécies e começaram também a parasitar o castanheiro, quando surgiu alimento”, mas o também diretor da Escola Superior Agrária de Bragança, salienta que “como a região de Trancoso é mais quente e seca, temo que a ajuda da Natureza não seja tão grande” e acrescenta: “e mesmo no Minho, embora a ação dos autóctones esteja a ser melhor que o esperado, não vai ser suficiente”.
A praga chegou a Portugal devido, principalmente, à importação de material vegetal infetado, pelo que Albino Bento (como aliás todos os especialistas e técnicos com quem falámos referiram em relação a todas as pragas e doenças invasoras) frisa a importância de encontrar material vegetal com garantias fitossanitárias.
Na primavera de 2016 (entra abril e meados de maio, no máximo), o professor alerta que é fundamental voltar a fazer uma prospeção intensiva em plantações deste ano ou que tenham sido feitas em janeiro. “É necessário verificar duas vezes todos os castanheiros pois podem ter só uma ou duas vespas, ver se têm galhas, que é o principal sinal de ataque, retirá-las, coloca-las em sacos e destruí-las, bem como comunicar à sua associação ou à direção-geral”.
No caso de árvores adultas infetadas, é necessário acompanhar a evolução da praga e apostar na luta biológica.