Fomos à procura dos melões mais doces e… encontrámo-los em Pias. Germano Carvalho explica-nos que esta variedade, que tem o nome da terra onde nasceu – Pias – “é hoje líder no País e foi desenvolvida por nós, tem em média 14 de grau brix, bom calibre, polpa semi-rija e alguma conservação”. O agricultor produz também melão verde, melancia e meloa, além de olival, amendoal, cebola para indústria e forragens.
Alqueva mudou-lhe a vida: “Tinha ovelhas mas acabei por desistir e dedicar-me só à agricultura. A garantia de água é fantástica e a mudança que provocou aqui na região é espetacular”, diz Germano Carvalho à VIDA RURAL, que gere em conjunto com o sogro a Sociedade João e Germano, Lda., além de outra empresa em nome individual “para o olival e amendoal”. O produtor veio de Sines com 18 anos e estava a tirar engenharia agropecuária em Beja quando o pai faleceu e teve de agarrar o negócio da família.
O Monte dos Casqueiros – que, como o nome indica, “antigamente só produzia trigo de sequeiro” – é hoje o centro dos 140 hectares que o jovem cultiva na zona de Pias, entre próprios e alugados. Mas, alerta, “a cultura do melão precisa muito de rotação de terras e temos cada vez mais dificuldade porque está tudo ocupado com olival superintensivo”.
O melão (branco, amarelo e verde) ocupa 35 hectares, a melancia dois e a meloa (Gália e Cantalupe) apenas um hectare. A variedade Pias que “é hoje líder no País e foi desenvolvida por nós, tem em média 14 de grau brix, bom calibre, polpa semi-rija e alguma conservação”, conta Germano Carvalho, explicando que “desde há seis que trabalho em parceria com a Semillas Fitó, que é e única empresa que investiga e faz melhoramento de Melão Branco, e a Pias foi desenvolvida num ensaio com mais de 100 variedades”.
O melão era uma cultura tradicionalmente feita no Ribatejo mas hoje, garante o produtor: “Há mais melão no Alentejo que no Ribatejo”.
Frio prejudicou primeiro campo
O agricultor explica-nos que o melão gosta de terrenos de barro, mas também temos em alguns solos calcários. A cultura foi instalada com adubo, fita de rega e plástico de um metro, com quatro fileiras de plantas (que depois têm de tirar após a colheita).
Germano Carvalho diz que devido às fortes chuvas de março e abril “a instalação da cultura atrasou cerca de 15 dias, mas estamos agora [entrevista realizada no final de agosto] a conseguir recuperar um pouco com o calor de agosto, embora no início da colheita (a 20 de julho, com cerca de um mês de atraso) o frio de noite e a humidade durante as manhãs tenha estragado muita fruta no primeiro campo, com míldio e antracnose, porque habitualmente nesta altura temos temperaturas acima dos 30 graus e este ano em julho andou sempre apenas nos 20 e tal e com uma humidade relativa bastante elevada”.
O produtor refere que a equipa de colaboradores que anda a colher os melões “é composta por metade portugueses e outra metade romenos, alguns que já sabem trabalhar a cultura e outros que temos de ensinar”. Trabalham das 06h30 às 14h30: uma equipa corta os melões, três ou quatro tratores recolhem-nos e outra equipa carrega os camiões. “A média é de 40/50 ton/dia mas nesta altura de pico da campanha chegamos a ter dias de carregar 80 toneladas”, diz o produtor, referindo que “no entanto a produção média por hectare nos últimos anos tem sido de 35/40 toneladas, mas este ano deve ficar abaixo das 30 toneladas”. Já a produção da melancia situou-se entre as 55 e as 60 ton/ha e a meloa nas 40ton/ha.
Germano Carvalho vende diretamente a distribuidores que levam o seu melão a todo o País e diz-nos que a conta de cultura do melão “anda entre os 5.000 e os 5.500€/ha”, mas salienta que “é uma cultura muito irregular”. E adianta que este ano, devido às chuvas, as mondas e aplicações de herbicidas foram mais do que o habitual.
Trabalho todo o ano
Os colaboradores são cerca de 20 e os portugueses mantêm-se ao longo do ano porque “vamos sempre tendo trabalho de podas instalação de cultura e plantações, nossas e de outros agricultores porque a sociedade que tenho com o meu sogro presta serviço de instalação de olival e amendoal”, refere.
A seguir à colheita do melão começa a da amêndoa no final de agosto/início de setembro, depois a azeitona, que pode ir de outubro a janeiro e em janeiro e fevereiro é tempo de podas, sendo que em dezembro e janeiro também se preparam os terrenos para o melão, cuja instalação pode ir de março a julho.
O agricultor conta-nos que tem “65 hectares de olival intensivo – com idades diferentes: 16, 12 e cinco anos – e 25 hectares de superintensivo, uma parte plantada há um ano e outra há um mês [julho] e também 10 hectares de amendoal, plantado faz agora dois anos em outubro”.
A opção pelo novo olival superintensivo tem a ver com o facto de o intensivo precisar de muita mão-de-obra enquanto no super, em sebe, quase tudo pode ser mecânico, a começar pela colheita.
Já na amêndoa preferiu apostar na plantação intensiva porque considera que “o amendoal superintensivo ainda não está suficientemente estudado, ainda há poucos anos de produção para percebermos se vale mesmo a pena”.
Olival com compassos vários
Também no olival as fortes chuvas da primavera obrigaram a um maior cuidado: “Tivemos de triturar o enrelvamento natural três vezes, em vez das habituais duas”.
Germano Carvalho afirma que “a maior parte do olival tem um compasso de 7/7, mas também tenho áreas com 8/6, 7/3,5 e 6/6 e as variedades são Galega, Cordovil e Cobrançosa. Já o superintensivo, todo da cultivar Arbequina, tem 4/1,35, ou seja 1852 árvores por hectare”.
O produtor vende o azeite, “cerca de meio milhão de quilos, quase todo Virgem Extra”, a granel para uma Organização de Produtores: “Pago a Maqui (transformação) e vendo o azeite a granel para a Azeitando que vende o nosso azeite através da POOLred, uma bolsa do mercado do azeite, conseguindo assim uma maior valorização”. As principais doenças que têm afetado os seus olivais são a gafa e o olho de pavão.
Quanto ao amendoal, a variedade escolhida foi a francesa Lauranne, de casca rija, com um compasso de 6/4 “numa área de terra mais fraca e com grande declive, pelo que tive de fazer socalcos e na entrelinha semeei trevos e serradelas”. E, até agora, confessa o produtor: “Tenho tido muito mais problemas do que com o olival, de fungos e doenças e há muito pouca literatura sobre esta cultura no nosso País. Também o custo tem sido superior ao do olival, em termos de podas (oito em menos de dois anos), água, adubo e tratamentos”.
A cebola de indústria que produz é para a Vegenat, em Badajoz, que corta e desidrata nos formatos que o cliente quer, fornecendo, por exemplo a McDonald’s Europa.
Germano Carvalho produz ainda trevos da pérsia para multiplicação de semente, para a Fertiprado e “faço ainda uma consociação forrageira de leguminosas e gramíneas – trevo, azevém, triticale e vícia – que corto, faço feno e vendo a produtores pecuários”.